O Mestre do Amor | Sextante
Livro

O Mestre do Amor

Augusto Cury

ANÁLISE DA INTELIGÊNCIA DE CRISTO 4

ANÁLISE DA INTELIGÊNCIA DE CRISTO 4

JESUS, O MAIOR EXEMPLO DE SABEDORIA, PERSEVERANÇA E COMPAIXÃO 

Quarto volume da coleção Análise da Inteligência de Cristo, mais de dois milhões de livros vendidos no Brasil.

 

Este livro conta uma história de amor: amor pela vida, pela humanidade, por suas falhas e superações. Apenas uma pessoa foi capaz de levar esse sentimento às últimas consequências e, em nome dele, entregar-se à morte.

Em O Mestre do Amor, Augusto Cury investiga a paixão que Jesus nutria pelo ser humano. Com uma abordagem poética – embora baseada na ciência, na história e na psicologia –, o autor faz um estudo das tocantes mensagens que Jesus deixou antes de morrer na cruz.

Jesus sabia que o sofrimento fazia parte de seu destino e que precisava dele para completar sua missão. Refletindo sobre suas reações tão generosas, descobrimos quanto as nossas atitudes podem ser egoístas e percebemos nossa tendência a superdimensionar os problemas, deixando de ver as valiosas lições que eles nos trazem.

Jesus Cristo foi um homem como qualquer outro: sofreu, chorou e viveu momentos de extrema ansiedade. Apesar disso, foi perfeito na capacidade de perdoar, respeitar, compreender, ter misericórdia e dignidade. Mas, principalmente, foi brilhante na habilidade de amar, de ser líder do seu próprio mundo e das próprias emoções.

 

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Ficha técnica
Lançamento 22/09/2020
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 176
Peso 200 g
Acabamento brochura
ISBN 978-65-5564-050-2
EAN 9786555640502
Preço R$ 49,90
Ficha técnica e-book
eISBN 978-65-5564-055-7
Preço R$ 29,99
Lançamento 22/09/2020
Título original
Tradução
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 176
Peso 200 g
Acabamento brochura
ISBN 978-65-5564-050-2
EAN 9786555640502
Preço R$ 49,90

E-book

eISBN 978-65-5564-055-7
Preço R$ 29,99

Leia um trecho do livro

Prefácio

 

Nunca um homem foi capaz de abalar tanto os alicerces mais sólidos das ciências e das instituições humanas como Jesus Cristo. Seus discursos chocam os conceitos fundamentais da medicina, da psiquiatria, da física e da sociologia.

O pai da medicina, Hipócrates, viveu séculos antes de Cristo. A medicina é uma ciência fantástica que sempre usufruiu dos conhecimentos de outras ciências objetivando produzir técnicas para aliviar a dor e retardar o fenômeno da morte. A medicina pode fazer muito para quem está vivo, mas nada para quem está definitivamente morto. Jesus perturbou os pressupostos da medicina ao discorrer sobre a superação do caos da morte e a janela da eternidade.

O mesmo também se pode dizer em relação à psiquiatria. A psiquiatria é uma ciência poética. Ela trata da alma, que é bela e real, mas intangível e invisível. Ela objetiva corrigir as rotas do mundo das ideias e a aridez da personalidade humana.

Nenhuma espécie é tão complexa quanto a nossa, e nenhuma sofre tanto como ela. Milhões de jovens e adultos são vítimas de depressão, ansiedade, estresse. A tecnologia do lazer nunca foi tão grande e as pessoas nunca estiveram tão tristes e com tanta dificuldade de navegar nas águas da emoção.

Os medicamentos antidepressivos e os tranquilizantes são excelentes armas terapêuticas, mas não têm capacidade de conduzir o ser humano a gerenciar seus pensamentos e emoções. A psiquiatria trata dos seres doentes, mas não sabe como torná-los felizes, seguros, sábios, serenos.

Jesus Cristo falou sobre algo com que a psiquiatria sonha mas não alcança. Convidou as pessoas a beberem de sua felicidade, tranquilidade e sabedoria. Quem tem coragem de fazer esse convite aos íntimos? As pessoas mais tranquilas perdem o controle nos momentos de maior tensão.

As palavras e gestos de Jesus Cristo são capazes de chocar também a sociologia. No auge da fama, ele curvou-se diante de simples galileus e lavou seus pés, invertendo os papéis sociais: o maior deve ser aquele que serve e honra os menores. Seus gestos foram registrados nas matrizes da memória dos seus incultos discípulos, levando-os a aprender lições que reis, políticos e poderosos não aprenderam.

Jesus Cristo ainda fez gestos que abalam os alicerces da física, da química e das ciências políticas. A educação também não passou incólume por esse grande mestre. Sua psicopedagogia não apenas é atual, mas revolucionária. Ele transformou pessoas ignorantes, ansiosas e intolerantes na mais fina estirpe de pensadores.

Quem é esse homem que foi desconsiderado pela ciência mas abalou seus alicerces?

Neste livro, estudaremos suas últimas horas de vida. Ele está morrendo pregado numa cruz. Era de se esperar que dessa vez ele não brilhasse em sua inteligência, que gritasse desesperadamente, fosse consumido pelo medo, derrotado pela ansiedade e reagisse por instinto, como qualquer miserável às portas da morte. Mas, ferido, Jesus Cristo foi mais surpreendente ainda. Seus comportamentos tornaram a abalar a psicologia.

O homem Jesus fez poesia no caos. Você consegue fazer poesia quando a dor constrange sua alma? Às vezes, nem quando estamos atravessando terrenos tranquilos produzimos ideias poéticas. A crucificação de Jesus Cristo talvez seja o evento mais conhecido da população mundial. Mas é o menos compreendido, apesar de ser o mais importante da história. Bilhões de pessoas sabem como ele morreu, mas não têm ideia dos fenômenos complexos que estavam presentes no palco da cruz e, principalmente, atrás da cortina do cenário. Estudar seus últimos momentos abrirá as janelas de nossa mente para não apenas compreendermos melhor o mais misterioso dos homens, mas também quem somos. Afinal, qual de nós pode explicar a vida que pulsa em nosso ser?

 

Embora este livro seja um estudo de filosofia e psicologia, o leitor encontrará, também, referências a trechos do Antigo e do Novo Testamento, com indicação do autor, do capítulo e versículo em que se encontram. Sugiro que, independentemente de sua crença, você tenha uma Bíblia ao alcance da mão. A leitura destes textos, no quadro mais amplo em que se apresentam, promoverá um conhecimento maior dessa figura única e fascinante que, com suas palavras, gestos e atitudes, revolucionou o mundo e o espírito humano.

Augusto Cury

 

CAPÍTULO I

Dois tipos de sabedoria

 

Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior. A sabedoria inferior é medida por quanto uma pessoa sabe, e a superior, pela consciência que ela tem do que não sabe. Os verdadeiros sábios são os mais convictos da sua ignorância. Desconfiem das pessoas autossuficientes. A arrogância é um atentado contra a lucidez e a inteligência.

A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior compreende, a inferior culpa; a superior perdoa, a inferior condena. A sabedoria inferior é cheia de diplomas, na superior ninguém se gradua, não há mestres nem doutores, todos são eternos aprendizes. Que tipo de sabedoria controla sua vida?

Apesar de falarmos muito sobre Deus e sobre a vida, sabemos muito pouco sobre a vida, sobre o Autor da vida e sobre o mais enigmático dos homens, Jesus Cristo (Mateus 1:18). Frequentemente me pergunto: quem é Deus? Por que Ele se esconde atrás do véu da sua criação e não se mostra sem segredos? É possível discorrer com segurança sobre o Arquiteto da criação?

Deus fez da espécie humana sua obra-prima e a revestiu de inteligência. Os seres humanos O procuram desde os primórdios da existência. Seus descendentes construíram milhares de religiões para tentar entendê-Lo, escreveram milhões de livros, mas Deus continua sendo um grande mistério. Para resolver nossas dúvidas, veio à Terra um homem chamado Jesus. Mas ele teve comportamentos que contrariam a nossa lógica.

Por que Jesus morreu em condições desumanas? Por que, quando estava livre, fez milagres impressionantes, mas, ao ser preso, nada fez para aliviar sua dor? Por que ele defendeu seus carrascos na cruz e não reagiu com violência e irracionalidade?

Antes de falarmos especificamente sobre a crucificação, usaremos os três primeiros capítulos para analisar algumas áreas fundamentais da personalidade de Cristo. Caso contrário, não compreenderemos o homem que no ápice da dor teve reações capazes de tirar o fôlego de qualquer pesquisador lúcido da psicologia, da psiquiatria e da filosofia.

Muitos teólogos acham que conhecem o Mestre dos Mestres. Este livro talvez seja a prova de que todos nós sabemos muito pouco sobre o personagem mais famoso da Terra.

 

Uma procura incansável sobre nossas origens

Sabemos muito pouco também sobre nós mesmos. Quem somos? Como produzimos pensamentos e construímos nossa consciência? Você já percebeu que cada um de nós é um ser único no teatro da vida? Que você é um ser único?

A vida humana é brevíssima. Vivemos num pequeno parêntese do tempo. Os políticos estão nos congressos; os professores, nas salas de aula; os médicos, nos consultórios; as mães, com seus filhos; os trabalhadores, nas empresas, e tudo parece comum e normal. Entretanto, muitos não se dão conta de que a vida humana, com todos os seus eventos, é apenas uma fagulha no tempo, que rapidamente cintila e logo se apaga.

Bastam dois instantes se encontrarem, o da infância e o da ve-

 

lhice, para nos tornarmos apenas uma página na história. Você tem consciência da brevidade da vida? Esta consciência o estimula a buscar a sabedoria superior?

 

Apaixonado pela espécie humana

 

Se você compreender algo sobre a complexidade dos fenômenos que se encenam no palco de nossa mente e que constroem as ideias, descobrirá que não existem árabes ou judeus, americanos ou alemães, negros ou brancos. Somos todos uma única e apaixonante espécie.

O Mestre da Vida, Jesus Cristo, era profundamente apaixonado pela espécie humana (Mateus 4:24). Dava uma atenção especial a cada pessoa indistintamente. Por onde transitava, seu objetivo era abrir os portais da mente de quem encontrava e aumentar sua compreensão sobre a vida. Não era uma tarefa fácil, pois as pessoas viviam engessadas dentro de si mesmas, tal como hoje muitas continuam travadas na arte de pensar.

Temos a impressão de que algumas pessoas são imutáveis. Elas repetem os mesmos erros frequentemente, dão sempre as mesmas respostas para os mesmos problemas, não conseguem duvidar de suas verdades nem estar abertas para novas possibilidades de pensar. São vítimas, e não autoras da própria história. Você procura ser autor de sua história ou é vítima dos seus problemas?

Jesus desejava que o ser humano fosse autor da própria vida, capaz de exercer com consciência seu direito de decidir. Por isso, convidava as pessoas a segui-lo. Ao contrário dele, pressionamos nossos filhos, alunos, funcionários e clientes a seguir nossas ideias e preferências.

O Mestre do Amor tinha muito para ensinar a cada pessoa, mas nunca as pressionava para que estivessem aos seus pés ouvindo-o. O amor, e não o temor, era o perfume que esse fascinante

 

mestre exalava para atrair as criaturas e fazê-las verdadeiramente livres (Mateus 19:2).

 

O espetáculo da vida

 

O mundo carece de pensadores. As sociedades precisam de pessoas que possuam ideias inovadoras capazes de contribuir para enriquecer nossas inteligências e mudar as rotas de nossas vidas. Raramente um político, um intelectual ou um artista tem ideias novas e brilhantes. Não há emoção em suas palavras. É difícil encontrarmos homens e mulheres famosos que nos en-

cantem com sua inteligência.

Estamos tão atarefados em comprar, vender, possuir, fazer, que perdemos a sensibilidade para nos espantarmos com o espetáculo da vida e com os segredos que a cercam. Você já parou para pensar que a vida que pulsa em você é fonte insondável de enigmas? Já ouviu alguém fazer uma simples indagação filosófica como “Que mistério é estar vivo e mergulhado no tempo e no espaço!”? Quem deixa de perguntar sobre os fenômenos da existência destrói sua capacidade de aprender.

As crianças de hoje detêm mais informações do que um idoso do passado. Muitos adultos estão abarrotados de informações, mas dificilmente sabem organizá-las. Saber muito mas pensar pouco não leva a lugar algum. Muitos têm uma mente com centímetros de profundidade e quilômetros de extensão.

Mas se você, como eu, está aborrecido com a carência de pensadores numa sociedade em que as escolas se multiplicam, por certo irá consolar-se com a leitura deste livro. Estudaremos um personagem real que não apenas surpreendia as pessoas como as deixava assombradas com seus pensamentos (Mateus 7:28).

Ao longo de mais de 20 anos venho estudando o funcionamento da mente. Nesse período produzi, como alguns sabem, uma nova teoria sobre a construção da inteligência chamada de

 

“Inteligência Multifocal”. Escrevi mais de três mil páginas sobre o fantástico mundo das ideias e das emoções. Pode parecer que escrevi muito, mas é pouquíssimo diante dos segredos que nos distinguem como seres pensantes.

Sem querer me vangloriar, gostaria de relatar que pesquisei alguns fenômenos que os pensadores da psicologia, como Freud, Jung, Rogers, Erich Fromm, Viktor Frankl, Piaget, não tiveram a oportunidade de estudar. São fenômenos relacionados aos papéis da memória, à construção das cadeias de pensamentos e à formação da complexa consciência humana.

Meus estudos me ajudaram a analisar, ainda que com limites, algumas áreas da mente insondável de Cristo: como ele gerenciava seus pensamentos, protegia sua emoção, superava seus focos de tensão, abria as janelas da sua mente e dava respostas admiráveis em situações angustiantes. Estudar o funcionamento da mente humana e analisar a inteligência do Mestre dos Mestres ampliou meus horizontes para enxergar o espetáculo da vida. Você consegue enxergar o mundo deslumbrante da inteligência humana?

Muitos não conseguem compreender que as pessoas ao seu redor são mais complexas do que os buracos negros no céu. Cada vez que você produz uma reação ansiosa, vivencia um momento de insegurança ou constrói um pequeno pensamento, provoca um fenômeno mais complexo do que a ação do sol.

Mesmo as crianças com deficiência mental são tão complexas no funcionamento da mente quanto os intelectuais, pois possuem intactos os fenômenos que constroem as cadeias de pensamentos. A diferença está apenas na reserva de memória que alimenta esses fenômenos. Se houvesse possibilidade de se produzir uma memória auxiliar, elas seriam intelectualmente normais.

Poucos conseguem perceber o privilégio de ser uma pessoa, pois não conseguem olhar para além da vitrine de seus problemas e dificuldades.

 

Jesus, um excelente utilizador da arte da dúvida

 

Independentemente de Jesus ser o filho de Deus, ele foi o mais humano dos homens. Foi um homem até a última gota de sangue, até a última batida de seu coração.

Jesus amava ser um homem e lutava para que as pessoas percebessem o valor incondicional da vida. Para isso, procurava desobstruir a inteligência delas. Que ferramenta ele usava? (Mateus 16:13)

Muitos pensam que Jesus só discorria sobre a fé, mas ele utilizava uma das ferramentas mais capazes de abrir as janelas da mente humana: a arte da dúvida. Ao longo da minha trajetória como pesquisador, percebi que a arte da dúvida é uma ferramenta fundamental para expandir o leque do pensamento. A morte de um cientista ocorre quando ele deixa de duvidar do seu conhecimento.

Duvidar das próprias convicções pode fortalecê-las se elas tiverem fundamento, ou pode abrir novas possibilidades do pensamento se elas forem frágeis e superficiais. Quem sabe utilizar a arte da dúvida vai ao encontro da sabedoria superior e por isso sempre considera o próprio conhecimento como uma pequena gota num oceano.

Os jovens de hoje são frequentemente arrogantes e autoritários. O mundo tem de girar em torno das suas verdades e necessidades. Por estarem abarrotados de informações, acham que entendem de tudo. Raramente uma pessoa mais velha consegue mudar as rotas do que pensam e sentem. Por quê? Porque não aprenderam a duvidar de si mesmos, a questionar as próprias opiniões nem a se colocar no lugar dos outros.

Onde estão as pessoas autoritárias e arrogantes? Em todos os ambientes, até nos que deveriam ser menos suspeitos, como as universidades e as instituições religiosas. De certa forma, o autoritarismo se encontra no inconsciente de todos nós.

Há pouco tempo atendi um excelente advogado. Ele chorava muito porque estava deprimido e ansioso. Aparentemente era humilde e simples, mas por trás de sua humildade havia uma pessoa autossuficiente e quase impenetrável.

Ele manipulava seus psiquiatras, dirigia seu tratamento, ficava prevendo efeitos colaterais dos medicamentos que tomava. Consequentemente, sua melhora era flutuante, avançava e regredia, pois ele não aprendera a gerenciar seus pensamentos nem a ser o autor da própria história. Felizmente, agora começa a tomar consciência de suas reações autoritárias e a reescrever os principais capítulos de sua vida.

Uma das principais características de uma pessoa autoritária é impor, e não expor, o que pensa. Quais são algumas das características principais de uma pessoa autoritária? Dificuldade de reconhecer erros e de aceitar críticas, defesa radical e prolixa das próprias ideias, dificuldade de se colocar no lugar dos outros. Cuidado! Se você reconhece que tem algumas dessas características, empenhe-se em mudar. Elas não são saudáveis e conspiram contra a tranquilidade e o prazer de viver. Procure relaxar e ser flexível.

Jesus foi a pessoa mais flexível e aberta que analisei. Seus opositores o ofenderam das formas mais cruéis, e ele não revidou. Era uma pessoa de convicções sólidas, mas nunca impunha o que pensava. Sabia respeitar os outros, não pedia conta dos seus erros nem os expunha publicamente. Algumas pessoas, com sua sensibilidade, conseguiram fazê-lo mudar de ideia e ele se alegrou com elas e até as elogiou, como no caso da mulher siro-fenícia (Marcos 7:27,28).

Foi um excelente mestre no uso da arte da dúvida. Como a usava? Através de perguntas e das suas instigantes parábolas (Mateus 13:10). Mas a dúvida não atenta contra a fé? Primeiro, Jesus usava a arte da dúvida para remover os preconceitos, depois falava sobre a fé. Inteligente como era, discorria sobre uma fé inteligente.

Todas as nossas crenças nos controlam. Usando a ferramenta da dúvida, o mestre libertava as pessoas da ditadura do preconceito para depois falar do seu plano transcendental.

 

Os três estágios da dúvida

A dúvida tem três estágios: ausência da dúvida, presença inteligente da dúvida, presença excessiva da dúvida.

A ausência da dúvida gera psicopatas. Quem nunca duvida de si, quem se acha infalível e perfeito nunca terá compaixão pelos outros.

A dúvida inteligente abre as janelas da inteligência e estimula a criatividade e a produção de novas respostas.

A presença excessiva da dúvida leva a retrair a inteligência e causa extrema insegurança. As pessoas se tornam excessivamente tímidas e autopunitivas.

A dúvida inteligente esvazia o orgulho. As parábolas que Jesus contava tinham por objetivo estimular o espírito das pessoas e romper seu cárcere intelectual, levando-as a confrontar-se com seu orgulho e rigidez. Ele respondia a perguntas com outras perguntas, e suas respostas sempre abriam os horizontes dos pensamentos. Era um grande mestre da educação, pois seus discursos formavam, e não informavam.

Alguns têm títulos de doutores, mas são meros reprodutores de conhecimento que repetem o que estudaram e o que os outros produziram. Precisamos de poetas da vida, de engenheiros de novas ideias. Precisamos surpreender as pessoas e ajudá-las a mudar os alicerces de sua história.

Quem andava com Jesus Cristo quebrava constantemente os próprios paradigmas. Não havia rotina. Seus gestos e comportamentos surpreendiam de tal modo seus discípulos, que, pouco a pouco, foram lapidando suas personalidades. Você surpreende as pessoas e incentiva o ânimo delas, ou as bloqueia?

 

Um engenheiro de ideias, uma história que deu certo

Lembro-me de um paciente que tinha um excelente nível intelectual, porém era tenso e tinha graves problemas de relacionamento com uma de suas filhas. Pai e filha se atritavam continuamente. Durante o processo terapêutico, eu lhe disse que se quisesse mudar a natureza da relação com a filha tinha de reescrever a imagem doentia que o relacionamento dos dois construíra nos territórios inconscientes da memória de ambos.

O desafio era reeditar essa imagem, já que é impossível deletá-la. E para que sua filha reeditasse a imagem doentia que tinha do pai, ele teria de surpreendê-la com gestos inusitados, incomuns. Ele entendeu os papéis da memória e estabeleceu como meta mudar essa história. Sem meta, não mudamos o roteiro de nossas vidas.

Certo dia, meu paciente pediu à filha que comprasse um buquê de flores para presentear a esposa de um amigo que fazia aniversário. Ela, mais uma vez, recusou-se a atender seu pedido, dizendo-lhe que não tinha tempo.

Essa recusa deveria detonar nele um fenômeno inconsciente, chamado “gatilho da memória”, que abriria uma janela contendo uma imagem doentia da filha e levando-o a agredi-la com palavras. O pai repetiria mais uma vez que a sustentava, que pagava a sua faculdade, a gasolina do seu carro e que ela não reconhecia seu valor. Ambos sairiam, como sempre, magoados.

Mas, dessa vez, ele mudou de atitude. Tinha aprendido a administrar seus pensamentos e a controlar as janelas da memória. Ficou em silêncio e saiu. Foi à floricultura, comprou o buquê de flores. E sabe o que mais ele fez? Escolheu o botão de rosa mais bonito para dar à filha.

Chegando em casa, entregou-lhe a rosa, dizendo que a amava muito. Acrescentou o quanto a filha era importante para ele e que não podia viver sem ela. Atônita com a atitude do pai, a jovem chorou, porque acabara de descobrir alguém que não conhecia. A mudança de comportamento do meu cliente persistiu e foi fazendo com que, sem que a filha se desse conta, a imagem autoritária e rígida do pai começasse a ser reeditada nos arquivos inconscientes da sua memória. Passou a respeitá-lo, amá-lo, ouvi-lo, percebendo que, embora não soubesse se expressar, ele queria o melhor para ela. O pai, por sua vez, começou a reescrever a imagem da filha, encantando-se com suas qualidades.

Não é difícil imaginar o que aconteceu. Eles deixaram de ser dois estranhos. Começaram a dividir seus mundos e a cruzar suas histórias. Antes, respiravam o mesmo ar mas estavam em universos diferentes, muito distantes um do outro.

Hoje são grandes amigos e se amam calorosamente. A mudança foi tão notável, que ele me pediu para escrever sobre os papéis da memória em um próximo livro, para que outros pais e filhos tivessem a mesma oportunidade de mudar seus relacionamentos. Em sua homenagem, relatei a história. Esse homem se tornou um engenheiro de ideias.

Algumas pesquisas que fiz me levaram a concluir que mais de 80% dos pais e filhos vivem como estranhos. Você consegue surpreender com seus gestos as pessoas com quem convive, ou é uma pessoa imutável? Se você não as surpreender, nunca irá conquistá-las.

Avalie se você não é uma pessoa difícil. Às vezes somos bons produtos com péssima embalagem e vendemos mal nossa imagem. Fale com o coração. Conquiste as pessoas difíceis. Faça coisas que nunca fez por elas. Seja um engenheiro de ideias. Cause impacto na emoção e na memória dos mais próximos. Você ficará impressionado com o resultado.

Os engenheiros de ideias estão escasseando não apenas no campo das relações interpessoais, mas também no da psicologia, da sociologia, da filosofia e no das ciências físicas e matemáticas.

 

O mais extraordinário engenheiro de ideias

Jesus construía relações sociais riquíssimas, mesmo em pouco tempo. As pessoas que conviviam com ele o amavam intensamente. Multidões despertavam antes do nascer do sol para ouvi-lo.

O evangelista João nos conta no capítulo 4 a história da samaritana. Era uma mulher promíscua e socialmente rejeitada. Mas o Mestre do Amor não lhe pediu explicações sobre os homens com quem ela tinha andado. Disse apenas que ela estava sedenta, ansiosa, e precisava beber de uma água que jamais experimentara, uma água que saciaria sua sede para sempre. Todo o diálogo de Jesus com a samaritana deixou-a tão encantada, que ela saiu pela cidade falando a todos sobre ele, embora mal o conhecesse. Que homem é esse que com poucas palavras deixa maravilhados seus ouvintes? As pessoas querem enquadrar o homem Jesus, mas isso é impossível. Independentemente de sua divindade, ele foi um homem deslumbrante.

 

A educação está morrendo

A educação está em processo de falência no mundo todo. Educar tem sido uma tarefa desgastante e pouco eficiente. Não por culpa dos educadores nem pela falta de limites dos jovens e crianças, mas por um problema mais grave que vem ocorrendo nos bastidores da mente humana e que os cientistas sociais e os pesquisadores da psicologia não estão compreendendo.

O ritmo de construção do pensamento no mundo moderno acelerou-se doentiamente, gerando a síndrome do pensamento acelerado, ou SPA. Estudaremos esta síndrome mais adiante.

Os jovens estão desenvolvendo coletivamente a SPA. Essa síndrome faz com que eles procurem ansiosamente novos estímulos para excitar suas emoções e, quando não os encontram, fiquem agitados e inquietos. As salas de aula tornaram-se um canteiro de tédio e estresse em que os alunos não se concentram e têm pouco interesse em aprender.

Os professores são como cozinheiros que elaboram alimentos para uma plateia sem apetite. Os conflitos em salas de aula estão fazendo os professores adoecerem coletivamente no mundo todo. No Brasil, de acordo com uma pesquisa realizada pela Academia de Inteligência – o instituto que dirijo –, 92% dos educadores estão com três ou mais sintomas de estresse e 41% com dez ou mais, dos quais se destacam: cefaleia, dores musculares, excesso de sono, irritabilidade. Eles só conseguem trabalhar prejudicando intensamente sua qualidade de vida.

 

A escola desconsiderou o maior educador do mundo

A educação incorporou muitas teorias, mas não levou em consideração o maior educador do mundo. Se as escolas estudassem e usassem – sem qualquer vínculo religioso – a psicopedagogia e os princípios da inteligência do Mestre dos Mestres, certamente ocorreria uma revolução em sala de aula.

O que é educar? Educar é produzir um ser humano feliz e sábio. Educar é produzir pessoas que amam o espetáculo da vida. Desse amor emana a fonte da inteligência. Educar é produzir uma sinfonia em que rimam dois mundos: o das ideias e o das emoções.

Se as escolas conhecessem os procedimentos educacionais que Jesus aplicou não apenas formariam pessoas saudáveis, mas investiriam na qualidade de vida de seus professores.

Apesar de os educadores serem os profissionais mais nobres da sociedade, poucos os valorizam. Os psiquiatras tratam de pessoas doentes, e os juízes julgam os réus. E os professores?

Eles educam os indivíduos para que não tenham transtorno psíquico nem se sentem nos bancos dos réus. Embora desvalorizados, os professores são os alicerces da sociedade. Eles precisam ter subsídios para resolver os conflitos em sala de aula, educar a emoção dos alunos e fazer laboratórios de desenvolvimento da inteligência.

Jesus fazia laboratórios educacionais do mais alto nível. Fazia laboratório das funções mais importantes da inteligência, laboratório de superação, laboratório de treinamento do caráter, oficina de psicologia preventiva. Quem andava com ele resgatava o sentido da vida e desejava ser eterno. Só deseja ser eterno quem aprendeu a amar a vida, a realçar sua autoestima e a não gravitar em torno de seus sofrimentos. Esta é uma faceta da inteligência espiritual.

Quando o Mestre da Sensibilidade dizia “Ama o próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39), ele estava fazendo um excelente laboratório de autoestima. Se eu não amar a vida que pulsa em mim, independentemente de meus erros, como vou amar o próximo? Não é possível amar os que o cercam se você não ama a si mesmo. Não espere ser solidário com os outros se você é seu próprio carrasco.

Jesus sabia ensinar homens e mulheres a pensar e a navegar nas águas da emoção. Queria tratar das feridas da alma e cuidar do bem-estar das pessoas. Não estava preocupado com a sua imagem social. Corria todos os riscos por causa de um ser humano.

Será que muitos dos que admiram Jesus são capazes de amar o ser humano desse modo? Você consegue ver que por trás dos belos sorrisos das pessoas que o rodeiam há algumas profundamente feridas, que não sabem como pedir ajuda?

Ficaremos surpresos ao ver que, mesmo quando estava morrendo, Jesus perscrutava a emoção das pessoas e se preocupava com elas. O sangue que escorria por seu corpo não era suficiente para fazê-lo deixar de se preocupar com cada ser humano. Suas lesões não conseguiam sufocar seu ânimo. Ele tinha uma capacidade irrefreável de amar e confortar a emoção humana.

Que título podemos dar a Jesus Cristo senão “O Mestre do Amor”?

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Augusto Cury

Sobre o autor

Augusto Cury

AUGUSTO CURY é psiquiatra, cientista, pesquisador e escritor. Publicado em mais de 70 países, já vendeu, só no Brasil, 30 milhões de exemplares de seus livros, sendo considerado o autor brasileiro mais lido na atualidade. Seu livro O vendedor de sonhos foi adaptado para o cinema pela Warner/Fox. O próximo título a ganhar as telonas será O futuro da humanidade. Entre seus sucessos estão O futuro da humanidade; O homem mais inteligente da história; O homem mais feliz da história; O maior líder da história; Pais brilhantes, professores fascinantes e Nunca desista dos seus sonhos. Cury é autor da Teoria da Inteligência Multifocal, que trata do complexo processo de construção de pensamentos, dos papéis da memória e da construção do Eu. Também é criador da Escola da Inteligência, o primeiro programa mundial de gestão da emoção para crianças e adolescentes e o maior programa de educação socioemocional da atualidade, com mais de 400 mil alunos.

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