“Ele, de repente, desatou a chorar. Já anoitecera. Larguei minhas ferramentas. Não estava nem aí para o martelo, o parafuso, a sede ou a morte. Havia, numa estrela, num planeta, o meu, a Terra, um pequeno príncipe a ser consolado! Peguei-o no colo. Embalei-o. […] Não sabia bem o que dizer. Sentia-me desajeitado. Não sabia como chegar a ele, onde alcançá-lo… Tão misteriosa é a terra das lágrimas.”
– Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe
Apresentação
Isabelle Filliozat
Como mãe de dois filhos, vivenciei estados de felicidade intensa, amor incondicional e sensações de infinito bem-estar. Também passei por momentos de extrema exasperação, impotência e desespero. Para minha imensa vergonha, tive impulsos de diminuí-los, dominá-los, “mostrar quem é que manda”, tive vontade de bater, esganar, largar tudo e ir embora… Experimentei emoções, tensões, uma irritação que nunca, jamais, antes de eles nascerem, imaginei que pudesse sentir.
Diz-se que, entre os 6 e os 11 anos, as crianças se encontram em “período de latência”. É verdade que essa fase é menos sonora que outras, há uma certa trégua entre os berros dos pequenos e o bater de portas e a música alta dos maiores. Mas esse é também um período crucial para a construção do cérebro, da afetividade e das competências sociais. E confesso que, para mim, para o pai deles e acho que para eles, foi o período mais difícil de atravessar. Muitas vezes me senti impotente e despreparada frente ao sofrimento deles ou ao muro que eles erguiam entre nós. Os pais temem a adolescência e os acessos de fúria dos 2 anos, mas o período dos 6 aos 11 pode se revelar bastante delicado. As bases do sentimento de identidade, a segurança interior, a confiança em si e os alicerces da confiança nas próprias competências já se assentam desde o início da vida, mas nem tudo está definido aos 6 anos. Se finalmente a hora de ir para a cama agora lhes convém (a partir dos 6 anos a maioria das crianças vai dormir sem problema por volta das 20 horas, é uma questão de melatonina e de ritmo biológico), se dominam melhor suas emoções e se reagem de forma mais dócil aos nossos pedidos, outras dificuldades se delineiam: o aprendizado escolar, a busca progressiva de autonomia e as relações sociais.
Os temas relacionados à escolaridade nos pareceram ser assunto para um livro inteiro. Deixamos então essa questão à parte, não porque não teria lugar numa obra sobre crianças de 6 a 11 anos, mas justamente porque o lugar que ocupa é tão importante que justifica um tratamento específico. Tampouco vamos evocar aqui as patologias, as difíceis provações que algumas têm de enfrentar. Vamos nos concentrar nas pequenas dificuldades relacionais do dia a dia em família.
Neste livro, portanto, vamos prosseguir em nossa tentativa de compreender o que se passa na cabeça de nossos filhos nessa etapa de seu desenvolvimento, tantas vezes marcada por conflitos de poder.
Cada grito, cada briga, cada tapa, castigo ou repreensão nos afasta dos nossos filhos. Já me peguei gritando, e até deixando de castigo, mesmo sabendo que gritos e castigos eram ineficazes. Tive dúvidas, senti culpa, desespero. Fui então em busca de chaves. Chaves de compreensão, para começar, porque, quando compreendemos o que se passa, fica mais fácil agir de maneira eficaz e pertinente. E também busquei ferramentas concretas para lidar com os desafios do cotidiano.
Escrevi estas páginas para que pudéssemos buscar outros caminhos além daqueles percorridos na nossa infância, e assim, como pais, ser capazes de escolher nosso modo de atuar em vez de sermos guiados por nossa história pessoal. Este livro é centrado na compreensão do que ocorre na cabeça de nossos filhos e nas respostas que podemos dar aos comportamentos e, principalmente, às necessidades deles.
A abordagem empática da criança, dentro da linha da parentalidade positiva, significa mais alegria no dia a dia familiar. E o tempo passa tão depressa…