A HISTÓRIA
Minha família por parte de mãe é de origem italiana, e minha família por parte de pai, espanhola, logo, não teria como, em algum momento da vida, eu não aprender a cozinhar coisas gostosas.
Lembro-me de ver minha avó, que eu carinhosamente chamava de Vó Gila, preparar esfihas, nhoque e charutos (de arroz e carne moída enrolados em folhas de repolho) para os almoços de domingo. Ficava impressionado com quão trabalhoso era o método de preparo, mas parecia que ela não se importava com tudo aquilo que tinha que fazer. E eu acabava me perguntando qual seria o motivo de alguém se esmerar tanto para fazer um prato que a poucos metros dali era vendido já pronto.
Lembro-me ainda da minha outra avó, a Vó Dete, como eu também carinhosamente chamava, na mesma situação: ela preparava uma feijoada completa e, em outras ocasiões, um cozido. Ambos eram incríveis, mas eu sempre ficava observando todo o trabalho que dava preparar os pratos para tanta gente e terminava sem entender o porquê daquilo tudo.
Hoje eu entendo.
O amor, o reconhecimento, a força e a felicidade de poder dizer “fui eu que fiz” tornam qualquer trabalho mais fácil, qualquer dificuldade um desafio simples. Cozinhar algo para sua família é um prazer que você deve aproveitar ao máximo, pois, infelizmente, é um prazer com um prazo de validade chamado vida. Minha mãe, Doroty Novaes, para sempre vai ter feito a melhor comida do mundo! Não importa quantas lentilhas eu coma ou quantos estrogonofes me sejam servidos na vida, o sabor da dedicação e do amor que ela tinha por mim, por minha irmã, Catarina Novaes, e pelo meu pai, Manoel Novaes, não estará presente em nenhum outro prato que eu comer no mundo.
Infelizmente, hoje a Vó Gila, a Vó Dete e a minha mãe estão cozinhando em algum lugar muito mais legal que este em que vivemos, e foi justamente depois dessa última perda, a da minha mãe, que nasceu o Ana Maria Brogui,
um projeto que talvez tenha dado certo apenas por ter sido abençoado por ela desde o começo.
Minha mãe faleceu no início de 2009. Meu pai foi um guerreiro nos dois anos em que cuidou dela, durante seu tratamento. Depois que ela partiu eu achei que deveria deixá-lo ter privacidade para seguir sua vida, então, pela primeira vez desde que nasci, fui morar sem meus pais.
Sempre amei o jeito simples, porém saboroso, com que minha mãe preparava os pratos do café da manhã, do almoço e do jantar, então decidi perguntar algumas das receitas para minha irmã e gravar o modo de preparo delas em vídeos, para que eu nunca mais me esquecesse. E é por isso que a primeira receita do meu canal é a lentilha. Sempre adorei o sabor desse prato, bastava um pouco de farinha de mandioca por cima e, pronto, eu tinha um jantar perfeito.
Porém, antes de subir esse vídeo para a internet, eu fiquei pensando em ter um nome que lembrasse algum programa de culinária da televisão. Queria que fosse meu programa particular de receitas e, como eu tinha um blog chamado Brogui, fiz uma homenagem à apresentadora Ana Maria Braga, criando este nome que vocês conhecem hoje:
Ana Maria Brogui.
Eu não tinha pretensão alguma com esse projeto, mas sem querer ele se tornou o primeiro programa de culinária do YouTube brasileiro. Vale contar, porém, que o programa não nasceu no canal em que está hoje, e sim no Videolog, precisamente no dia 23 de julho de 2009.
A ideia inicial era que ele fosse apenas o meu livro de receitas virtual, mas um dia encontrei uma receita de esfiha de queijo de um famoso restaurante árabe, testei, modifiquei algumas pequenas coisas e postei no canal, a fim de guardá-la para uma ocasião de “receber amigos em casa” ou algo do tipo.
O que eu não esperava era que, por se tratar de uma receita famosa, o vídeo tivesse mais de 400 mil acessos! E foi aí que pensei: “E se eu descobrisse e revelasse o segredo de algumas receitas famosas para as pessoas?”
Ainda assim não abandonei a ideia de guardar os pratos deliciosos que minha mãe preparava, como o estrogonofe de filé-mignon e a berinjela à milanesa, mas eu já sabia naquele momento o que as pessoas gostariam mesmo de ver.
Então dei continuidade às gravações em que desvendava pratos famosos e fui intercalando com receitas inusitadas
e simples, para que todos pudessem ter a oportunidade de fazer uma deliciosa refeição para alguém especial.
Cozinhar é isso! Cozinhar é diversão, é descoberta, é desafio, é muitas vezes recomeçar do zero para chegar à perfeição. Isso soa familiar para você? Tenho certeza de que sim, pois cozinhar é muito parecido com a vida: não sabemos de tudo, eu não sei de tudo, você não sabe e o chef
mais talentoso do mundo também não.
Mas cozinhar é algo tão mágico que nivela todas as pessoas do mundo a um mesmo patamar, o de pequenos
seres em evolução, pois todos nós que cozinhamos sempre temos algo novo para aprender.
Portanto, evolua sempre e jamais desista! Você certamente será mais habilidoso amanhã do que é hoje, basta acreditar nisso.
Eu acredito!