As cinco habilidades das pessoas excepcionais | Sextante

As cinco habilidades das pessoas excepcionais

Joe Navarro e Toni Sciarra Poynter

Como conquistar a confiança, ganhar o respeito e influenciar positivamente as pessoas

Como conquistar a confiança, ganhar o respeito e influenciar positivamente as pessoas

“Se você quer aprender a ler as pessoas e ganhar sua confiança, Joe Navarro é o melhor professor.” – Chris Voss, autor de Negocie como se sua vida dependesse disso

O especialista em linguagem corporal apresenta um olhar inovador sobre as características das pessoas excepcionais – aquelas capazes de exercer influência positiva, liderar com eficiência e inspirar os outros.

 

 

Joe Navarro foi agente do FBI por 25 anos, uma atividade em que saber liderar era, muitas vezes, uma questão de vida ou morte.

Com essa rica experiência e o conhecimento de quatro décadas estudando o comportamento humano, ele revela os cinco princípios que guiam as pessoas excepcionais e ensina como podemos desenvolver essas habilidades:

  • Autodomínio: antes de liderar os outros, aprenda a liderar a si mesmo.
  • Observação: descubra as técnicas usadas pelo FBI para avaliar qualquer situação com rapidez e precisão.
  • Comunicação: explore o poder das interações verbais e não verbais para persuadir, motivar e inspirar.
  • Ação: construa um propósito comum e dê o exemplo.
  • Bem-estar psicológico: aprenda a transmitir calma e empatia para que as pessoas se sintam seguras ao seu lado.

Este livro é o resultado de mais de 10 mil entrevistas em campo e avaliações comportamentais, unindo ciência, estudos de caso e relatos surpreendentes de experiências vividas no FBI.

Do autoconhecimento à ética, da comunicação clara à preocupação genuína com o outro – desenvolver cada uma dessas habilidades fará você se destacar como um líder confiante e confiável, e, acima de tudo, se tornar uma pessoa melhor.

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Ficha técnica
Lançamento 20/10/2022
Título original Be Exceptional
Tradução Edson Furmankiewicz
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 272
Peso 350 g
Acabamento Brochura
ISBN 978-65-5564-480-7
EAN 9786555644807
Preço R$ 59,90
Ficha técnica e-book
eISBN 978-65-5564-481-4
Preço R$ 34,99
Ficha técnica audiolivro
ISBN 9786555645903
Duração 10h 31min
Locutor Reinaldo Rodrigues
Lançamento 20/10/2022
Título original Be Exceptional
Tradução Edson Furmankiewicz
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 272
Peso 350 g
Acabamento Brochura
ISBN 978-65-5564-480-7
EAN 9786555644807
Preço R$ 59,90

E-book

eISBN 978-65-5564-481-4
Preço R$ 34,99

Audiolivro

ISBN 9786555645903
Duração 10h 31min
Locutor Reinaldo Rodrigues
Preço US$ 7,99

Leia um trecho do livro

Antes de começarmos

Não considere humanamente impossível o que você não consegue realizar com facilidade; e, se é humanamente possível, então está ao seu alcance.

MARCO AURÉLIO

 

 

O que torna as pessoas excepcionais? Por muito tempo refleti sobre essa questão. Dediquei 25 anos de serviço ao FBI e fui membro fundador do Programa de Análise Comportamental de Segurança Nacional, tendo realizado mais de 10 mil entrevistas em campo. Também passei anos prestando consultoria a organizações de vários níveis em todo o mundo, além de desenvolver pesquisas e escrever mais de uma dúzia de livros sobre comportamento e desempenho. Ao todo, foram mais de 40 anos estudando o comportamento humano, e nesse tempo nada me cativou mais do que aqueles indivíduos que exibem características excepcionais. Essas pessoas fazem com que você se sinta especial. A bondade e o carinho delas atraem você instantaneamente. A sabedoria e a empatia delas são estimulantes. Você se sente melhor depois de encontrá-las. Você quer tê-las entre seus amigos, vizinhos, colegas de trabalho ou conselheiros; e certamente quer que sejam seus professores, gestores, líderes comunitários ou candidatos a cargos públicos.

O que torna essas pessoas quem elas são – tão influentes, eficazes, exemplares e dignas de liderar? As qualidades que fazem com que se destaquem não estão relacionadas ao nível de educação, renda ou talento – digamos, em áreas como esportes, artes ou mesmo negócios. Não; esses indivíduos se destacam da maneira que realmente importa: eles parecem saber o que dizer e o que fazer para ganhar confiança, impor respeito e influenciar e inspirar positivamente até mesmo os mais desanimados entre nós.

Minha pesquisa para este livro começou há mais de uma década, involuntariamente, quando trabalhava no livro Dangerous Personalities (Personalidades perigosas). Na época, eu analisava as características das pessoas que decepcionam a si mesmas e os outros por causa de seu comportamento detestável, das decisões que tomam, das prioridades que negligenciam, da falta de controle emocional ou da falta de dedicação ou cuidado com os outros.

Ao pesquisar esses indivíduos imperfeitos, seus opostos polares – aquelas pessoas que têm características positivas tão notáveis que tornam a vida melhor para todos em volta – surgiram na minha frente com extrema clareza. Foi essa transparência, juntamente com todas as observações que fiz no FBI e em meu trabalho de consultoria internacional, que acabou se transformando neste livro.

O que torna alguém excepcional? Acabei constatando que existem apenas cinco características que diferenciam indivíduos excepcionais de todos os outros. Embora sejam só cinco, essas são qualidades muito poderosas. São as cinco habilidades das pessoas excepcionais.

 

AS CINCO HABILIDADES DAS PESSOAS EXCEPCIONAIS

 

Autodomínio: o coração da excepcionalidade

Elaborando nossos aprendizados, entendendo a nós mesmos por meio de uma reflexão honesta e cultivando hábitos cruciais que levam à realização pessoal, lançamos as bases para uma vida excepcional.

 

Observação: ver o que importa

Aumentando nossa capacidade de observar as necessidades, as preferências, as intenções e os desejos dos outros, bem como seus medos e suas preocupações, estamos mais bem preparados para decodificar pessoas e situações com rapidez e precisão, ganhando clareza para fazer o que é melhor, o que é correto e o que é eficaz.

 

Comunicação: informar e transformar

Adotando as habilidades verbais e não verbais, podemos expressar ideias de forma mais eficiente e intencional, apelando ao coração e à mente e estabelecendo laços que constroem confiança, lealdade e harmonia social.

 

Ação: ser oportuno, ético e pró-social

Conhecendo e aplicando o arcabouço ético e social da ação apropriada, podemos aprender, como as pessoas excepcionais aprendem, a “fazer a coisa certa na hora certa”.

 

Bem-estar psicológico: a força humana mais poderosa

Entendendo a verdade fundamental de que aquilo que os seres humanos buscam, em última análise, é o bem-estar psicológico, podemos descobrir o que as pessoas excepcionais sabem: aquele que proporciona bem-estar psicológico por se importar com os outros vence.

Nos capítulos a seguir vou apresentar insights, exemplos e relatos com base em minhas décadas de experiência em análise comportamental e consultoria de negócios. Trarei exemplos da história, de acontecimentos atuais e da vida cotidiana para explorar essas cinco habilidades e explicar como você pode usá-las para melhorar e aprimorar sua vida, diferenciar-se e, acima de tudo, influenciar positivamente os outros em sua busca por uma vida mais empática e ética – o tipo de vida que os verdadeiramente excepcionais vivem todos os dias.

Aprendemos e somos influenciados ao estudar indivíduos excepcionais, que diariamente demonstram que, para sê-lo, é preciso fazer coisas extraordinárias. Essas cinco características que transformam a vida são tudo que é necessário para diferenciar você. Elas vão recompensá-lo assim que você começar a incorporá-las à sua rotina diária, aumentando sua capacidade de influenciar positivamente os outros e, sem dúvida, fazendo de você uma pessoa melhor. Elas também o tornarão um líder bem-sucedido – não apenas pronto para liderar quando a oportunidade surgir, mas digno de fazê-lo.

Então, junte-se a mim nesta jornada de descobertas de quem somos e de quem podemos ser. Vamos explorar esse reino especial compartilhado por aqueles considerados honrados, confiáveis, determinados, íntegros. Excepcionais.

 

UM

Autodomínio

 

O CORAÇÃO DA

EXCEPCIONALIDADE

Elaborando nossos aprendizados, entendendo a nós mesmos por meio de uma reflexão honesta e cultivando hábitos cruciais que levam à realização pessoal, lançamos as bases para uma vida excepcional.

Todos pensam em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo.

– LIEV TOLSTÓI

 

No FBI, uma das decisões mais difíceis que tive que tomar como líder de equipe SWAT ocorreu antes mesmo de a operação começar.

Como líder de equipe, você é responsável pelo plano operacional e por sua execução habilidosa e segura. Depois que você recebe a “luz verde” para o início da operação, está totalmente equipado, com armas carregadas e apontadas, e diz pelo microfone “Eu tenho o controle, eu tenho o controle, eu tenho o controle”, muitas pessoas passam a contar com você para comandar o jogo. O público quer isso; seus superiores também. E seus colegas da equipe SWAT precisam que você tenha clareza absoluta de pensamento, porque a segurança deles e o sucesso da operação dependem disso.

Os eventos estavam se desenrolando rapidamente nessa operação em particular – um fugitivo armado mantendo sua namorada refém em um hotel decadente nos arredores de Haines City, Flórida, jurando que nunca seria capturado vivo. Normalmente, os negociadores de sequestro conseguem lidar com eventos como esse, mas, nesse caso, a refém precisava de remédios, por isso sua vida corria perigo. Sem muito tempo a perder, com o calor do dia deixando os ânimos ainda mais acirrados e o suspeito sem querer cooperar de forma alguma, a última coisa que eu precisava era que um de nossos agentes não estivesse à altura da tarefa. Esse agente em específico não estava sendo tão rápido nas perguntas nem elaborando os planos finais como habitualmente fazia. Ele não estava levantando questões que normalmente abordaria: a estrutura do prédio (para determinar até onde uma bala perdida pode penetrar); se as dobradiças da porta estariam voltadas para fora ou para dentro (para nos ajudar a determinar como abrir a porta e de que tipo de ferramenta de arrombamento precisaríamos); a proximidade em que poderíamos posicionar uma ambulância sem que fosse vista; a localização mais próxima de um hospital com centro de trauma nível I; e assim por diante. Percebi que sua mente não estava focada. Por fim, disse a mim mesmo: Você tem que resolver isso, e rapidamente. Não tínhamos tempo para entender a causa da distração. Eu só sabia que algo estava acontecendo com ele e tinha de intervir.

Meus superiores, no calor do momento e ocupados com as decisões que precisavam ser tomadas pela administração – lidar com a sede do FBI, implementar mudanças de última hora e certificar-se de que as autoridades locais estavam cientes do que estávamos prestes a fazer –, não tinham percebido a situação, embora estivéssemos todos na mesma sala. Mas, como comandante de equipe, eu não podia ignorá-la. Esse agente estava fora de si. Era o pior momento para lidar com um problema pessoal. Talvez ninguém notasse se eu mantivesse isso para mim e nada desse errado na operação, mas eu havia percebido e cabia a mim resolver essa questão. Não podia deixar que alguém nesse estado participasse de uma operação em que o potencial de tiroteio em um ambiente urbano era alto e as decisões deveriam ser tomadas rapidamente. Como líder, você não pode colocar os outros em risco podendo evitá-lo, por mais que alguém queira fazer parte de algo importante ou, como no caso desse operador da SWAT, tenha sido fundamental para o planejamento da intricada operação de prender um fugitivo e resgatar uma jovem com problemas de saúde que estava sendo mantida presa contra sua vontade.

Fui até o agente especial encarregado, que estava ao telefone atualizando a sede do FBI sobre o desenrolar dos acontecimentos, e relatei: “Preciso tirar um de nossos agentes desta missão.” Ao dizer essas palavras, me dei conta de que, em minhas duas décadas na SWAT, isso nunca havia acontecido.

“Faça o que for melhor”, foi tudo o que ele pronunciou, ciente de que confiava no nosso relacionamento, estabelecido ao longo dos anos. Então, como se percebesse que eu tinha algo mais a falar, ele assentiu com a cabeça. Foi quando eu disse: “Preciso sair da operação, senhor.”

A princípio, ele apenas olhou para mim por um segundo para ter certeza de que tinha ouvido direito, sua mão cobrindo o telefone, colocando Washington em espera. Ele examinou meu rosto e, naquele breve momento, acredito, começou a se dar conta do que eu realmente estava experienciando naquele dia.

Ele perguntou se eu tinha certeza. Respondi que sim. “Faça o que você precisa fazer. Faça o que for melhor”, repetiu, sem hesitar. “Confio no seu julgamento.”

E dessa forma saí de uma grande operação da SWAT. Não foi fácil, porque o segundo homem em comando agora tinha o ônus de assumir meu papel e eu sabia que alguns dos agentes iriam se perguntar o que estava acontecendo. Independentemente disso, era o que precisava ser feito e, como comandante da equipe, era meu dever tomar a decisão.

A operação transcorreu sem incidentes e ninguém se feriu.

O que me afetava? Finalmente, em um momento de introspecção, o que deveria ter sido óbvio acabou vindo à tona. Minha avó havia falecido uma semana antes e eu continuava sob o efeito dessa profunda perda. Eu ainda estava de luto, sofrendo – mesmo achando que poderia simplesmente superar isso. Para os outros, talvez eu parecesse um pouco mais sério do que o normal, talvez contando menos piadas, mas quando estamos muito atarefados é fácil ignorar o que os outros estão sentindo. Minhas emoções estavam afetando meu pensamento e minhas decisões. Felizmente, reconheci isso a tempo.

Aquele agente especial encarregado disse algo importante: “Faça o que for melhor.” Mas como saber o que é o melhor a fazer? Além disso, como fazer o que deve ser feito? Tudo começa com o autodomínio.

 

DEFINIÇÃO DE AUTODOMÍNIO

 

Muitas vezes equiparamos capacidade a habilidade. Dizemos que habilidade é o que está por trás da capacidade de produzir um violino Stradivarius de qualidade ou esculpir uma estátua magnífica. Mas habilidade e capacidade são coisas diferentes.

Tornar-se habilidoso em algo requer dedicação a qualquer que seja o desafio, por mais difícil que seja – e, mais importante, requer autodomínio: foco, dedicação, diligência, curiosidade, adaptabilidade, autoconsciência e determinação, para citar apenas algumas das competências do autodomínio. Começo com autodomínio porque ele é fundamental para dominar as outras quatro características que diferenciam os indivíduos excepcionais. A boa notícia é que o autodomínio não é uma busca impossível. Podemos realmente reconfigurar nosso cérebro para incorporar melhores versões de nós mesmos às coisas que fazemos todos os dias.

Se nossa vida é definida pelo que pensamos – a mentalidade e as atitudes que adotamos e o conhecimento que adquirimos –, pelos nossos sentimentos e pelas nossas escolhas, então não podemos alcançar todo o nosso potencial sem autodomínio.

O autodomínio por si só pode não conquistar montanhas, mas uma montanha não pode ser conquistada sem autodomínio. O humano mais rápido que já existiu, Usain Bolt, não alcançou esse status apenas pela capacidade atlética. Ele conseguiu por meio de autodomínio: aprendeu, se sacrificou, trabalhou muito e permaneceu diligentemente focado. Michael Jordan, o maior jogador de basquete de todos os tempos, fez a mesma coisa. Para alcançar o nível de elite compartilhado pelos excepcionais precisamos de autodomínio.

Mas há um outro lado do autodomínio que inclui conhecer nossas emoções, nossos pontos fortes e, mais importante, nossos pontos fracos. Conhecendo a nós mesmos, sabemos quando os outros devem assumir a liderança, quando não é o nosso dia (como aconteceu comigo naquela operação da SWAT), quando precisamos de uma dose de humildade – e confrontar nossos demônios – ou quando devemos mudar de atitude para extrair o melhor de nós. Isto é o que o autodomínio permite: uma avaliação consciente e honesta de nós mesmos que nos leva a continuar tentando e a entender as nuances da consciência que podem fazer a diferença entre fracasso e sucesso.

Neste capítulo vamos explorar como assumir o comando de sua vida por meio de hábitos e comportamentos diários, construindo os degraus essenciais para o autodomínio. Vamos terminar com uma série de perguntas de autoavaliação para ajudar você a conquistar essa capacidade tão essencial. Você quer alcançar seu maior potencial, aumentar sua influência, expandir sua marca? O autodomínio é o caminho.

APRENDIZAGEM:

O ANDAIME DO CONHECIMENTO

 

Em algum momento durante o ensino médio, fiz uma autoavaliação séria. Não me foi imposta. Ninguém se sentou para falar comigo sobre ela ou a sugeriu. Foi uma conversa muito particular que tive comigo mesmo, porque havia ficado bem claro na minha mente jovem que as coisas precisavam mudar.

Fugir para os Estados Unidos aos 8 anos como refugiado depois da Revolução Cubana me deixou em tremenda desvantagem. Mudar de país abruptamente, não falar inglês, não entender esse ambiente totalmente novo com regras, costumes e normas diferentes me deixaram confuso e deslocado. Eu estava vários passos atrás e sempre tentando alcançar meu novo mundo. Chegamos à América sem dinheiro (os soldados cubanos no aeroporto se certificaram disso) e traumatizados, tendo sobrevivido a uma revolução comunista muito violenta em Cuba. Como recém-chegado, tive que me adaptar, mas a única coisa que tinha em comum com as crianças ao meu redor era que, como elas, eu adorava praticar esportes. Elas não falavam espanhol e eu não falava inglês; não haviam passado por uma revolução sangrenta; não estavam lá nas ruas durante a invasão da Baía dos Porcos como eu estive nem ouviram os tiros no paredón (o muro) onde os soldados alinhavam os cidadãos e os executavam sumariamente por serem anticastristas. Elas conheciam Sininho, Pernalonga, Papa-Léguas, Disneylândia e o Clube do Mickey Mouse; para mim eram nomes sem significado. Eu estava acostumado a usar uniforme na escola; elas, jeans e camiseta. Em Cuba, eu estudava em uma sala de aula com um único professor o dia todo; nos Estados Unidos, mudava de sala a cada 55 minutos – a razão disso, não sabia bem. Eu conhecia as regras do beisebol, mas nunca tinha visto uma bola de basquete. Adorava os novos jogos que me ensinaram, mas odiava ser chamado para o quadro-negro para resolver problemas de matemática.

Foi um verdadeiro choque cultural. Esforcei-me para aprender todas as regras sociais: não conversar na fila, dar a mão ao atravessar a rua, mas não tocar de outra forma, não ficar muito perto, não gesticular demais, não falar muito alto, levantar a mão direita se precisar fazer xixi, fazer mais contato visual com o professor ao ser repreendido (exatamente o oposto do que me ensinaram, que era olhar para baixo, evitar contato visual e parecer arrependido). Mas havia também a questão dos trabalhos escolares. Existiam diferenças infinitas que precisei aprender e superar para me adaptar. Durante a revolução em Cuba, não era seguro frequentar a escola e, francamente, era assustador, motivo pelo qual eu já estava atrasado academicamente quando fugimos de lá. Agora, além de tudo isso, nada do que o professor dizia fazia sentido, porque era em inglês.

De alguma forma, por pura persistência e por necessidade, tornei-me totalmente fluente em inglês em cerca de um ano. Não há nada como a socialização imersiva para aprender um idioma. Voltei uma série para que conseguisse acompanhar o nível da turma e, no devido tempo, completei dois anos em um. Mas isso foi apenas o começo.

Havia a questão do meu sotaque. Tive que trabalhar muito para me livrar dele, porque uma coisa que aprendi foi que, se você fala diferente nos Estados Unidos, você se destaca, e eu não queria me destacar. Queria me encaixar na cultura americana. Por fim, consegui superar meu sotaque, mas a realidade era que sempre havia muita coisa que os meus colegas já sabiam e eu não: tudo aquilo que aprendemos desde pequenos, no jardim de infância, enquanto assistimos à TV, frequentando as mesmas escolas e ao longo de anos de cultura e socialização.

Eu não conhecia nenhuma música infantil e nunca descobri o que “London Bridge Is Falling Down” significava. (Por que uma catástrofe como essa seria descrita em uma canção infantil?) Durante um ano, não tivemos rádio nem televisão em casa, então a única música que aprendi foi o hino nacional, que cantávamos todas as manhãs.

Quando entrei no ensino médio, meus colegas conheciam Shakespeare; eu, Miguel de Cervantes. Eles liam Steinbeck; eu, Federico García Lorca. Eles conheciam Bob Hope; eu, Cantinflas. Eu sabia o nome de todas as ilhas do Caribe; a maioria dos meus colegas não reconhecia nem o Golfo do México. Os comunistas em Cuba nos doutrinaram sobre o “proletariado e a burguesia”, termos que reconhecia prontamente. Meus colegas de escola achavam que eu estava inventando essas palavras. E eu não sabia o que significava ser “tira”.

Por muito tempo, pensei erroneamente que as outras crianças eram mais inteligentes do que eu. Mais tarde, compreendi que não eram mais inteligentes; só conheciam coisas que eu não conhecia porque não tinha sido exposto a elas. Incomodava-me ter deixado passar tanto conhecimento. E, no ritmo em que estávamos indo na escola, eu não iria alcançá-las tão cedo.

Percebi que a escola só poderia me ensinar o que estava no currículo. Ela não me ensinaria o que me faltava nem o que eu mais queria aprender – que ia muito além do que o sistema escolar do Condado de Dade permitia. Eu não ia chafurdar em autopiedade, mas de alguma forma sabia que tinha que agir por conta própria. Tive que encarar minha realidade. E assim, na adolescência, comecei meu próprio programa de autoaprendizagem.

Reserve um momento para pensar nas pessoas excepcionais que você conhece ou sobre as quais leu ou estudou. Quem não apreciaria a arte atlética de tirar o fôlego da ginasta americana e vencedora da medalha de ouro olímpica Simone Biles ou da lenda do basquete Michael Jordan? Que tal a genialidade do investidor Warren Buffett, conhecido como o Oráculo de Omaha? Seria muito bom cantar como Frank Sinatra ou Adele, cujas vozes podem alegrar ou partir um coração. Todos são excepcionais à sua maneira. Mas e nós? Eu nunca serei um atleta de elite nem dirigirei um negócio de bilhões de dólares, e meu canto só serve para incomodar os animais que descansam por perto. Mas podemos ser excepcionais de diversas formas, inclusive na mais importante delas, aquela que todos nós compartilhamos: as relações com as outras pessoas. Como alcançamos esse nível de desempenho em que nossas ações se tornam excepcionais?

Fazemos isso por autoaprendizagem: investindo em nossos conhecimento, crescimento e potencial, assim como o fazem os grandes realizadores.

Algumas pessoas acham mais fácil dar valor e atenção aos outros do que a si mesmas. Mas, assim como queremos que os outros sejam pessoas melhores, também temos essa mesma responsabilidade conosco. Depois de aceitar que a melhor maneira de se valorizar é se comprometendo a se tornar uma versão aprimorada de si mesmo, você estará no caminho de se transformar em um indivíduo excepcional.

Sempre que leio sobre alguém que se formou no ensino médio já adulto ou ouço histórias como a de Giuseppe Paternò que se graduou aos 96 anos, lembro-me de que essa é uma pessoa cujos planos podem ter sido prejudicados por trabalho, responsabilidades ou infortúnio, mas que continuou empenhada em investir em sua educação, porque se valorizava. E que belo exemplo eles deram para todos nós.

Nunca é tarde para alcançar o autodomínio e buscar todo o seu potencial para adquirir características e comportamentos de indivíduos excepcionais. Você não apenas levará uma vida melhor e mais completa, mas, quando e se a hora chegar, poderá se tornar não apenas um líder, mas um líder merecedor da liderança.

Muitas vezes nos dizem que mentores – indivíduos admiráveis que funcionam como guias no caminho por onde queremos seguir – são necessários. É ótimo ter mentores. Mas eles podem ser difíceis de encontrar e costumam ter tempo limitado para nos instruir.

Descobri que, para ser excepcional e alcançar o autodomínio, devemos assumir a responsabilidade de orientar a nós mesmos.

A história tem um bom exemplo no Renascimento, o período vibrante entre os séculos XIV e XVII quando as ciências e as artes floresciam em toda a Europa. Para aprender um ofício, jovens como Michelangelo, que mais tarde pintou a Capela Sistina, eram aprendizes de especialistas na área – no caso dele, mestres artistas e escultores que impulsionaram seu aprendizado. As guildas artísticas reuniam os melhores praticantes de desenho, escultura, esboço, pintura, caligrafia, combinação de tintas, cerâmica, arquitetura, artesanato, marcenaria, metalurgia, fundição de ouro, etc.

Não era uma colônia de férias. Os aprendizes seguiam cronogramas rigorosos para aprender e dominar habilidades ao longo de dias repletos de foco em tarefas específicas. Muitos foram aprendizes bem jovens, ganhando o próprio sustento enquanto adquiriam habilidades e reconhecimento por serem responsáveis por sua vida e seu trabalho. Com o tempo, eles se aperfeiçoaram, acrescentando suas próprias experiências e nuances. Assim, por meio do árduo processo de aprendizagem, foi assegurada uma nova geração de mestres; e nós, claro, somos os beneficiários desse processo.

Grande parte do conceito de aprendizagem formal perdeu-se ao longo do tempo, exceto em alguns ofícios e profissões. Médicos, em essência, passam por um aprendizado de 12 a 16 anos para dominar o complexo processo de diagnosticar e curar doenças humanas. Uma de minhas editoras descreveu o conhecimento de seu ofício no mundo editorial como um processo de aprendizagem em que, primeiro, observou seu chefe trabalhar com autores editando e dando forma a seus livros, para, em seguida, participar desse processo sob supervisão e, finalmente, ser encarregada de adquirir e editar projetos por conta própria. Existem aprendizagens em certos ofícios, como encanador e eletricista, que tendem a durar um curto período e ter um foco muito restrito.

Mas, se você analisar atentamente os indivíduos excepcionais como eu analisei, verá que eles adquirem saberes por conta própria. Embora possam buscar ajuda, conselho ou conhecimento de outras pessoas, assumem ativamente a responsabilidade por seu próprio crescimento. Eles sabem o que nunca nos ensinaram: que, para ser excepcional, você deve aprender sozinho.

Esse processo de autoeducação se dá de várias maneiras: pode ser formal ou informal; fruto da necessidade ou de um desejo profundo. Em cada caso – por meio de paciência, força de vontade, tentativa e erro e trabalho árduo, imprensado entre outros deveres, ou mesmo entre empregos ou depois do expediente –, um caminho é encontrado.

Comigo foi assim: interessado no comportamento humano, comecei a manter um diário com comportamentos que observava e não entendia. Com o tempo, por meio de experiência e pesquisa, fui decifrando assim esses comportamentos, tornando-me um observador melhor. Mais ou menos na mesma época, treinei e tirei uma licença de piloto antes de me formar no ensino médio. Por quê? Não posso lhe dar uma razão além da profunda curiosidade. Achava que essas atividades e habilidades mais tarde me ajudariam na vida, e ajudaram, embora na época eu não entendesse como. Essas observações comportamentais que fiz aos 15 anos foram decisivas mais tarde ao lidar com criminosos no FBI, e o brevê me permitiu servir como piloto-comandante para conduzir vigilâncias aéreas de terroristas. Eu não via nada disso no meu futuro, mas a autoaprendizagem certamente me ajudou anos depois.

Sem exceção, em todos os casos que estudei, indivíduos excepcionais fizeram dos estudos um hábito por toda a vida para que pudessem aprimorar a si mesmos. Eles tratavam o impulso de fazer melhor, aprender e experimentar como um empreendimento valioso e essencial.

Renomada hoje em dia por seu trabalho no tratamento humanitário dos animais, em particular do gado destinado a matadouros, Mary Temple Grandin foi diagnosticada com transtorno do espectro autista em tenra idade. Bem antes de essa condição ser compreendida, pessoas com o mesmo transtorno de Grandin eram, muitas vezes, relegadas a trabalhos domésticos ou não conseguiam se graduar no ensino superior por não serem vistas como indivíduos que se encaixassem nos padrões rigorosos do mundo acadêmico.

Grandin criou o próprio programa de educação para atender a suas necessidades especiais de aprendizagem e satisfazer a profundidade e amplitude de seus interesses.

Ela aprendeu sozinha como queria ser ensinada, à sua maneira, no seu ritmo, obtendo, dessa forma e com o tempo, o diploma universitário e, por fim, seu doutorado. Mas Grandin queria ser uma força transformadora e, para isso, precisava ir além da sala de aula. Ela tinha a visão do que queria para si mesma, do que achava que precisava aprender e, para isso, criou um programa com o objetivo de alcançar essa meta. Mergulhou fundo no comportamento e na fisiologia dos animais. Pesquisou também o espectro do autismo para que pudesse entender suas aflições, o que a levou a uma melhor compreensão dos outros e dos animais. Ela estudou psicologia, investigando até mesmo como as cores afetam humanos e animais; aprendeu desenho industrial e engenharia para poder projetar ambientes mais humanitários para o gado; e aprimorou suas habilidades de observação a ponto de chegar a uma propriedade onde o gado estava prestes a ser abatido e ver imediatamente coisas que eram problemáticas quanto ao seu manejo e tratamento. Não havia fim para sua auto-orientação. Ela foi além da necessidade de alcançar e influenciar outras pessoas estudando marketing, engenharia social, vendas, relações com a mídia, negociações, branding, etc.

Ao longo da vida, Grandin aprendeu não com um mentor ou uma escola de pensamento, mas consigo mesma. Ela esculpiu seu caminho como muitos indivíduos excepcionais fizeram – não importava quantos obstáculos estivessem à sua frente. Ao fazer isso, tornou-se uma defensora não apenas do tratamento humanitário do gado, mas também das pessoas no espectro do autismo.

Mais de 200 anos antes de Grandin criar um nicho influente para si mesma, um menino em Boston começou sua jornada. Antes de os Estados Unidos serem uma nação, o primeiro e mais notável empreendedor americano e o maior influenciador de sua época e de gerações seguintes liderou o caminho mostrando o que podemos alcançar, não importam as circunstâncias, se formos nosso próprio aprendiz.

O pai de Benjamin Franklin queria que ele fosse ministro, mas, desde tenra idade, Benjamin queria mais. Sempre observador desde criança, Franklin analisava o mundo ao seu redor e via como as coisas eram feitas e o que era preciso para ter sucesso. Ele entendeu que educação era fundamental, mas nenhuma escola nos Estados Unidos poderia ensinar-lhe tudo o que queria ou precisava. Assim, ele criou um programa de autoaprendizagem para estudar nesse laboratório implacável que chamamos de vida.

Ele lia com voracidade e, com isso, tornou-se um escritor tão bom que conseguiu ver publicados seus artigos várias vezes em jornais locais fazendo-se passar por adulto e usando vários pseudônimos, incluindo o de uma viúva de meia-idade.

Aos 12 anos, foi formalmente aprendiz de seu irmão James, com quem desenvolveu o ofício de impressão, incluindo composição tipográfica, encadernação, marketing e editoração. Ele não era apenas um trabalhador instruindo-se sobre um ofício para ganhar a vida – estava se capacitando para dominar a plataforma de comunicação mais influente de seu tempo. Aprendeu, assim, a organizar habilmente letras e caracteres para impressão, criar tintas, trabalhar com impressoras de todos os tipos, editar manuscritos, escrever artigos concisos e gerar o que hoje chamamos de análise de “tendências” para mudar mentes e desafiar a ordem política. Lia tudo que entrava na gráfica, aprimorando, dessa forma, suas habilidades de leitura e escrita. Naquela época, livros impressos eram caros, então ele negociava e trocava todo e qualquer material de leitura que caísse em suas mãos. Ninguém lhe atribuía coisas para ler; fazia isso por conta própria – a definição de autoaprendizagem. Curiosamente, foi essa dificuldade de ter acesso a material de leitura na juventude que o levou, mais tarde, já adulto, a criar a primeira biblioteca pública dos Estados Unidos.

Depois de cinco anos, Franklin havia aprendido o suficiente para continuar nesse ofício; no entanto, ansiava por mais. Como conta a história, com 15 centavos no bolso, ele partiu para a Filadélfia, onde outras gráficas buscavam ansiosamente não o seu trabalho – já que podia ser feito por qualquer profissional do ofício em qualquer lugar –, mas suas habilidades. A mão de obra naquela época era abundante, porém habilidade e conhecimento eram altamente valorizados e não tão comuns, e Franklin havia compreendido isso desde cedo.

Ele entendeu também o poder do que hoje chamamos de networking e acesso – incluindo a importância de adotar as características e os hábitos daqueles que detinham poder, influência ou autoridade, para se adaptar e ser bem-vindo entre eles (o que agora denominamos espelhamento, algo que discutiremos em capítulos mais adiante). Da mesma forma que meu estudo comportamental informal na adolescência me ajudou imensamente no FBI, a percepção de Franklin sobre costumes e boas maneiras o ajudaria muitos anos depois como primeiro embaixador dos Estados Unidos na França.

Com sua imensa curiosidade, sua habilidade e sua determinação, ampliou seu círculo de influência a tal ponto que, ainda jovem, impressionou tanto o governador da Pensilvânia que este tomou providências para que ele estudasse na Inglaterra com o objetivo de aprimorar sua autoaprendizagem. Franklin havia encontrado o segredo do sucesso: conhecimento, curiosidade, adaptabilidade, trabalho árduo e anseio por mais conhecimento podem tornar sua vida melhor.

Ao morrer, em 1790, aos 84 anos, Franklin, cuja educação formal terminara aos 10 anos de idade, havia sido e feito tantas coisas que desconcertavam qualquer mente humana. Foi um dos signatários originais da Declaração de Independência; fez o rascunho da Constituição; e aconselhou Thomas Jefferson sobre os princípios fundadores que ajudaram a criar os Estados Unidos. Como embaixador na França durante a Revolução Americana, dominou as delicadas nuances dos costumes e da diplomacia dos franceses, persuadindo-os, com o tempo, a se arriscarem a entrar em guerra contra a Inglaterra, financiando os recém-formados americanos que lutavam pela independência. Essas contribuições teriam sido mais do que suficientes. Mas ele alcançou muito mais.

Além de autor, editor de jornal, impressor, defensor da independência, diplomata como poucos e inventor que “controlava os relâmpagos”, foi humorista, satirista, maçom, cientista, educador, ativista cívico, pesquisador, porta-voz, fundador do primeiro corpo de bombeiros da Filadélfia e da Universidade da Pensilvânia, estadista e arquiteto da primeira rede nacional de comunicações para manter as colônias e as pessoas conectadas por meio do que hoje chamamos de sistema postal. Como Walter Isaacson disse na biografia de Franklin, ele “foi o americano mais talentoso de sua época e o mais influente”. Foi o primeiro líder de pensamento, influenciador e guru de autoajuda na América – e, se as TED Talks estivessem disponíveis naquela época, seriam necessários alguns meses para assistir a todas as apresentações dele.

A única maneira de ter conseguido realizar tudo isso foi pelo autodomínio: criando um andaime de conhecimentos, construindo força sobre força por meio de um programa que desenvolveu para si mesmo com base em uma curiosidade sem limites. Muitas pessoas mais instruídas tinham melhor acesso ao que Franklin procurava aprender, mas ele se destacava por sua determinação em abraçar tudo, em levantar aquele andaime eclético e robusto por meio da autoaprendizagem, que lhe permitiu construir tudo que almejou. Nenhuma escola, de antes ou de agora, poderia ensinar todas as coisas pelas quais ele é conhecido.

Franklin foi uma lenda de sua época e o mundo lhe deve muito. No entanto, seu maior legado talvez tenha sido o exemplo que deixou para todos nós: não importa quão humilde seja o começo, você pode assumir o controle de sua própria vida, de suas próprias paixões, de seu próprio aprendizado e nunca parar.

Depois que assumimos a responsabilidade de remodelar nossa vida por meio da autoaprendizagem, algo maravilhoso começa a acontecer.

Quando Joseph Campbell falou sobre buscar “sua felicidade” em seu memorável livro com Bill Moyers intitulado O poder do mito, ele não quis dizer que essa procura viria sem esforço ou que simplesmente aconteceria. Ele quis expressar que, se você tem um amor, um anseio ou uma paixão, precisa ir atrás disso sem se importar com as dificuldades que venham a surgir. Ao fazer isso, como Campbell afirmou, você “se coloca em um tipo de trilho que estava lá o tempo todo, esperando por você e pela vida que deveria estar vivendo”.

Se estiver disposto a contribuir para essa autoaprendizagem, diz Campbell, você dará início a uma dinâmica que constrói e reúne forças: “Você começa a conhecer pessoas que estão no caminho da sua felicidade.” As coisas começam a seguir seu rumo. “Siga sua felicidade e não tenha medo”, o autor nos exorta, “e portas se abrirão onde você nem sabia que elas existiam.” Certamente elas se abriram para Franklin e Grandin. E para mim. E se abrirão para você. Alguém disse uma vez que sorte é o que sobra do trabalho árduo, mas eu diria que sorte é o que sobra do trabalho árduo que investimos em nossa autoaprendizagem.

Em 1971, quando eu era calouro na Universidade Brigham Young, havia apenas alguns livros sobre linguagem corporal. A área mal tinha sido reconhecida. Decerto não havia nenhuma especialização no tema. Mas era minha paixão, pois sabia quão útil ela poderia ser para me relacionar com os outros – algo que descobri muito cedo quando cheguei aos Estados Unidos sem saber nada de inglês. Prometi que, quando me formasse, aprenderia tudo que houvesse sobre comunicação não verbal.

No dia da formatura, entre todas as coisas, comemorei fazendo meu cadastro na biblioteca municipal. Longe da universidade, agora teria tempo para ler o que eu quisesse, não apenas o que era necessário. Construí meu aprendizado sobre comunicação não verbal estudando tanto sobre a linguagem corporal dos povos das Ilhas Trobriand, no Pacífico, quanto sobre os gestos de saudação entre os povos originários do Alasca. A comunicação não verbal que os conquistadores observaram ao chegar ao Novo Mundo era tão fascinante para mim quanto a cor obrigatória das roupas que o rei Henrique VIII determinava que os nobres usassem. A linguagem corporal que Sir Richard Burton analisou na África ao procurar as origens do Nilo era tão interessante quanto os costumes e maneirismos que o explorador medieval Ibn Battuta descobriu ao longo de um período de 30 anos e 120 mil quilômetros viajando pela África, pelo Oriente Médio, a Índia e a Ásia. O que eu não conseguia aprender em uma aula, buscava na autoaprendizagem.

Aprendi a estudar tudo que podia sobre linguagem corporal e comunicação não verbal com psicólogos, zoólogos, etnólogos, antropólogos, médicos, etnógrafos, artistas, fotógrafos, primatologistas, escultores e anatomistas. Essa autoaprendizagem foi mais longe do que eu jamais poderia ter previsto – e mudou minha vida no processo. Ela me auxiliou em minhas múltiplas carreiras, me ajudou a desenvolver um empreendimento global e a aproveitar a parte mais interessante desses conhecimentos em muitas e variadas áreas. Ela enriqueceu muito minha vida e forneceu informações preciosas sobre a natureza humana.

Quando peguei aquela ficha da biblioteca e comecei minha autoaprendizagem em comunicação não verbal, nunca sonhei que encontraria os gigantes da área: Paul Ekman, Bella DePaulo, Judee Burgoon, Mark Frank, David Givens, Joe Kulis, Amy Cuddy e muitos outros. Não poderia imaginar que seria recrutado pelo FBI e usaria meu conhecimento para prender espiões, terroristas e sequestradores. Nunca previ que escreveria mais de uma dúzia de livros sobre comportamento humano, daria palestras anuais na Harvard Business School, faria vídeos educativos que teriam mais de 35 milhões de visualizações e prestaria consultoria para organizações e governos em todo o mundo. Eu não fazia ideia de que, durante minha autoaprendizagem seguindo minha felicidade, as portas se abririam para mim, como Joseph Campbell havia previsto, onde eu “nem sabia que elas existiam”.

Foi um trabalho árduo. Tive que me comprometer totalmente a aprender sobre comunicação não verbal – algo que ainda busco todos os dias. Mas o trabalho duro é o preço a pagar por esse presente que nos damos ao escolher seguir nossa felicidade.

Talvez o melhor de tudo seja que não somos os únicos beneficiários quando encontramos a felicidade.

Você não precisa ter como objetivo salvar o mundo ou a humanidade para conquistar a maestria e o autodomínio. Penso no jovem na raia ao lado da minha na piscina local, que pratica com perfeição a discreta “natação de combate” – de lado, braços mantidos embaixo d’água para evitar respingos, deslizando entre as braçadas, apenas a boca fora da água para respirar – inspirado em um vídeo que baixou da internet porque deseja ser um SEAL da Marinha dos Estados Unidos. Ou em William, um homem de 40 e poucos anos que reconhece que, quando está empolgado com alguma coisa, fala rápido demais. Ele sabe disso, sua esposa certamente sabe, assim como seus gerentes seniores, que querem que ele “desacelere um pouco”. Por isso, nas tardes de sábado ele pratica falar em um gravador, recitar um discurso em cadência, quase como um pregador, ensinando a si mesmo a ritmar sua fala para que, ao compartilhar seus pensamentos, os outros tenham tempo de absorvê-los. Ele é um gestor de sucesso, mas quer ser melhor. Enquanto seus amigos assistem às corridas de Fórmula 1 na TV nos dias de folga, ele está se aprimorando, uma fala de cada vez.

Autoaprendizagem enche o nosso poço do conhecimento. Ela fornece os recursos para avaliar opções e tomar decisões, as habilidades para encontrar e coletar informações ou buscar novas iniciativas, e a segurança de que podemos aprender tudo que é necessário para avançar na vida.

Autoaprendizagem demanda tempo, mas não necessariamente dinheiro. Durante anos, a biblioteca local foi o maior recurso que tive para minha auto-orientação em comunicação não verbal. A internet coloca um universo de informações ao seu alcance – de vídeos com tutoriais fáceis de seguir a artigos científicos confiáveis e podcasts envolventes. Também é possível obter orientações sobre recursos simplesmente informando às pessoas nas mídias sociais o que você está buscando.

Qual será seu aprendizado? É uma pergunta que deve despertar entusiasmo e que podemos nos fazer a qualquer momento da vida. Autoaconselhamento é um presente que você dá a si mesmo. Com ele, você cria uma dinâmica própria, uma descoberta que leva à seguinte enquanto mapeia seu próprio caminho, forma seu próprio caráter e decide quem você será e o que você defende.

Se você realmente quer ser excepcional, comece a aprender hoje. Comece a construir seu arcabouço pessoal de conhecimento. Dê um passo à frente. Assuma o controle! Divirta-se planejando o que quer e precisa saber e como vai chegar lá. Há tantas maneiras de aprender: ler por conta própria, conversar com outras pessoas bem informadas sobre o que você procura aprender, ouvir podcasts, assistir a tutoriais, inscrever-se em um curso, participar de organizações ou grupos on-line. Delicie-se com a sensação de saber para onde sua busca de aprendizado o leva. Confie que portas se abrirão para você. Crie esse aprendizado para si mesmo. Ao fazer isso, os excepcionais lhe darão boas-vindas, porque eles entendem e respeitam o compromisso que você assumiu.

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Joe Navarro

Sobre o autor

Joe Navarro

JOE NAVARRO foi agente de contrainteligência do FBI por 25 anos e supervisor especializado em comunicação não verbal. Hoje, é palestrante e presta consultoria ao próprio FBI e a grandes organizações. É autor de diversos livros sobre comportamento humano e linguagem corporal, entre os quais O que todo corpo fala, que já vendeu mais de 1,2 milhão de exemplares, e As cinco habilidades das pessoas excepcionais, este último com Toni Sciarra Poynter.

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Toni Sciarra Poynter

Sobre o autor

Toni Sciarra Poynter

TONI SCIARRA POYNTER é escritora e editora. Mora em Nova York.

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