Prefácio
Ginny Meyer consultou o relógio: cinco para as cinco. Neil chegará do trabalho a qualquer momento, pensou. Ben não ficará sozinho por muito tempo. Além disso, ele e seu amiguinho Andrew estavam grudados na televisão e nem notaram quando Ginny lhes disse que iria até a casa de Nancy para mostrar-lhe a torta de salmão que acabara de fazer.
Nancy era a vizinha ideal. Além de compartilhar receitas, muitas vezes se dispunha a ouvir a amiga e se oferecia para comprar algo no mercado ou pegar as crianças na escola. De certa maneira, era como ter uma irmã, e esse pensamento alegrou o coração de Ginny.
Nancy comeu o pedaço da torta acompanhado de um Chablis leve e seco. Quando sorriu carinhosamente para Ginny, esta soube de imediato que a amiga tinha aprovado sua última criação gastronômica e sentiu-se orgulhosa.
A batida de uma porta de carro fez com que as duas interrompessem a degustação. Ginny sabia que devia ser Neil chegando e apressou-se em despedir-se.
A caminhonete de Neil estava na entrada da garagem. Quando se aproximou da porta da frente, esta se abriu de repente e o pequeno Andrew praticamente a derrubou. Ele se virou e parou, olhou para ela por um instante e continuou a correr pela calçada. Ginny pensou que talvez Ben tivesse dito alguma coisa que magoara o amigo.
Ao entrar em casa, ela ouviu o som ensurdecedor da televisão. Chamou por Ben e Neil, pegou o controle remoto e abaixou o volume. Imediatamente notou o silêncio absoluto. Tudo pareceu ficar imóvel. Ela se encaminhou para a escada e mais uma vez chamou. Nada. O coração de Ginny começou a bater forte. Havia alguma coisa errada.
Ao ouvir um grunhido no andar de cima, ela subiu a escada correndo. Quando chegou ao topo, ouviu um grito terrível vindo do quarto do filho. Ao olhar para dentro, deparou com o impensável. Diante dela estava Neil, coberto de sangue, segurando o corpo inerte de Ben. Neil gritava de dor. As balas estavam espalhadas pelo chão, junto do revólver que Ginny exigira que ele escondesse para que Ben não brincasse com a arma. Era tarde demais. Não havia o que dizer, a dor era imensurável. Os dois se abraçaram ao corpo do menino e imploraram por sua vida, mas ele já tinha partido.
E assim começou o dia mais longo da vida dos dois.
Introdução
A história que você acabou de ler é horrível – um erro fatal. É difícil acreditar que essas coisas acontecem, mas, infelizmente, elas são mais comuns do que podemos imaginar. Escolhi essa história porque ela me marcou muito. Havia tanta culpa, acusação e vergonha emanando de Ginny e Neil quando vieram me procurar que foi difícil trazer Ben. Os dois estavam totalmente imersos na dor da perda do filho, consumidos pelo remorso. Ginny culpava Neil por não ter escondido a arma e se culpava por ter saído. Neil culpava a mulher e a si mesmo pelas mesmas razões. Ambos se sentiam responsáveis pela morte de Ben e desapontados um com o outro. Era como se estivessem quase tão mortos quanto o filho. Ben chegou com um intenso sentimento de amor e perdão. Implorou-lhes que aceitassem seu perdão e que se perdoassem. Eu me lembro de como fiquei impressionado ao ouvir uma criança dizer a seus pais: Vocês ainda têm a vida inteira pela frente. Parem de arruiná-la. Neil e Ginny saíram da minha casa aliviados porque Ben tinha se manifestado, mas ainda se culpando muito. Algum tempo depois eu soube que eles tinham se divorciado.
Fiquei muito triste, porque o amor e o perdão que Ben demonstrara não fora suficiente para manter seus pais juntos. Em vez de homenagear o filho, criando alguma coisa positiva a partir da tragédia (como trabalhar para que houvesse um controle maior de armas), decidiram perpetuar a culpa. Perderam uma oportunidade de transformar um erro numa dádiva para o mundo. Ginny e Neil poderiam ter ficado juntos, dando palestras sobre segurança das armas de fogo, tendo mais filhos e deixando o amor entre os dois crescer. Imagine como Ben ficaria feliz ao saber que sua morte não fora em vão.
Por isso escrevi este livro. Aprendi com aqueles que estão do outro lado a viver melhor a vida e continuamente me surpreendo com o que o mundo espiritual tem a nos dizer. Nos últimos 25 anos, tenho compartilhado histórias sobre espíritos em meus livros e minhas demonstrações, mas sempre fico desapontado quando o conselho de um espírito é ignorado. As pessoas ficam impactadas quando recebo dos espíritos detalhes como nomes ou cenas de morte corretos; mas continuam ignorando sua orientação.
Ao deixar o corpo físico, a alma passa a ver a vida de uma nova perspectiva. É como se tivesse feito uma cirurgia que lhe permitisse enfim dispensar os óculos e ver com mais nitidez. Os espíritos sabem por que determinadas situações precisam acontecer. Reconhecem o valor dos outros, até de seus inimigos, e o que precisaram aprender com as experiências. Também sabem que poderiam ter evitado certos erros se não tivessem se deixado dominar pelo ego. Quando chegam à luz, os espíritos ficam ansiosos para compartilhar esses conhecimentos com os vivos. Tenho a sorte de ser um beneficiário da sabedoria e da orientação de muitos espíritos e fico feliz por poder transmitir os ensinamentos deles a vocês.
Muitos ficam obcecados por algo que está fora do nosso controle: o passado. Remoem o que “deveria ter sido” ou “poderia ter sido” a vida. Os arrependimentos são muitos, mas nosso único poder está no agora e em como o momento presente afeta nosso futuro. Quando alguma coisa sai errada, atribuímos a culpa a alguém, ou ao próprio Deus. Quando ocorre uma tragédia, ficamos arrasados pela dor e pela culpa, e deixamos de vê-la como uma oportunidade para criar algo positivo. Revivemos dramas recentes ou da infância, esperando que a vida mude, embora continuemos iguais. Se não superarmos essa tendência, nos sentiremos sempre dominados pelos acontecimentos. O que fazer, então?
Desejo que este livro o ajude a construir uma vida mais feliz. Oportunidades surgem todos os dias; você pode mudar. O importante é assumir a responsabilidade por seus pensamentos e ações. Sua vida neste exato momento é resultado de seus pensamentos, pois eles são energia – são reais. É por causa do poder dos nossos pensamentos que os espíritos nos incentivam a perdoar, mesmo quando parece impossível, e a superar os medos, para que nossos sonhos se concretizem. Se seguirmos o conselho dos espíritos, seremos capazes de converter conflito em paz e raiva em compaixão. Substituiremos a culpa pela responsabilidade, corrigindo erros e transformando sofrimentos em realizações.
Todos nós estamos destinados a viver uma existência de amor e a ter todas as nossas necessidades atendidas. Cada um de nós está destinado a expressar-se como o ser único que é. Nossos amigos espirituais querem que contribuamos para melhorar o mundo, que sejamos felizes e possamos resolver nossas questões antes de atravessarmos o limiar da luz e voltarmos para Casa.
Você já deu o primeiro passo ao começar a ler este livro. Estas orientações espirituais o incentivarão a avançar na vida. Desejo que você nunca desista de ter uma existência cheia de amor, satisfação e felicidade.