Prefácio
Nada é tão fascinante como penetrar no mundo intangível da mente ou da psique. Dentro de cada ser humano há um mapa a ser percorrido com sutilezas, momentos de alegria, períodos de sofrimento, golpes de ousadia, tempos de recuos, pensamentos que transmitem tranquilidade, ideias que causam perturbação.
Ao longo de mais de vinte anos venho desenvolvendo uma nova teoria psicológica e também filosófica, chamada inteligência multifocal, que estuda pelo menos cinco grandes áreas do funcionamento da mente:
1. O processo de construção de pensamentos
2. O processo de organização da consciência existencial e da estruturação do eu
3. Os papéis conscientes e inconscientes da memória e a formação da história intrapsíquica
4. O processo de transformação da emoção
5. O processo de interpretação e de formação de pensadores
Após desenvolver os pressupostos básicos dessa teoria, envolvi-me em uma das mais desafiadoras pesquisas psicológicas: descobrir por que algumas pessoas romperam o cárcere do tédio, incendiaram a arte de pensar e expandiram a própria inteligência. Depois de estudar o perfil psicológico de alguns pensadores como Nietzsche, Freud e Einstein, resolvi investigar a inteligência daquele que dividiu a história: Jesus Cristo. Na introdução deste livro relato alguns dos enormes desafios e algumas das gritantes limitações que enfrentei nessa jornada.
Em razão da minha origem multirracial (ítalo-judia, espanhola e árabe), por ser um psiquiatra, um pesquisador da mente humana, e por ter sido um dos mais ardentes ateus que já pisaram na Terra, estudar os enigmas da mente de Jesus Cristo foi e ainda é para mim um projeto espetacular.
Muitas perguntas de caráter científico e não teológico povoaram meus pensamentos durante os anos de análise: Cristo foi real ou fruto da imaginação de alguns galileus? Se não tivesse realizado nenhum ato sobrenatural, teria dividido a história? Como abria as janelas da mente dos seus discípulos e os estimulava a desenvolver as funções mais importantes da inteligência? Como gerenciava seus pensamentos e suas reações emocionais nas situações estressantes? Alguém proferiu na história pensamentos semelhantes aos dele? Quais as dimensões e implicações psicológicas e filosóficas das suas ideias? O que a ciência e as sociedades perderam por não terem estudado a sua personalidade?
Responder a essas perguntas, ainda que parcialmente, é fundamental para a humanidade. Jesus foi o personagem mais complexo e enigmático que transitou neste misterioso teatro existencial.
Seu comportamento, suas palavras, sua capacidade de se proteger nos focos de tensão, a habilidade de libertar seu imaginário e a fineza da sua arte de pensar aplicada a situações em que por certo reagiríamos agressiva ou timidamente deixam perplexo qualquer profissional ou cientista que se disponha a estudá-lo em profundidade – psiquiatras, psicólogos, cientistas da educação, sociólogos. É o que retendo demonstrar.
Estudar a mente de Jesus Cristo é incomparavelmente mais complexo do que estudar a mente de qualquer pensador da psicologia e da filosofia. O resultado desses anos de estudo é uma coleção de cinco livros que escrevi para tentar explicar as várias facetas de Cristo. Ainda pretendo escrever o sexto livro procurando dissecar seus pensamentos e os enigmas contidos nas parábolas, no sermão da montanha e em outras passagens.
Este é o primeiro livro da coleção. Nele veremos que Jesus foi o Mestre dos Mestres, o maior educador da história. Ele conseguia atingir com delicadeza, sabedoria e perspicácia as regiões mais profundas do inconsciente de seus complicados discípulos. Fico perturbado ao constatar que ele aproveitava momentos incomuns para dar solenes ensinamentos.
Que homem era esse que atuava como artesão da emoção e escultor da inteligência quando o mundo desabava sobre ele? Transformou homens que cheiravam a peixe em homens que exalavam o melhor perfume da inteligência. Fez em pouco tempo o que raramente as universidades conseguiram em séculos de existência.
O leitor precisa saber que nesta coleção não vou defender nenhuma religião nem fazer um estudo teológico. O que quero é mostrar que a ciência cometeu um erro dramático ao não estudar a intrigante, misteriosa e fascinante personalidade de Jesus Cristo. O mundo ocidental se diz cristão, mas conhece pouquíssimo os meandros da sua psique. Se o Ocidente ivesse conhecido a mente de Cristo, não teria sido palco de guerras, discriminação, escravidão e violências sem fim.
Se nas salas de aula (nos currículos acadêmicos) e nos lares se examinassem em profundidade as funções mais importantes da inteligência que Jesus trabalhou amplamente na personalidade dos seus discípulos, a humanidade teria sido outra. Teríamos formado uma casta de pensadores apaixonados pela vida que jamais discriminariam seres humanos, membros da mesma espécie, seja pela cor da pele, raça, cultura, religião, seja pelo status social. Essa omissão foi uma grande perda.
Milhares de leitores, em dezenas de países onde meus livros têm sido publicados, enviam-me mensagens dizendo-se maravilhados não com o autor, mas com o personagem que descrevo. Nunca imaginaram que risto fosse tão inteligente e que estimulasse tanto a formação de mentes saudáveis e espíritos livres.
Muitas escolas de ensino médio e universidades têm recomendado aos professores a leitura e a adoção desses livros em diversas disciplinas, com o objetivo de expandir nos alunos a arte de pensar. Psicólogos os têm utilizado e indicado sua leitura a seus pacientes para ajudá-los a prevenir a depressão, a ansiedade e o estresse. Empresários costumam presentear seus melhores amigos e clientes com esses exemplares.
Além disso, apesar de os livros da coleção tratarem de psicologia e filosofia, e não de religião, pessoas das mais diversas crenças, inclusive não cristãs, os têm lido e utilizado sistematicamente.
Devo confessar que investigar Jesus Cristo fez implodir meu orgulho, revelar minha pequenez, dissecar minhas mazelas psíquicas. Veremos que analisar sua inteligência nos permite dispor de excelentes ferramentas para nos educar e educar quem amamos, pois os pensamentos de Jesus oxigenam nossa mente, expandem o prazer de viver e estimulam a sabedoria.
Embora este livro seja um estudo de filosofia e psicologia, o leitor encontrará, também, referências a trechos do Antigo e do Novo Testamento, com indicação do autor, do capítulo e versículo em que se encontram. Sugiro que, independentemente de sua crença, você tenha uma Bíblia ao alcance da mão. A leitura desses textos, no quadro mais amplo em que se apresentam, promoverá um conhecimento maior dessa figura única e fascinante que com suas palavras, gestos e atitudes revolucionou o mundo e o espírito humano.
Augusto Jorge Cury