Você tem câncer
Meu nome é Odile. Eu tinha 32 anos e era médica, casada, mãe de um menino de 3 anos e filha de pais amorosos. Tinha um emprego fixo e não enfrentava problemas financeiros. Tudo parecia estar em ordem e, aparentemente, eu era feliz. Então algo aconteceu e transformou a minha vida, e é isso que quero compartilhar com você.
No início do verão de 2010 comecei a me sentir cansada, irritadiça e um pouco deprimida sem nenhum motivo. Percebi que alguma coisa no meu corpo não estava funcionando bem. Talvez por causa dos meus conhecimentos médicos tive o pressentimento de que estava com câncer. Não sabia se era ginecológico ou digestivo, mas sentia que havia algo anormal crescendo dentro de mim. Com a chegada do outono, descobri o motivo da minha inquietação: consegui palpar um tumor no meu abdome.
Esse tipo de diagnóstico é incomum, pois as pessoas não costumam pressentir que têm um câncer nem conseguem palpá-lo. Mas quem é médico e atende muita gente desenvolve o tal “olho clínico”, que é bastante útil para fazer diagnósticos e, às vezes, nos permite saber o que está acontecendo simplesmente ao olhar para o rosto do paciente. Na Antiguidade, os médicos desenvolviam a capacidade de antever a doença sem a realização de exames, já que não dispunham deles.
O trabalho desses profissionais agora é bem mais fácil, graças a exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética, ultrassonografia e mamografia, entre outros. No passado, porém, o que se tinha eram as mãos, os olhos, os ouvidos e quase nada mais. O médico precisava saber observar para poder fazer um diagnóstico correto. Hoje, embora não aprimoremos tanto esse sentido da observação, ainda conservamos um pouco desse olho clínico.
Depois de palpar a massa abdominal, procurei meus colegas em busca do diagnóstico definitivo. A princípio as imagens mostraram um tumor grande benigno no ovário, mas alguns dias depois a intervenção cirúrgica constataria que era um câncer. Após poucas semanas, surgiram metástases no pulmão, no sacro e na vagina. O prognóstico não era animador e, segundo as estatísticas, a minha probabilidade de sobreviver era baixa.
Minha vida foi totalmente abalada em apenas um mês. Senti a morte se aproximar e a necessidade de me despedir. Senti também que tinha falhado com meu filho. Nunca me vi tão amedrontada. Estávamos em novembro e pensei que morreria antes do Natal – não veria sequer meu filho abrir os presentes. Pedi a meus pais, minha irmã e meu marido que cuidassem dele e que falassem com ele sobre mim. Preparei um vídeo de despedida e um álbum de fotos para que ele se lembrasse dos bons momentos que vivemos juntos e de quanto foi amado por sua mãe.
Realmente tive a sensação de que o fim estava próximo. Não conseguia parar de chorar e me sentia muito deprimida e angustiada. Perdi as esperanças e afundei em um estado de profunda autopiedade. Conversei com os oncologistas e pedi que fossem sinceros comigo, pois não queria sofrer. Disse a eles que preferia não fazer quimioterapia e morrer tranquila, caso acreditassem que o câncer não era sensível a esse tipo de intervenção. Se o fim fosse inevitável, não queria prolongar minha agonia. Eles me incentivaram a ir em frente, afirmando que já tinham visto casos mais graves serem resolvidos, mas prometeram me informar se percebessem que o tratamento não estava funcionando, para que eu pudesse decidir se iria abandoná-lo.
De repente, algo mudou dentro de mim. Parei de chorar e renasci, como uma fênix, das minhas próprias cinzas. Senti que não iria morrer, não queria nem poderia morrer. Ainda tinha muito a fazer, queria ver meu filho crescer e conhecer meus netos. Para cada pessoa, a doença tem um significado pessoal e diferente; cada um a aceita e a vive de forma diferente. Esse foi o meu processo.
O que me fez mudar de ideia e substituir meus sentimentos de desesperança por um desejo irrefreável de viver? Ainda não sei. Eu simplesmente queria evitar minha morte e comecei a me agarrar a tudo que podia me motivar a viver. Decidi enfrentar a doença de forma positiva e confiar que meu corpo e a medicina iriam me curar.
Depois da difícil notícia e de escutar algumas vezes a palavra CÂNCER, tive que digeri-la e aceitá-la. Quando admiti que estava com uma doença muito grave e que poderia sucumbir a ela, ressurgi. Já havia me entregado à ideia de morrer, mas algo emergiu em mim e fui inundada por uma onda de energia e otimismo; resolvi que iria me empenhar completamente em me curar. Eu sabia que poderia perder a batalha, mas lutaria pela cura com todas as forças. Faria tudo o que fosse possível, da minha parte, e confiaria no tratamento proposto para eliminar a doença.
A primeira sessão de quimioterapia foi em 17 de novembro de 2010 e com ela iniciei mudanças na alimentação, comecei a fazer exercícios físicos, experimentei algumas terapias alternativas que me ajudaram a acalmar a mente. Passei a meditar e a participar de forma ativa do curso da doença. Fui sentindo que as metástases que eram palpáveis diminuíam e desapareceram em poucas semanas. Parece incrível, pois foram apenas algumas semanas. Não estou mentindo. As pessoas que viram e palparam essas metástases observaram esse processo. Sei que há poucos casos como o meu e não quero que você pense que, se fizer tudo o que eu fiz, terá a cura garantida. Mas acredito que, se você se alimentar bem, fizer exercícios e mantiver a mente em paz, lidará muito melhor com a doença e os tratamentos serão mais efetivos do que se ficar sentado no sofá esperando para ver o que acontece.
Desde que comecei a quimioterapia, todas as vezes que ia ao hospital eu dizia ao oncologista que já estava curada. Meu otimismo era tão grande que eu me imaginava assim. Diante da minha insistência, o especialista concordou em fazer uma tomografia computadorizada. Em janeiro de 2011, a PET-TC (tomografia por emissão de pósitrons) mostrou que as metástases haviam desaparecido – o câncer tinha sumido da minha vida. Da mesma forma que pressenti que estava doente, também pressenti que estava curada. Foi maravilhoso. Segundo o oncologista, um milagre.
Qual foi a minha receita para combater o câncer? É isso que pretendo contar neste livro. Vou compartilhar tanto as escolhas alimentares quanto as técnicas que me ajudaram a recuperar a saúde, apesar de sofrer de um câncer de ovário em estágio avançado. Vou contar para você qual foi a prescrição que receitei a mim mesma para obter a cura: foi basicamente comida nutritiva, amor e paz interior.
O final dessa doença nem sempre é feliz, e todas as vezes que a enfrentarmos a sombra da morte estará na nossa mente. Mas é preciso tentar mantê-la afastada e desfrutar de cada momento oferecido por esta vida maravilhosa. Viver o aqui e agora sem pensar no amanhã, pois o amanhã é sempre incerto, com ou sem câncer. Nesta vida, a única certeza que temos é a de que vamos morrer. A diferença básica de uma pessoa com câncer para o restante da população é que ela tem mais consciência de que a morte pode acontecer em um futuro próximo. No entanto, uma pessoa saudável pode ser atropelada a qualquer momento e morrer. Não sabemos quando chegará a nossa hora de deixar esta vida, por isso devemos aproveitar cada instante, saborear cada minuto, viver de forma plena e consciente.
Gosto muito desta frase de Sócrates: “Existe apenas um bem, o saber; e apenas um mal, a ignorância.” Quero que, ao terminar esta leitura, você saiba o que é o câncer, por que ele ocorre e o que pode fazer para preveni-lo e se curar dele. Com essas informações, poderá tomar decisões abalizadas sobre o seu estilo de vida.
No hospital, a maioria dos pacientes pergunta aos médicos e às enfermeiras se pode fazer alguma coisa por si mesmo para combater a doença e o que pode comer. A resposta mais comum é: “Não faça nada e coma tudo que tiver vontade.” Também foi o que me disseram, mas me recusei a acreditar que não poderia fazer nada. Então mergulhei nas publicações científicas mais recentes para tentar descobrir se havia algo que eu pudesse fazer a fim de tornar a quimioterapia mais eficaz e ajudar meu corpo a se curar. E descobri que existem, sim, muitas ações simples e ao alcance de nossas mãos.
A ideia de que não há nada que possamos fazer não é correta. Você deve buscar informações, fazer perguntas, participar ativamente, afinal quem está doente é você, não eles. E, não, você não pode comer o que tiver vontade, pelo menos não até que saiba o que causa câncer e o que ajuda na prevenção e na cura dessa doença.
Meus colegas médicos, às vezes por falta de tempo, outras por falta de conhecimento, abandonam seus pacientes à própria sorte e os entregam completamente à quimioterapia, à radioterapia e à cirurgia. Esses tratamentos de fato são efetivos e o oncologista sempre lhe prescreverá o melhor. Mas você também pode contribuir para que sejam mais bem tolerados e tenham uma eficácia ainda maior.
Evidências científicas mostram que há muitos tratamentos além dos convencionais (alopáticos) para prevenir e vencer o câncer. Desejo acompanhá-lo em seu caminho rumo à cura e mostrar o que fiz para alcançá-la além de me submeter à quimioterapia e à cirurgia.
Depois de dois anos livre da doença, estou cheia de vitalidade e vontade de viver. Quero que você também chegue lá, ainda que neste momento esteja doente e veja tudo negro.
Desde fevereiro de 2011 venho me empenhando em despertar consciências ao ensinar a importância de uma alimentação saudável e equilibrada para o tratamento do câncer. Tenho me dedicado a mostrar como as emoções negativas nos fazem ficar doentes e como as positivas contribuem para que nos curemos. Como parte dessa iniciativa, comecei a escrever um blog (em espanhol): www.misrecetasanticancer.com. A princípio era onde eu anotava as receitas que ia criando com os alimentos anticâncer, apenas para não me esquecer delas, mas logo ele foi ficando maior e passei a armazenar todo tipo de informações relacionadas à alimentação anticâncer e ao tratamento natural da doença.
Em outubro de 2011, senti que o blog não era suficiente para divulgar esses dados e comecei a promover oficinas e dar palestras na minha cidade, Granada. Depois, as oficinas foram aumentando e passei a viajar por toda a Espanha com um único objetivo: ajudar as pessoas com câncer. Agora, decidi compilar em forma de livro as informações que apresento nas oficinas, para que todos que quiserem possam tê-las à mão.
Este livro é um gesto de amor. É a maneira que encontrei de dar a você algo que para mim é muito importante: todos os conhecimentos e as experiências que adquiri desde que ouvi a palavra câncer. Ele foi escrito sob a perspectiva de uma mulher e mãe que ficou doente, que chorou e que sofreu muito, mas que soube aproveitar a adversidade para crescer e aprender. Atualmente existem muitos livros sobre alimentação anticâncer, sendo a maioria deles escrita por oncologistas e nutricionistas que não vivenciaram a doença em primeira mão. Isso não quer dizer que sejam piores do que este; podem até ser melhores. Mas escrever sobre algo que se conhece em teoria é diferente de escrever sobre algo que se viveu na própria carne.
Espero que estas informações sejam úteis e possam ajudar muitas pessoas. Para você que não tem câncer e deseja preveni-lo, dou meus parabéns por prevenir em vez de remediar. Assim deveria ser a medicina: preventiva, e não curativa. Muitas vezes a medicina chega tarde e pode apenas aliviar os sintomas. No caso do câncer, isso é muito frequente. Os médicos agem somente quando a doença é detectada.
Antes do câncer eu era uma médica convencional, que trabalhava no serviço público de saúde. Como a maioria dos médicos de família, eu era diferente dos especialistas. Adorava sentar e ouvir meus pacientes, conhecer seus medos e preocupações. Era mais confidente do que médica. Sei que o apoio e a compreensão de um médico curam mais que o melhor dos remédios. Muitos pacientes não precisam de medicamentos; precisam apenas ser ouvidos. Se eu pudesse dar um só conselho aos meus colegas oncologistas, diria para escutarem mais seus pacientes e demonstrarem mais carinho e apoio. Diria a eles que, quando uma pessoa tem câncer, fica morta de medo e precisa de alguém que lhe dê um tapinha nas costas e diga que vai acompanhá-la, que estará com ela sempre que precisar, que não a trate como um número, e sim como o indivíduo que ela é.
Neste livro vou contar muitas coisas sobre o tratamento natural do câncer, mas falaremos principalmente sobre nutrição. Uma alimentação ruim é responsável por um em cada três casos de câncer, então imagine o peso que tem na prevenção e no tratamento da doença. Mesmo assim, não vamos nos esquecer das emoções e dos exercícios físicos.
Você está preparado? Então aqui vamos nós.
Granada, junho de 2013