Introdução
Este livro reúne o cânone de The School of Life: é nossa seleção dos grandes pensadores nos campos da filosofia, da teoria política, da sociologia, da psicanálise, das artes plásticas, da arquitetura e da literatura que consideramos ter mais a nos oferecer nos dias de hoje.
A ideia de montar um “cânone” pode parecer meio estranha, talvez até opressiva. Parece injusto deixar tanta gente de fora. E, aliás, quem decide? Será que as pessoas que fizeram o cânone não foram tendenciosas?
Admitimos com satisfação que fomos tendenciosos, sim. Por vezes nos ensinaram a pensar mal disso, como se as únicas informações boas fossem as que não trazem absolutamente nenhuma intenção nem desígnio e deixam tudo a cargo do público. Essa ênfase na neutralidade é compreensível. Em termos históricos, sobretudo no século XX, houve muitas tendências ruins por aí. Mas, em última análise, acreditamos que a meta não é ser completamente imparcial, mas apresentar tendências “boas”, ou seja, que favoreçam uma seleção de pensadores que nos apontem ideias valiosas e importantes. Em The School of Life, temos uma forte inclinação a favor da inteligência emocional e do uso da cultura como ferramenta de conforto e esclarecimento.
Temos algumas opiniões bastante específicas sobre o que coloca alguém na categoria de “grande” pensador. Em geral, grandes pensadores são incluídos em obras enciclopédicas com base em sua reputação: faz-se uma lista dos nomes mais influentes e das ideias que moldaram de forma mais memorável o mundo intelectual. No entanto, temos em mente um objetivo diferente: queremos descobrir quais ideias nos ajudam a lidar com alguns dos principais problemas de nossa época. Para nós, o “grande” pensador é aquele cujas ideias têm maior probabilidade de serem úteis para nossa vida hoje.
Por ser necessariamente muito seletivo, um cânone está sempre vulnerável a ataques. Porém temos uma visão otimista da seleção, que é uma necessidade simplesmente inescapável num mundo rico em informações. O ideal não é evitar sermos seletivos; o real desafio é tentarmos ser seletivos da melhor maneira possível. Aos nossos olhos, isso significa escolher pensadores que possam esclarecer algumas das maiores dificuldades que enfrentamos em nossa vida política, profissional e pessoal. Não somos historiadores que recuperam ideias pelas ideias; somos filósofos aplicados buscando conceitos intelectuais que possam ser colocados em ação aqui e agora.
Trabalhamos muito para fazer os pensadores deste livro soarem simples, fáceis e (esperamos) fascinantes. No passado, muitos deles foram presos numa armadilha cruel. Eles tinham a dizer coisas imensamente relevantes e importantes. Mas o modo como o fizeram garantiu que não fossem ouvidos. Como seus livros eram um pouco densos demais, algumas de suas ideias soaram estranhas e muitos dos seus conceitos fundamentais ficaram sujeitos a se perder em meio a uma confusão de informações secundárias. Eis os princípios que usamos para selecionar as ideias de cada pensador que consideramos mais importantes:
- Apenas umas poucas coisas ditas por qualquer mente, por maior que seja, têm alguma probabilidade de ter importância crucial e duradoura.
- Esses pontos-chave são separáveis do corpo completo da obra de um pensador.
- Somos criaturas dadas ao esquecimento e sujeitas à pressão do tempo. Tendemos a esquecer os detalhes tortuosos de uma discussão prolongada e complexa. Assim, precisamos que as mensagens centrais sejam explicadas de forma simples e memorável.
- Apesar do que nos diz a cultura acadêmica, o contexto não é decisivo. Verdades importantes podem ser encontradas em lugares estranhos e ser retiradas deles; podem estar na China do século III, num salão aristocrático de Paris do século XVIII ou na casinha de uma aldeia alpina do século XIX. Porém o que sempre importa no final é o que elas podem fazer por nós hoje.
- É um paradoxo trágico que certas maneiras de mostrar reverência pelos grandes pensadores acabem impedindo que eles tenham algum impacto no mundo – o extremo oposto do que uma reverência busca obter. Ser um pouco informal com os grandes pensadores é a maior homenagem que podemos prestar a eles.
- Nosso fio condutor é o de que grandes ideias deveriam ser amplamente conhecidas e desempenhar um papel em nossa vida.
Dito isso, reconhecemos que há um receio justificado em relação à “simplificação”. Esse receio – alimentado pelo mundo acadêmico – é de que, ao simplificar, iremos inevitavelmente trair e omitir o que realmente importa. Entendemos essa ansiedade, mas não queremos deixá-la triunfar, pois também temos consciência do perigo de lhe dar ouvidos em excesso. A complexidade desnecessária pode fazer com que boas ideias sejam totalmente ignoradas. Achamos que as verdades importantes sobre como deveríamos levar a vida são capazes de receber uma formulação popular. Somos contra a visão trágica de que o que é importante está condenado a ser sempre impopular ou incompreensível para a maioria dos cidadãos.
A popularização, sob nosso ponto de vista, é uma tarefa nobre e grandiosa, principalmente num mundo democrático voltado aos consumidores, onde a cultura de elite mais ou menos perdeu influência. É isso que torna reais as ideias na vida de uma sociedade. E, de qualquer modo, nossa vida nunca é inteiramente livresca ou intelectual. Somos sempre impelidos por pensamentos objetivos que sirvam como guias para nossa conduta e, em certa medida, dependemos deles. São essas as ideias que importam para o desenvolvimento cotidiano de uma comunidade. O preciosismo pode ser a ruína dos melhores conceitos.
Até hoje, o mundo moderno deixou o estudo e a transmissão das ideias culturais principalmente a cargo dos departamentos de humanidades das universidades. Seu foco principal tem sido tentar entender o valor dos grandes pensadores em si e por si. Aqui, de modo um tanto herético, fazemos algo bem diferente: queremos saber o que eles podem fazer por nós.
Garimpamos a história para trazer a você as ideias que consideramos ter maior relevância para o nosso tempo. Teremos sido bem-sucedidos se, nos dias e anos por vir, você se flagrar recorrendo a elas para esclarecer os dilemas e tristezas da vida cotidiana.