INTRODUÇÃO
O que realmente leva ao sucesso?
Ao observar a ciência por trás do que diferencia os
extremamente bem-sucedidos, aprendemos o que
podemos fazer para sermos mais parecidos com
eles – e descobrimos, em alguns casos,
por que é bom não sermos parecidos
Dois homens morreram competindo.
A revista Outside Magazine classificou a Race Across America (RAAM) como a prova de resistência mais
difícil que existe. Os ciclistas percorrem cerca de 5 mil quilômetros em menos de 12 dias, pedalando
de San Diego até Atlantic City.
Alguns podem pensar: “Ah, é como o Tour de France.” Mas estão enganados. O Tour tem estágios. Pausas. A RAAM não para. Cada minuto que os ciclistas tiram para dormir, para descansar, para fazer qualquer outra coisa que não seja pedalar é mais um minuto que os adversários podem usar para derrotá-los. Os ciclistas dormem, em média, três horas por noite – e ainda assim a contragosto.
Após quatro dias, os melhores competidores precisam refletir sobre quando vão descansar. Como ainda estarão extremamente próximos (a uma hora uns dos outros), a decisão tem um peso enorme, pois sabem que serão ultrapassados e precisarão recuperar a posição. E, à medida que os dias passam, ficam mais e mais fracos. Não há trégua: exaustão, dores e privação de sono apenas se acumulam enquanto eles atravessam os Estados Unidos de costa a costa.
Em 2009, porém, nada disso afetou o primeiro colocado. Ele se encontrava meio dia à frente do ciclista que estava em segundo lugar. Jure Robič parecia imbatível. Já havia vencido a RAAM cinco vezes, mais do que qualquer outro competidor na história da prova, muitas vezes cruzando a linha de chegada em menos de nove dias. Em 2004, ele venceu com uma diferença de 11 horas do segundo colocado. Dá para imaginar uma competição em que os espectadores precisam esperar metade de um dia para ver a chegada do vice-campeão?
É natural especularmos sobre o que tornou Robič tão superior e bem-sucedido numa atividade tão extenuante. Seria a genética? Não. Segundo seus exames, ele tinha o tipo físico característico dos atletas de elite das provas de ultrarresistência, mas sem se diferenciar dos adversários.
Teria ele o melhor treinador? Nada disso. Seu amigo Uroč Velepec descreveu Robič como “impossível de ser treinado”.
Em um artigo para o The New York Times, Dan Coyle revelou a vantagem que Robič tinha na competição e que o tornou o maior ciclista de todos os tempos na Race Across America: Insanidade.
Não seria um exagero afirmar que ele ia ao extremo. É um modo prosaico de dizer que, quando pedalava, Robič perdia completamente o juízo.
Tornou-se paranoico; sofria colapsos nervosos e via significados misteriosos nas rachaduras das ruas por onde passava. Às vezes derrubava a bicicleta e andava de punhos cerrados e olhar fulminante em direção ao carro com membros de sua equipe que o acompanhava (cujas portas, sensatamente, estavam trancadas).
No meio de uma corrida, abandonava a bicicleta para trocar socos com… caixas de correio. Tinha alucinações; certa vez, avistou combatentes do Talibã no seu encalço, portando armas de fogo. De tão perturbada com o comportamento de Robič, sua esposa à época se trancava no trailer da equipe.
Coyle escreveu que Robič via a própria insanidade como “incômoda e embaraçosa”, mas dizia ser “impossível viver sem ela”. O mais fascinante é que essa característica de Robič não é uma vantagem atlética desconhecida.
Já na década de 1800, cientistas como Philippe Tissié e August Bier identificaram que uma mente doentia pode ajudar o atleta a ignorar a dor e levar seu corpo além dos limites da autopreservação.
Não sei quanto a vocês, mas meu orientador vocacional no ensino médio nunca me disse que alucinações, ataques a caixas de correio e insanidade eram vitais para se obter sucesso mundial em qualquer coisa.
Só me diziam para fazer o dever de casa, obedecer às regras e ser gentil.
Tudo isso suscita uma pergunta séria: o que realmente leva ao sucesso?
Este livro analisa o que traz sucesso no mundo real. E estou me referindo a sucesso na vida, não só a ganhar dinheiro. Que atitudes e comportamentos vão ajudar você a atingir seus objetivos em qualquer âmbito,
profissional ou pessoal? Muitas obras cobrem apenas uma faceta do diamante do sucesso ou apresentam teorias sem qualquer utilidade prática. Veremos o que funciona e, em seguida, revelaremos o que você pode fazer para chegar aonde quer.
O que define o sucesso para você depende, bem, de você. Trata-se de saber do que você necessita para ser feliz no trabalho e em casa. Isso não significa que o sucesso seja arbitrário. Você já conhece estratégias para alcançá-lo que têm grandes chances de funcionar (esforço regular) e outras que não têm (acordar sempre meio-dia). O problema está no enorme abismo entre uma e outra. Você com certeza ouviu falar de qualidades e táticas úteis, que não foram provadas – e talvez tenha encontrado várias exceções. É disso que vamos tratar neste livro.
Há oito anos venho analisando no meu blog, Barking up the Wrong Tree (Batendo à porta errada), o que torna uma vida bem-sucedida e entrevistando conhecedores do assunto. Encontrei respostas, muitas delas surpreendentes. Algumas parecem contraditórias à primeira vista, mas todas proporcionam uma compreensão sobre o que precisamos fazer em nossa carreira e em nossa vida pessoal para obter uma vantagem.
Muitos conselhos que ouvimos a respeito das características que conduzem ao êxito são lógicos, legítimos… e completamente errados. Vamos destruir os mitos, observar a ciência que está por trás do que diferencia os extremamente bem-sucedidos, aprender o que pudermos para sermos mais parecidos com eles e descobrir, em alguns casos, por que é bom não sermos parecidos.
Às vezes o que leva ao sucesso é o puro talento, às vezes são as coisas bonitas que nossa mãe nos mandava fazer e, em outras ocasiões, é exatamente o oposto disso tudo. Quais velhos ditados são verdadeiros e quais são mitos?
Será que os bonzinhos só se dão mal? Ou se saem melhor que os demais?
Desistentes nunca vencem? Ou será a teimosia o real inimigo?
A confiança dita as regras? Quando ela é somente uma ilusão?
Em cada capítulo, examinaremos ambos os lados da história. Veremos a solidez de cada perspectiva. Assim, se algo parecer tanto uma vantagem certa quanto uma contradição, continue a leitura. Os dois lados apresentarão
seus argumentos, como em um julgamento. Escolheremos então a resposta que apresenta o máximo de elementos positivos com o mínimo de elementos negativos.
No capítulo 1, veremos se ir pelo caminho seguro e fazer o que nos mandam realmente leva ao sucesso. Saberemos o que Gautam Mukunda, professor de Harvard, chama de “intensificadores”. Tal como a insanidade de Jure Robič, os intensificadores são, em geral, atributos negativos, mas que em determinados contextos produzem benefícios descomunais capazes de aniquilar os competidores. Saberemos por que os melhores alunos raramente se tornam milionários, por que os melhores (e os piores) presidentes americanos são aqueles que subvertem o sistema e como nossas maiores fraquezas podem ser, na realidade, nossas maiores forças.
No capítulo 2, descobriremos quando os bonzinhos se dão bem e como Maquiavel estava certo com respeito a dinheiro. Falaremos com um professor da Wharton School que acredita em altruísmo e compaixão nos negócios e com um professor de Stanford cujas pesquisas demonstram que o trabalho duro é supervalorizado e que as promoções são obtidas com puxa-saquismo. Observaremos piratas e gangues de presídios para descobrir que leis são seguidas mesmo por infratores e descobriremos como alcançar o equilíbrio entre avançar ambiciosamente e ser capaz de dormir à noite, com a consciência leve.
No capítulo 3, vamos investigar o treinamento das forças de operações especiais da Marinha americana para examinar a emergente ciência da determinação e da resiliência. Conversaremos com doutores em economia para saber quando devemos dobrar nossos esforços e quando devemos jogar a toalha. Mestres de kung fu vão nos ensinar que ser um frouxo às vezes é uma boa ideia. E aprenderemos uma palavra boba que pode nos ajudar a decidir quando é melhor aguentar firme e quando desistir é a opção mais acertada.
O capítulo 4 analisa se o mais importante é “o que você conhece” ou “quem você conhece”. Veremos que os funcionários com mais contatos são muitas vezes os mais produtivos, mas que os maiores expoentes classificam a si mesmos, quase sempre, como introvertidos (inclusive espantosos 90% dos atletas de elite). Obteremos informações do cara mais conectado do Vale do Silício e aprenderemos como fazer networking sem se sentir hipócrita.
No capítulo 5, examinaremos o comportamento humano. Veremos como a autoconfiança pode nos levar além da capacidade que enxergamos em nós mesmos, mas como isso precisa ser equilibrado com uma visão fundamentada dos desafios à frente. Aprenderemos como a emergente ciência do “contraste mental” pode nos ajudar a determinar quando ir com tudo e quando pensar duas vezes. E o mais importante: investigaremos uma nova pesquisa que revela por que o paradigma da autoconfiança pode ser problemático em sua essência.
No capítulo 6, recuaremos um passo para examinar o quadro geral e ver como o sucesso na carreira se alinha com o sucesso na vida – e quando isso não ocorre. Há lugar para um equilíbrio entre profissional e pessoal em um mundo acelerado, que passa 24 horas por dia ligado? Clayton Christensen, da Harvard Business School, e Gêngis Khan nos oferecem exemplos de como encontrar paz em um escritório que não para nunca. Extrairemos lições de trágicas lendas que alcançaram o sucesso mas pagaram um preço alto demais
por isso, sacrificando sua família e sua felicidade.
O sucesso não precisa existir só na TV. Não se trata tanto de ser perfeito, mas de saber em que você é melhor e estar alinhado de forma correta com o próprio contexto. Você não precisa ser louco, como Jure Robič, mas às vezes um patinho feio pode se tornar um cisne se encontrar a lagoa certa. O que distingue você – até mesmo hábitos que tentou abandonar ou características que lhe valiam zombarias na escola – talvez lhe proporcione, no fim das contas, uma vantagem imbatível.
Aliás, vamos começar por aí…