Nota dos autores
Este livro contém muitas referências na forma de citações de fontes primárias e secundárias, além de links para fontes adicionais. No entanto, você não vai encontrá-las nestas páginas. Por quê? Bom, elas são numerosas demais para serem incluídas aqui. É uma avalanche de notas. Portanto, com o intuito de diminuir o custo e o tamanho do livro para você, querido leitor ou leitora, nós decidimos publicá-las (em inglês) no site www.foreverdog. com. Assim todos saem ganhando, já que conseguimos poupar algumas árvores e tornar o livro mais acessível. Além disso, vamos atualizar nossas referências sempre que possível, de uma forma dinâmica – adicionando outras à medida que novas descobertas científicas surgirem. Não deixamos pedra sobre pedra nesse departamento, incluindo sólidos dados científicos e históricos na defesa de nossas afirmações e declarações mais categóricas que vão de encontro ao dogma estabelecido. Tudo neste livro, incluindo argumentos que podem parecer chocantes, pode ser corroborado por evidências indiscutíveis. A lista de referências é sua chave mágica para desbancar a desinformação no mundo dos cuidados com os animais de estimação, aprendendo a verdadeira ciência e se equipando com as ferramentas necessárias para ajudar seu cachorro a ter uma vida melhor e mais duradoura.
INTRODUÇÃO
O melhor amigo da humanidade
Estamos só levando um ao outro para casa…
– Ram Dass
… e esperamos que seja uma longa caminhada.
– Dra. Becker e Rodney
O Dr. Curtis Welch estava preocupado. Nos últimos meses de 1924, à medida que o inverno avançava devagar em Nome, uma cidadezinha no Alasca, ele percebeu uma tendência perturbadora: um aumento nos casos de amigdalite e de doenças inflamatórias da garganta. A pandemia de gripe ocorrida entre 1918 e 1919, que matara pouco mais de mil pessoas em seu estado, ainda estava fresca na memória de todos, mas aquilo era diferente. Alguns casos pareciam difteria. Em seus dezoito anos de trabalho na região, ele nunca havia se deparado com essa infecção contagiosa – causada por uma linhagem de bactérias produtoras de toxinas – que podia ser fatal, especialmente em crianças. A difteria era conhecida como “o anjo estrangulador de crianças”: ela causa o bloqueio da garganta por uma camada de matéria rígida e espessa que dificulta muito a respiração. Sem tratamento, a morte por sufocamento é sempre uma possibilidade.
Em meados de janeiro do ano seguinte, não havia dúvidas de que ele estava lidando com um surto da temível doença, sem qualquer tratamento ao seu alcance. Crianças começaram a morrer. Atendendo a um pedido seu, as autoridades fecharam todas as escolas, igrejas, cinemas e hospedarias, e aglomerações públicas foram proibidas. Ninguém mais tinha autorização para circular pelas ruas; apenas carteiros e pessoas que precisavam resolver algo urgente e inadiável podiam transitar livremente. Os moradores da cidade passaram a manter em quarentena os familiares possivelmente infectados. Apesar de essas medidas ajudarem, o Dr. Welch só conseguiria salvar as cerca de 10 mil pessoas do lugar se obtivesse o soro antitoxina. A cura, contudo, se encontrava a mais de 1.500 quilômetros de distância, na cidade de Anchorage. E, como não era possível atravessar as enseadas congeladas nem viajar num avião de cabine aberta em temperaturas abaixo de zero, a distância parecia cada vez maior.
Cães de trenó e seus condutores foram convocados para participar da Grande Corrida da Misericórdia, um revezamento ininterrupto, ao longo de cinco dias e meio, que cobriu mais de mil quilômetros de vastidão selvagem, cursos de água congelados e tundra descampada para levar o soro milagroso até Nome. Dois huskies siberianos, chamados Balto e Togo, se destacaram como as estrelas da aventura. Na maior parte do tempo, eles se guiavam pelo olfato, mais do que pela visão, para enfrentar quilômetros de fortes e ofuscantes nevascas – uma jornada arriscada que hoje em dia integra o roteiro da icônica corrida anual de trenós Iditarod Trail. Essa história é apenas uma entre muitas que provam como os cachorros são incríveis e como humanos e cães têm se ajudado mutuamente desde que se apaixonaram, há milhares de anos.
Já faz quase um século que a corrida do soro salvou Nome, e, como a vida é cheia de ironias, escrevemos este livro enquanto outra pandemia se espalhava pelo planeta. A sociedade segue em busca de uma versão moderna dos cães de resgate para nos salvar de um inimigo invisível que se mostrou fatal para muitas pessoas. É pouco provável que um cão de trenó distribua antissoro hoje em dia (mas não ficaríamos surpresos se víssemos esses cães sendo usados em áreas remotas mais uma vez para levar tratamento e vacinas contra a covid-19), mas, sem dúvida, nossos cães têm atuado como um outro tipo de antídoto, nos ajudando a enfrentar a pandemia do coronavírus. Mais da metade das casas nos Estados Unidos tem animais de estimação, com o número de cães superando o de gatos. Segundo algumas estimativas, 12% dos adultos com filhos abaixo de 18 anos adotaram animais durante a pandemia, em comparação a 8% de todos os adultos. Ter um pet é uma tendência crescente, e nós achamos que ela veio para ficar.
Para muitos donos e donas de cães,* os pets são os responsáveis por garantir breves momentos de paz durante caminhadas longas e renovadoras e são sempre fontes de abraços e beijos dentro de casa. Eles proporcionam um conforto incomparável, aconchego e amor incondicional – uma distração das péssimas notícias e uma centelha de esperança no futuro. Em algumas comunidades pequenas, cães “de adega” e cães “de cervejaria” passaram a entregar bebidas na casa dos clientes, e cientistas andam treinando algumas raças para detectar pessoas doentes nos aeroportos.
A pandemia ressaltou a importância dos cães em nossa vida e o papel deles em ajudar a humanidade a seguir em frente e, por assim dizer, a sobreviver. Assim como eles dependem de nós para necessidades vitais, nós confiamos neles para inúmeras coisas. Nossos pets nos tornam pessoas melhores física, mental e emocionalmente e até – há quem não hesite em afirmar – profissionalmente (muitas empresas hoje em dia mantêm um office dog como empregado). Já foi provado que ter um cachorro aumenta a longevidade dos humanos. Evidências cada vez mais sólidas vinculam cães à boa saúde, e não só por eles ajudarem a diminuir os níveis de estresse e a sensação de solidão. Estudos mostram que os cães nos ajudam a nos manter ativos, auxiliam na redução da pressão arterial e do risco de ataque cardíaco e de derrame, elevam a nossa autoestima, nos incentivam a socializar mais, forçam o contato com áreas externas e com a natureza e desencadeiam a liberação de substâncias poderosas em nosso corpo, capazes de fazer com que nos sintamos seguros, conectados e felizes. Um estudo chegou a revelar que conviver com um cão reduz em 24% nosso risco de morte por qualquer coisa (o que a literatura científica chama de “mortalidade por todas as causas”). E para aqueles com problemas cardiovasculares subjacentes, o que só nos Estados Unidos inclui milhões de pessoas, a redução do risco é ainda maior. Em 2014, cientistas escoceses calcularam que ter um cachorro, em particular nas fases mais tardias da vida, pode reverter o relógio do envelhecimento e fazer com que você aja – e se sinta – como se tivesse dez anos a menos. Aprendemos, também, que os cães podem ajudar as crianças a desenvolver um sistema imunitário mais forte e os adolescentes a diminuir o estresse típico dessa fase da vida, um período que costuma ser permeado por autoquestionamentos, julgamento dos amigos, expectativas por parte dos adultos e instabilidade emocional.
Os cães nos servem muito bem de diversas maneiras, desde nos ajudar a manter uma rotina mais organizada (afinal, eles precisam ser alimentados e levados para passear) até proteger nossa família e antever o perigo. Eles são capazes de detectar a destruição iminente de um terremoto com minutos de antecedência e de farejar no ar mudanças ambientais que sinalizam a chegada de uma tempestade mais violenta ou de um tsunâmi. Os sentidos aguçados os transformam em excelentes ajudantes para a polícia, identificando criminosos, drogas ilícitas e explosivos, além de conseguirem localizar pessoas em cativeiro ou, pior, mortas. Com seu olfato aguçado, os cães são capazes de farejar o câncer, níveis perigosamente baixos de açúcar no sangue de diabéticos, gravidez e, em situações mais recentes, covid-19. E, além disso tudo, eles podem ser uma fonte surpreendente de reflexão e inspiração. Alguns pesquisadores sugerem que os cães, na verdade, apresentaram Darwin ao estudo sistemático da natureza e o ajudaram a moldar a abordagem científica em seus anos de formação. (Polly, uma esperta terrier, costumava ficar aninhada numa cesta ao lado da lareira, perto da mesa de Darwin, no escritório em que ele escreveu sua obra-prima, A origem das espécies. Darwin falava com Polly diante da janela enquanto ela latia e ele fazia piadas sobre as “pessoas travessas” lá fora. Polly se tornou um modelo para as ilustrações no último livro de Darwin, de 1872, A expressão das emoções no homem e nos animais.)
Mas nem todas as notícias são fofinhas como um filhote. Levando em conta apenas a nossa geração, segundo algumas comparações, temos testemunhado um declínio na longevidade canina, em especial no que diz respeito a cães com pedigree. Entendemos que essa é uma declaração ousada e controversa, mas continue conosco. Embora muitos cães estejam, de fato, vivendo mais tempo, assim como as pessoas, mais do que nunca temos cães morrendo de forma prematura por doenças crônicas. O câncer é a principal causa de morte de cães mais velhos, seguido de perto pela obesidade, pela degeneração de órgãos, pelas doenças autoimunes e pela diabetes. (Cães mais jovens têm mais chances de morrer de trauma, de doenças congênitas e infecciosas.) Conhecemos inúmeros pais e mães desesperados para manter seus cães em sua vida pelo maior tempo possível (talvez não “eternamente”, mas, pelo menos, com a maior expectativa de vida saudável possível ou com a maior expectativa de saúde. “Expectativa de vida” e “expectativa de saúde” são dois termos importantes e distintos; vamos diferenciá-los em breve).
Vamos deixar explícito desde o início: não temos o objetivo de ensinar você a manter seu cachorro vivo literalmente para sempre. Tampouco vamos resolver todo e qualquer problema de saúde neste livro – há muitas variáveis e combinações possíveis de condições de saúde em todos os tipos de cão para que seja possível tratar com precisão cada possibilidade (mas você pode encontrar uma porta de entrada para a solução individual dos problemas de seu animal de estimação em nosso site, www.foreverdog.com, em inglês). O objetivo deste livro é oferecer um alicerce sustentado pela ciência para a criação otimizada de cães e fazer com que você possa adaptá-lo a suas circunstâncias específicas. E o propósito de chamar este livro de O Cão Eterno é tanto metafórico quanto ambicioso. Nós nos empenhamos para que nossos cães tenham uma vida leve e vibrante até o fim – independentemente de quando isso aconteça. Na morte, eles também permanecem conosco, afinal nossos cães estão para sempre em nosso coração e nossa memória, mesmo depois que já deixaram este planeta. Seu cachorro encontrou um lar eterno ao seu lado e você quer aproveitar isso ao máximo.
O interessante é que, até a Segunda Guerra Mundial, não considerávamos nossos animais de estimação parte da família. Em 2020, geógrafos historiadores que analisam o relacionamento entre humanos e animais finalmente descobriram isso enquanto examinavam lápides no Hyde Park, na Inglaterra, que chegam a datar de 1881. O parque londrino abriga um cemitério secreto de animais de estimação. Depois de coletar dados em 1.169 lápides datadas de 1881 a 1991, eles descobriram que, antes de 1910, apenas três lápides – menos de 1% do total examinado – referiam-se ao animal como membro da família. Mas, depois da guerra, quase 20% das lápides os descreviam como membros da família e 11% delas tinham sobrenome. Os zooarqueologistas, como são chamados esses pesquisadores, também perceberam um aumento no número de covas de gatos conforme as datas avançavam. E em 2016, pela primeira vez, Nova York legalizou o enterro de animais de estimação ao lado de seus donos em cemitérios humanos. Se nossos pets merecem um lugar no céu ao nosso lado, então também merecem um lugar – e uma vida – ao nosso lado na Terra.
Nossa missão é incentivar as dezenas de milhões de donos de cães, e qualquer pessoa que tenha a esperança de se tornar um deles, a mudar a forma como cuidam de seus animais e, assim, melhorar o bem-estar deles, manter sua saúde em dia e, basicamente, aumentar a expectativa de vida dos cães ao redor do mundo. Eles merecem viver livres das doenças crônicas, da degeneração e da deficiência. Essas não são condições inevitáveis vinculadas à idade (nem mesmo entre nós!). Porém, alcançar esse objetivo requer uma mudança de mentalidade enquanto conduzimos você por uma empolgante viagem, embasada na ciência, por todos os fatores fundamentais que podem ajudar a prolongar a expectativa de vida dos cães. Abordamos alguns detalhes científicos, mas prometemos facilitar as coisas. A pesquisa que incluímos neste livro tem o objetivo de educar, inspirar e oferecer os dados e o contexto para que você se sinta confortável para fazer mudanças importantes em seu estilo de vida e maximizar a saúde e a longevidade de seu cão. Dependendo de quão familiares ou estranhos alguns desses conceitos de bem-estar forem para você, nossas recomendações podem parecer desanimadoras, então providenciamos várias opções de pequenos passos que podem ser incorporados à sua rotina, levando em consideração sua capacidade de adaptação, seus horários e sua condição financeira. Todos os dias lidamos com perguntas vindas de uma grande variedade de pessoas em busca de dicas e soluções para maximizar a qualidade de vida de seus animais de estimação, e sabemos que nosso público é amplo e diverso na mesma medida em que é atento e comprometido. Podemos ter origens e experiências diferentes, mas, quando se trata de nossos cães, todos temos os mesmos objetivos.
Tentamos encontrar um ponto de equilíbrio entre falar para aqueles que precisam de uma ajudinha e falar para aqueles em busca de questões científicas mais complexas. Se houver algo difícil de compreender, siga em frente e não se preocupe; os exercícios práticos vão fazer sentido até o final do livro. Acreditamos que você vai adquirir bastante conhecimento, mesmo que dê só uma olhadinha na ciência mais pesada, e, ao longo do caminho, também vamos compartilhar nossas dicas práticas. Seria negligente não descrever a biologia por trás dos fatos fascinantes da existência de nosso cão (e da nossa também). Da mesma forma, seríamos irresponsáveis se evitássemos conversas difíceis e sensíveis. Por exemplo, todos sabemos, gostemos ou não, que atualmente o peso é um assunto muito discutido na área da saúde. Aqueles quilos extras são um tabu que muitos médicos – incluindo veterinários – não gostam de abordar no consultório. É desagradável e desconfortável. É o tema incômodo que gera constrangimento. Mas essa conversa é necessária. Não estamos apontando dedos; de novo, estamos oferecendo soluções. Quando o excesso de peso afeta a saúde, é como se corrêssemos desengonçados carregando um objeto cortante. Nenhum de nós deixaria nosso cão correr com uma lâmina na boca, correto? Se existe uma lição que você vai aprender muitas vezes, é esta: Coma menos, tenha uma alimentação mais natural e se mexa cada vez mais. Essa é uma verdade que serve tanto para você quanto para seu cão. E é o maior ensinamento que há nestas páginas. E, apesar de termos acabado de revelar todo o propósito do livro em pouco mais de dez palavras, você não pode fechá-lo ainda, porque precisa saber como e por que você e seu cachorro vão comer menos, ter uma alimentação mais natural e se mexer mais. Sabendo como e por quê, o fazer acontece automaticamente.
Vivemos numa época muito interessante, graças à velocidade da tecnologia e à sabedoria adquirida acerca dos mamíferos ao longo do último século. Nossa compreensão do que acontece no interior de nossas células tem crescido de modo exponencial e estamos entusiasmados para apresentar esse novo conhecimento com um ótimo objetivo em mente: ajudar nossos queridos cães a se desenvolverem da melhor maneira possível ao nosso lado.
Muitas de nossas lições desbancam mitos e práticas costumeiras, em especial no que diz respeito à dieta e à nutrição. Como muitos humanos, inúmeros cães comem demais e estão subnutridos. Sabemos que consumir alimentos ultraprocessados em todas as refeições não é uma boa ideia. Isso é bem óbvio. O que não se discute tanto é o fato de que a maior parte da comida comercial feita para animais de estimação não passa disso – um cardápio ultraprocessado. Por favor, não se sinta tão chocado ou enganado. Você não é o único que não sabia. Mas nem tudo é notícia ruim, pois – assim como ocorre com a comida ultraprocessada que você aprecia em sua vida (de preferência, com moderação) – não é necessário eliminar completamente as marcas comerciais de ração da alimentação de seu cachorro. É possível dá-las com moderação seguindo as orientações que oferecemos, bem como escolher em que proporção substituir o alimento industrializado por opções mais naturais.
Dito isso, tudo começa com a comida, mas não para por aí. Muitos cães praticam exercícios adequados e, ao mesmo tempo, são sobrecarregados com o impacto das toxinas do ambiente e com os efeitos de nosso estresse tóxico e implacável. Vamos discutir, também, maneiras de começar a entender o passado e o presente genéticos de seu cão e a utilizar essa informação para alavancar uma criação proativa e mitigar os efeitos, por exemplo, de uma genética menos favorável.
Práticas de reprodução ao longo do último século alteraram de forma radical muitos de nossos cães – alguns para melhor, mas, infelizmente, muitos para pior. Com certeza, a domesticação gerou orelhas flexíveis e genes mais dóceis; todavia, o cruzamento desenfreado e desestruturado também realçou genes recessivos e criou supressões genéticas e pools genéticos limitados. Essas circunstâncias têm contribuído para “falhas de raça” que geram animais geneticamente frágeis. Um terço dos cães da raça pug não consegue caminhar direito devido a “cruzamentos pela estética”, o que leva, entre outras coisas, a um risco maior de claudicação e de problemas na medula espinhal. Por causa da “síndrome do reprodutor popular” ocorrida décadas atrás, sete em cada dez Dobermanns carregam um dos genes ou ambos os genes da miocardiopatia dilatada, MCD. (Trata-se de uma disfunção cardíaca na qual o coração perde a habilidade de bombear o sangue devido à expansão e ao enfraquecimento da câmara principal; é um tipo comum de doença cardíaca em humanos também.) A boa notícia é que pode haver uma solução para alterar esse quadro. Os cães são nossos indicadores. Nos últimos cinquenta anos, suas batalhas na área da saúde têm se equiparado às nossas. Eles envelhecem de um jeito semelhante ao nosso, mas com muito mais rapidez, razão pela qual cientistas têm considerado cães como modelos de envelhecimento humano. Ao contrário de nós, no entanto, nossos animais de estimação não são capazes de tomar decisões relativas à própria saúde. Cabe aos seus cuidadores (ou donos e donas, tutores e tutoras, ou qualquer termo que você use para se referir ao seu papel na vida de seu cão) fazer escolhas inteligentes que gerem saúde e vitalidade duradouras. Mostraremos como e faremos isso da forma mais prática e viável possível.
Na Parte I, vamos começar com uma análise abrangente da quase extinção do cão saudável nos tempos modernos, enriquecendo a discussão com uma perspectiva impressionante de nossa evolução compartilhada. É possível que os cães tenham explorado um nicho que eles descobriram nos primórdios da sociedade humana, quando nos persuadiram a trazê-los para perto de nós, a abrigá-los do frio e a alimentá-los.
Em outras palavras, os cães nos aprovaram, não o contrário. Eles confiaram seus cuidados aos nossos ancestrais, que aceitaram e acolheram essa empreitada. Nesses capítulos, descrevemos todos os desafios que os cães enfrentam na atualidade em relação à saúde e ao bem-estar, em grande medida como consequência da confiança depositada em nós, seus cuidadores humanos. E, então, apontaremos soluções.
Na Parte II, vamos mergulhar na ciência e explorar o que se sabe acerca do rejuvenescimento por meio da dieta e do estilo de vida. Você vai aprender como o alimento conversa com os genes, por que a flora intestinal (o microbioma) dos cães é tão importante para a saúde quanto nosso mundo microbiano interno e por que é importante atender às escolhas do cachorro (pelo menos de vez em quando) e respeitar as preferências individuais.
Por fim, na Parte III, vamos revelar a Fórmula D.O.G.S. do Cão Eterno e mostrar como implementar algumas estratégias, em contextos reais, para que seu fiel companheiro tenha uma vida longa e saudável. Vamos equipar você com todas as ferramentas necessárias para adequar nossas recomendações à vida de seu cão e, sobretudo, selecionar as melhores estratégias para manter uma expectativa de vida longeva para ele. Nossa previsão é que você também se transforme. Você vai começar a pensar no que anda comendo, na quantidade de exercícios que está fazendo e se está ou não vivendo num ambiente propício à saúde.
Com o intuito de tornar tudo bastante simples e prático, cada capítulo se encerra com as Notas para os Entusiastas da Longevidade e com sugestões que você pode tentar implementar imediatamente. À medida que avançarmos, vamos usar algumas expressões-chave em negrito e deixar alguns fatos em destaque. Não é necessário esperar até chegar ao Como Fazer mais aprofundado da Parte III; vamos fornecer informações funcionais desde o início para que você possa implementar alterações pequenas, porém significativas, de imediato. Mais uma vez, consideramos que o que você mais procura neste livro são as respostas para os porquês da ciência e como aplicá-la no dia a dia.
Nosso público amante de animais é diverso. Se uma vida proativa é novidade para você, esperamos que este seja o início de uma amizade longa e saudável, centrada em tudo que pudermos fazer para maximizar o bem-estar de nossos cães à medida que eles envelhecem. O núcleo de nossa comunidade é formado por centenas de milhares de “pais e mães de pet 2.0” – tutores e tutoras capazes e bem informados, que usam métodos conscientes e bom senso na criação e na manutenção da saúde de seus animais. Esses pais e mães de pet comprometidos têm usado estratégias inovadoras ao longo dos últimos dez anos (e muitos deles há bem mais tempo) e têm nos implorado para disponibilizar a sabedoria em torno da longevidade e do bem-estar em um livro que sirva de referência, para que veterinários, amigos e familiares possam encontrar informações pertinentes em um só lugar. Nos deparamos, também, com donos e donas de cães iniciantes que mudam o próprio estilo de vida (incluindo a maneira como cuidam de membros da família). Nosso objetivo é contextualizar as informações o suficiente para que as recomendações façam sentido para os novatos. Além disso, gostaríamos de expor as pesquisas de ponta aos Entusiastas da Longevidade – os biohackers sempre em busca de ajustes para melhorar a saúde dos seus cães. Não gostaríamos que essas informações desanimassem os recém-familiarizados com o conceito de saúde proativa; nosso intuito é inspirar. Portanto, siga uma dica por vez e a integre à vida de seu cão de um jeito que funcione para você.
Unimos forças há alguns anos, e nas páginas seguintes você conhecerá nossas jornadas individuais e colaborativas. Como dois amantes de cães dedicados a ajudar cuidadores a navegar pelo confuso mundo da saúde animal, não fazíamos ideia de quão alinhados nossos objetivos estavam cada vez que nos encontrávamos em conferências e palestras. Assim que nos conectamos e formamos uma parceria profissional, percebemos que tínhamos a oportunidade de realizar um sonho em comum: renovar a mentalidade coletiva acerca dos cães e de sua saúde. Sabíamos que a tarefa seria desafiadora; na verdade, ao longo dos últimos anos temos ido a muitas partes do mundo, reunindo as informações mais atualizadas sobre saúde, doenças e longevidade caninas. Entrevistamos geneticistas, microbiologistas, oncologistas, especialistas em doenças infecciosas, imunologistas, dietistas e nutricionistas, historiadores de cães e clínicos de ponta, coletando dados atualizados que pudessem contribuir para nossa missão. Também falamos com os donos e donas dos cães mais velhos do mundo para descobrir o que haviam feito – e o que não haviam feito – para possibilitar que seus companheiros chegassem aos 20 anos e, em alguns casos, aos 30 (o equivalente a um humano muito idoso, com 110 anos ou mais, conhecidos como “supercentenários”). O que descobrimos tem o potencial de revolucionar para sempre o mundo dos animais de estimação. As informações reunidas neste livro – muitas das quais vão surpreender e motivar você – aumentarão a longevidade de cães em todos os lugares. E, talvez, até a sua. Como gostamos de dizer: “Um cão saudável influencia a saúde de seu tutor.”
A medicina veterinária está atrasada cerca de vinte anos em relação à humana. A pesquisa em torno dos últimos senolíticos (compostos anti-idade) vai acabar respingando em nossos animais. Mesmo assim, não queremos esperar. Há, ainda, aspectos cruciais da saúde canina que não são parte das principais discussões; entretanto, isso está mudando, graças ao conceito de Saúde Única – uma abordagem que reconhece que a saúde dos humanos está intimamente conectada à saúde dos animais e ao ambiente compartilhado. A Iniciativa da Saúde Única não é uma novidade, mas sua importância tem crescido nos últimos anos, à medida que médicos, osteopatas, veterinários, dentistas, enfermeiros e cientistas reconhecem que podemos aprender mais uns com os outros por meio de colaborações igualitárias e inclusivas. “Esforços colaborativos de múltiplas disciplinas atuando local, nacional e globalmente com o intuito de otimizar a saúde das pessoas, dos animais e do ambiente” é a definição da Iniciativa da Saúde Única. Portanto, mesmo que uma pesquisa que unifique as medicinas humana e a animal não esteja em evidência, entendemos que estamos no caminho certo. Tratamos muito da saúde humana neste livro porque ela é a base de boa parte da pesquisa sobre nosso companheiro canino, e vice-versa.
Os conceitos e correlações da Saúde Única que discutimos neste livro não são muito difundidos em webnários ou em revistas especializadas em saúde animal; não são discutidos pela maioria dos veterinários ou por muitos donos e donas de cães; nem estão bombando nas mídias sociais… ainda. Queremos dar início a essa conversa tão necessária – e provocar uma mobilização. A base de um ser humano saudável (ou adoentado) também se aplica aos cães.
O bem-estar físico e emocional de nossos cães é moldado pelas escolhas que fazemos para eles. E, por sua vez, o bem-estar deles tem impacto sobre o nosso. A guia é uma via de mão dupla. Durante séculos, seres humanos e caninos têm usufruído de uma conexão simbiótica, cada um afetando e enriquecendo a vida do outro. À medida que o mundo da pesquisa médica fica mais global, as escolhas em torno da saúde canina se tornam tão amplas quanto aquelas em torno da saúde humana. É preciso fazer escolhas sábias para, assim, proporcionar uma vida longa e saudável para o seu companheiro.