INTRODUÇÃO
Depois da perda de um ente querido há uma grande agitação mental enquanto tomamos todas as providências e reunimos a família e os amigos para a despedida final. Sentimos conforto por ter pessoas próximas com quem compartilhar lágrimas, abraços e boas lembranças. Os serviços religiosos dão significado e esperança enquanto pessoas queridas estão presentes para nos oferecer amor e apoio.
Entretanto, quando os rituais terminam, todos vão para casa e somos deixados sozinhos em uma terra nova e estranha, onde uma das pessoas que davam sentido à nossa vida se foi.
Agora existem espaços vazios na mente, que incomodam tanto durante o dia quanto durante a noite. Muitas vezes, quando menos esperamos, a dor e a preocupação estão de volta – às vezes como uma onda no mar, às vezes como uma goteira pingando lenta e constantemente.
Esse processo continua por muito tempo – por anos, não por dias ou meses, se a pessoa que se foi era bem próxima a nós. Algumas perdas – como a de um filho, um cônjuge – nunca são superadas. Contudo, se formos sábios e afortunados e tivermos coragem e apoio para seguir com a nossa vida, o luto começará a perder seu poder de controle. Podemos escolher. Somos capazes de nos afastar conscientemente de uma zona de perigo ou de esperar até o momento em que nos sintamos mais fortes para fazer isso. Podemos sentir a água batendo no rosto sem medo de nos afogar e até apreciar o gosto do sal nos lábios. Podemos seguir em frente porque, além da pungência da perda, sentimos uma onda de amor por aquele que perdemos e a certeza de que ainda habitamos o mesmo universo e estamos unidos por um amor que não pode ser suprimido.
“O que é essencial não morre, clarifica”, escreveu o americano Thornton Wilder. E prossegue: “O maior tributo aos mortos não é a tristeza, mas a gratidão.” Um dia encontraremos nosso caminho através desse “vale das sombras” particular e, embora possa sempre haver um toque de tristeza, seremos capazes de nos alegrar com a vida que compartilhamos com quem se foi. E enfim conseguiremos olhar para um futuro em que o ente querido não está fisicamente presente, mas mesmo assim continua a nos abençoar.
Cada um de nós fala e escreve sobre a própria história de tristeza e alegria. Minha vida como escritora e como ser humano foi fortemente afetada por minha experiência de luto – em particular, a morte da minha filha de 16 anos, que, em uma radiante tarde de verão, enquanto nossa família estava de férias nas montanhas do Colorado, caiu do cavalo e morreu. Foi há muito tempo. O luto avança com lentidão e, durante um período, ocupa cada segundo de nossa vida.
Portanto, tive aquela sensação tão conhecida de estar no lugar certo, de saber do que estou falando, quando escrevi este livro de meditações para aqueles que sofrem a dor da perda. As meditações seguem dia a dia, mês a mês, até completar um ano, mas você pode escolher um mês qualquer e o dia que mais simpatizar para começar a ler. As meditações são breves porque, especialmente nos estágios iniciais do luto, nosso tempo de concentração é curto e um pequeno pensamento edificante nos servirá melhor do que uma longa conversa.
Sou grata a muitas pessoas por tornar este livro possível – à família e aos amigos que me apoiaram quando eu estava mais vulnerável; às comunidades espirituais e religiosas que me amam e me lembram de quem eu sou, de quem escolhi ser.
E, em particular, meus agradecimentos à minha editora, Lisa Considine, que me procurou para falar sobre este projeto. Obrigada também às centenas de pessoas cujas palavras – em conversas casuais, cartas ou mensagens – constituem os pontos luminosos dessas meditações. Familiarizar-me e voltar a interagir com esses sábios foi uma rica aventura para mim. E espero que, juntos, possamos ajudar aqueles que sofrem a seguir em frente com determinação, coragem e confiança no longo caminho para a recuperação e a restauração da vida.
Nashville, Tennessee
Agosto de 1994
1º DE JANEIRO
Escrevo estas linhas com todo o meu afeto
Em homenagem à ternura,
em homenagem a todos aqueles que foram
convocados para a irmandade da perda…
– EDWARD HIRSCH
Quando somos atraídos para a irmandade da perda, a sensibilidade parece ser nosso estado natural. Ficamos vulneráveis. Tudo esbarra na ferida aberta da nossa dor, nos lembrando do que perdemos, ativando memórias – uma inclinação de cabeça, uma risada, um jeito de andar, um toque, uma conversa particular. Essas imagens são como contas amarradas no colar da perda. Com ternura, voltamos a elas repetidas vezes. Não podemos suportá-las. Não podemos deixá-las ir.
Então, gradual e lentamente, o fio de amarração da dor se transmuta, reconstituindo-se como um fio de memórias preciosas – uma inclinação de cabeça, uma risada, um jeito de andar, um toque, uma conversa particular transformam-se em presentes da vida que compartilhamos com aquele que perdemos, dádivas que nunca poderão ser tiradas de nós.
Que eu saiba honrar os processos de luto e de cura e confiar neles, tendo a esperança de que, com o tempo, um novo dia chegará.
2 DE JANEIRO
A mente tem uma sensação estúpida da imensa perda
– e isso é tudo. A mente e a memória levarão meses,
possivelmente anos, para reunir os detalhes e, assim,
apreender e conhecer toda a extensão da perda.
– MARK TWAIN
Caso estejamos nos sentindo impelidos a “acabar de uma vez por todas” com nosso luto (se fizer isso mais rápido, talvez eu me sinta melhor mais cedo), devemos lembrar que, como em muitas das experiências mais profundas da vida – fazer amor, comer, beber –, mais rápido não quer dizer necessariamente melhor. Talvez o aspecto mais tranquilizador do luto seja o fato de que esse processo não se deixa manipular; vai levar o tempo que for necessário. Nossa tarefa é estarmos atentos quando as mensagens da mente e da memória chegarem. Se as deixarmos passar sem supervisão na primeira vez, provavelmente terão um custo mais alto a longo prazo.
Se eu conseguir abrandar a resistência e ficar calmo em minha alma, minha dor dirá do que preciso a cada passo que eu der ao longo do caminho.
3 DE JANEIRO
Ame o momento, e a energia desse momento se espalhará
para além de todas as fronteiras.
– CORITA KENT
Uma das atitudes mais curativas que se pode tomar quando se está passando por um luto profundo é tentar isolar momentos maravilhosos do fluxo do tempo.
Embora possamos nos questionar Como poderei suportar todos esses anos à frente sem ele/ela?, vivemos a vida em cada momento, em horas, em dias. O futuro tem um aspecto vazio. Mas se este momento for maravilhoso – esta reunião de pessoas queridas, esta caminhada no parque, esta conversa com uma criança, este pedaço de bolo, esta xícara de chá –, vamos saber como saboreá-lo.
Certa vez, participei de um workshop de relações humanas sobre o estabelecimento de limites – uma tarefa na qual eu, como muitas mulheres, nem sempre sou perspicaz ou hábil. O exercício consistia em andar por uma sala cheia de gente, imaginando que eu estava dentro de um globo transparente, cujas dimensões eram de minha própria escolha. Foi uma aventura maravilhosamente libertadora – aquele momento imaginário de ser e não ter conexão com nada. Talvez possamos tentar valorizar os bons momentos dessa maneira, isolando-os do todo. Em vez de pensar Antes disso, eu estava triste, depois disso, ficarei triste, poderíamos tentar Por enquanto, estarei apenas neste momento e desfrutarei da sensação boa que ele me traz.
Certa vez, participei de um workshop de relações humanas sobre o estabelecimento de limites – uma tarefa na qual eu, como muitas mulheres, nem sempre sou perspicaz ou hábil. O exercício consistia em andar por uma sala cheia de gente, imaginando que eu estava dentro de um globo transparente, cujas dimensões eram de minha própria escolha. Foi uma aventura maravilhosamente libertadora – aquele momento imaginário de ser e não ter conexão com nada. Talvez possamos tentar valorizar os bons momentos dessa maneira, isolando-os do todo. Em vez de pensar Antes disso, eu estava triste, depois disso, ficarei triste, poderíamos tentar Por enquanto, estarei apenas neste momento e desfrutarei da sensação boa que ele me traz.
Às vezes, a visão de longo prazo não é o que eu preciso. Eu preciso deste momento, sem estar refém do passado ou do futuro.