O Mestre da Vida | Sextante
Livro

O Mestre da Vida

Augusto Cury

ANÁLISE DA INTELIGÊNCIA DE CRISTO 3

ANÁLISE DA INTELIGÊNCIA DE CRISTO 3

JESUS, O MAIOR SEMEADOR DE ALEGRIA, LIBERDADE E ESPERANÇA

Terceiro volume da coleção Análise da Inteligência de Cristo, mais de dois milhões de livros vendidos no Brasil.

 

Jesus Cristo dedicou seus dias a nos mostrar o caminho da sabedoria e, mesmo no auge da dor física e psicológica, foi capaz de transmitir lições de fé, de amor, de superação e de humildade.

Em O Mestre da Vida, Augusto Cury decifra as profundas mensagens deixadas por Jesus desde a sua prisão e o seu julgamento até a sua condenação à morte na cruz.

Lançando uma nova luz sobre as passagens mais comoventes da Bíblia, Cury nos faz redescobrir esse grande personagem que foi o divisor de águas na história da humanidade.

Ele não usava armas nem tinha um exército atrás de si. Sua única arma eram suas palavras e atitudes. Quando falava, arrastava multidões, incendiava corações e destruía preconceitos.

As histórias que você encontrará aqui ensinam que não devemos ter medo de viver, que só nos tornamos verdadeiramente livres quando somos fiéis às nossas crenças e que precisamos ter fé e esperança para superar os momentos difíceis de nossa existência.

 

 

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Ficha técnica
Lançamento 22/09/2020
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 176
Peso 200 g
Acabamento brochura
ISBN 978-65-5564-051-9
EAN 9786555640519
Preço R$ 49,90
Ficha técnica e-book
eISBN 978-65-5564-056-4
Preço R$ 29,99
Lançamento 22/09/2020
Título original
Tradução
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 176
Peso 200 g
Acabamento brochura
ISBN 978-65-5564-051-9
EAN 9786555640519
Preço R$ 49,90

E-book

eISBN 978-65-5564-056-4
Preço R$ 29,99

Leia um trecho do livro

Prefácio

 

Nós nos alegramos pelo fato de a coleção Análise da Inteligência de Cristo estar sendo lançada em diversos países, ajudando milhares de leitores. Meu desejo inicial era publicar apenas três livros. Todavia, a personalidade de Cristo é tão espetacular que, à medida que comecei a investigá-la mais profundamente, percebi que três livros seriam insuficientes.

Pensava, por exemplo, em escrever um volume sobre os enigmas e as lições de vida que estão presentes no julgamento e na morte de Jesus. Não foi possível. Há tantos eventos em seu julgamento e sua crucificação que decidi abordá-los em dois livros. Esses momentos da história de Cristo são tão complexos e relevantes que mudaram as páginas da história. Da sua prisão até o último suspiro na cruz decorreram menos de 24 horas, mas isso foi o suficiente para situar a história em duas eras: antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.). Todas as vezes que registramos o ano em que estamos, testemunhamos que Jesus Cristo dividiu a história.

Um dia, eu e o leitor morreremos e, com o passar do tempo, cairemos no esquecimento. No máximo, algumas pessoas mais íntimas se lembrarão de nós e sentirão saudade. Todavia, o Mestre dos Mestres é inesquecível. As reações emocionais e os pensamentos que teve no auge da dor fogem completamente ao que se poderia esperar de um homem em meio ao caos que Jesus enfrentou. Analisaremos aqui as profundas lições que ele nos deixou ao longo de sua vida, particularmente durante sua prisão, seu julgamento e sua condenação à morte. A maneira como superou a dor, venceu o medo, suportou a humilhação pública e preservou a lucidez num ambiente inóspito nos deixa atônitos. Este livro termina quando ele sai sangrando da Fortaleza Antônia, a casa de Pilatos, sentenciado à morte e carregando a cruz.

No próximo volume desta coleção, O Mestre do Amor, estudaremos os fatos fundamentais que ocorreram na sua longa caminhada até o Gólgota, os fenômenos misteriosos e as palavras inigualáveis que ele proferiu durante a sua crucificação. Jesus foi um mestre do amor até seu coração silenciar.

Fechando esta coleção, O Mestre Inesquecível investigará o perfil psicológico dos discípulos antes da morte do seu mestre, os conflitos, dificuldades, temores e transformações por que passaram nas décadas seguintes. Estudaremos a mais profunda revolução ocorrida na vida de pessoas incultas. Aqueles galileus iletrados e sem grandes qualificações intelectuais desenvolveram as funções mais importantes da inteligência, sofreram uma profunda mudança no cerne de seu espírito e, por fim, incendiaram o mundo com a mensagem do carpinteiro da vida.

Quem não teve oportunidade de ler os livros em sequência não precisa se preocupar, pois eles podem ser lidos separadamente.

Agradeço a todos os leitores, entre os quais reitores de universidades, médicos, psicólogos, professores, empresários, jovens e adultos, que nos têm enviado e-mails e cartas animadoras revelando que abriram as janelas de suas vidas e arejaram suas emoções após a leitura desses livros.

Alegro-me também porque muitas pessoas que professam outras religiões cristãs nos escreveram dizendo-se encantadas com a personalidade do Mestre dos Mestres, afirmando que reacenderam a chama do seu amor por ele e que por meio desse amor aplainaram as suas diferenças. Animo-me em saber que ateus têm sido ajudados por esses textos e que pessoas pertencentes a religiões não cristãs também ganharam um novo alento em suas vidas após lerem os livros desta coleção.

Estou contente pelo fato de diversas faculdades de pedagogia e outros cursos, bem como escolas de ensino médio, estarem adotando esses livros, visando estimular a arte de pensar e as funções mais importantes da inteligência, tanto dos professores como dos alunos.

Apesar desse avanço, creio que a psicologia e a educação levarão muitos anos para perceber o erro que cometeram deixando de investigar a personalidade de Jesus Cristo e de aproveitar sua riquíssima história para o treinamento da emoção, bem como os mecanismos psíquicos e pedagógicos que ele utilizava para prevenir doenças e gerar pessoas livres, felizes e líderes em seu próprio mundo.

As reações de encantamento pelo Mestre da Vida que esta coleção tem provocado não são fruto de minha habilidade como escritor, mas da excelência do personagem que analiso. Tenho convicção das minhas limitações para descrever a sua grandeza.

Torturado, Jesus demonstrou esplêndida coragem e segurança. No extremo da dor física, produziu frases poéticas. No topo da humilhação, expressou serenidade. Quando não havia condições de proferir palavras, ensinou pelo silêncio, pelo olhar, pelas reações tranquilas e, algumas vezes, por suas lágrimas.

Embora este livro seja um estudo de filosofia e psicologia, o leitor encontrará, também, referências a trechos do Antigo e do Novo Testamento, com indicação do autor, do capítulo e versículo em que se encontram. Sugiro que, independentemente de sua crença, você tenha uma Bíblia ao alcance da mão. A leitura desses textos, no quadro mais amplo em que se apresentam, promoverá um conhecimento maior dessa figura única e fascinante que com suas palavras, gestos e atitudes revolucionou o mundo e o espírito humano.

Augusto Jorge Cury

 

 

CAPÍTULO 1

As causas sociais do julgamento

 

Passos apressados, rostos contraídos, uma preocupação intensa permeava uma escolta de soldados que caminhavam na noite densa. Tinham ordens expressas para prender um homem. Ele não usava armas nem pressionava as pessoas para que o seguissem, mas agitava toda uma nação, abalava as convicções dos seus líderes, destruía os preconceitos sociais, propunha princípios de vida e discursava sobre as relações humanas de um modo nunca visto.

Jerusalém era uma das maiores e mais importantes cidades do mundo antigo. Era berço de uma cultura milenar. Seus habitantes viviam das glórias do passado. Agora, estavam sob o jugo do Império Romano, e nada os animava. Entretanto, apareceu ali alguém que mudou a rotina da cidade. Só se falava a respeito de um homem que realizava feitos inimagináveis e possuía uma eloquência espantosa. Um homem que se esforçava em vão para não ser assediado, pois quando abria a boca incendiava os corações.

As pessoas se acotovelavam para ouvi-lo.

O carpinteiro de Nazaré entalhava madeira com as mãos; com palavras, a emoção humana. Como pôde alguém de mãos tão ásperas ser tão hábil em penetrar nos segredos da nossa alma?

Sua doçura e sua afabilidade não sensibilizaram os líderes da sua sociedade, que tentaram várias vezes em vão assassiná-lo por apedrejamento. Procuraram fazê-lo cair em contradição, tropeçar nas próprias palavras, mas sua inteligência deixava-os atônitos.

Sua fama aumentava a cada dia. Milhares de pessoas aprendiam a cartilha do amor. Ficava cada vez mais difícil prendê-lo. Entretanto, um fato novo deu alento aos seus inimigos: um de seus seguidores resolveu traí-lo.

O amanhã é um dia incerto para todos os mortais. Jesus, para espanto dos seus discípulos, afirmava que sabia tudo o que lhe aconteceria. Que homem é esse capaz de penetrar no túnel do tempo e se antecipar aos fatos? Ele sabia que ia ser traído. Então resolveu facilitar sua prisão, pois tinha forte convicção de que havia chegado o momento de passar pelo mais dramático caos que um ser humano pode enfrentar. Todos fogem do cárcere; no entanto, ele o procurou.

Afastando-se da multidão, o mestre de Nazaré foi com seus discípulos para um jardim nas cercanias de Jerusalém. Era uma noite fria e densa. Nesse jardim, como relata O Mestre da Sensibilidade, ele voltou o rosto para os pés e, gemendo de dor, orou profundamente. Preparou-se para suportar o insuportável. Sabia que ia ser mutilado por seus inimigos e aguardou a escolta de soldados.

 

Jesus ficou irremediavelmente famoso

A presença de Cristo em Jerusalém estava ficando insustentável. Pessoas acorriam de todos os cantos e das cidades próximas para vê-lo. O assédio da multidão ficara ainda mais intenso porque, poucos dias antes de sua morte, ele fez algo espetacular por seu amigo Lázaro em Betânia, uma pequena cidade perto de Jerusalém (João 11:1).

Frequentemente perdemos contato com nossa história. Os amigos e as belas e singelas experiências do passado se tornam páginas que dificilmente folheamos. Jesus, apesar de sua fama, nunca se esquecia das coisas simples nem abandonava aqueles que o amavam. Lázaro morrera havia quatro dias. Nós, às vezes, sepultamos muitos amigos que estão vivos e nunca mais nos lembramos deles. Jesus, ao contrário, não se esquecia nem dos que tinham morrido. Por isso, foi visitar a família de seu amigo Lázaro.

O que se pode fazer por uma pessoa em estado de putrefação? Depois de 15 minutos de parada cardíaca, sem manobras de ressuscitação, o cérebro é lesado de maneira irreversível, comprometendo áreas nobres da memória. Essa situação é capaz de causar um elevado grau de deficiência mental, pois milhões de informações se desorganizam, impedindo que os quatro grandes fenômenos que leem a memória e constroem as cadeias de pensamentos sejam eficientes nessa magna tarefa intelectual.*

 

A memória de Lázaro havia se tornado um caos

Se 15 minutos sem irrigação sanguínea são suficientes para lesar o cérebro, imaginem o que acontece depois de quatro dias de falecimento, como no caso de Lázaro. Não há mais nada a fazer.

Todos os segredos da memória desse homem tinham-se perdido de maneira irreparável. Bilhões, trilhões de informações contidas no córtex cerebral e que alicerçavam a construção da sua inteligência se transformaram num caos. Não havia mais história de vida nem personalidade. A única coisa que se podia fazer era tentar consolar a dor das suas irmãs, Maria e Marta.

Todas as vezes em que parecia não haver mais nada a fazer aparecia o Mestre da Vida, subvertendo as leis da biologia e da física. Quando todo mundo estava desesperado, ele reagia com tranquilidade.

Lázaro era uma pessoa bastante conhecida, e por isso muitos judeus estavam lá consolando suas irmãs. Quando Maria viu o mestre, lançou-se a seus pés, chorando.

Ao vê-la assim, Jesus chorou também. Chorou diante da dor e da fragilidade humanas. O homem Jesus chorava ao ver as lágrimas de suas amigas. Somos, muitas vezes, insensíveis à angústia dos outros, mas ao olhar de Jesus nada escapava, nem mesmo o sentimento de inferioridade de uma prostituta ou de um leproso.

Ao chegar ao lugar onde Lázaro estava sepultado, Jesus pediu que retirassem a pedra da tumba. Aflita, Marta argumentou sensatamente que seu irmão já cheirava mal, pois falecera havia quatro dias. Marta olhava para o mundo possível; Jesus, para o impossível. Com uma segurança inabalável, o mestre acalmou-a, dizendo que não temesse, apenas cresse.

Retirada a pedra, ele se aproximou sem se importar com o espanto das pessoas. Manifestando o poder incompreensível de quem está acima das leis da ciência, ordenou que Lázaro saísse do túmulo.

Para perplexidade de todos, um homem envolto em ataduras obedeceu à ordem e veio imediatamente ao encontro de Jesus. Bilhões de células nervosas ganharam vida. Os arranjos físico-químicos que ordenam as informações no córtex cerebral se reorganizaram. O sistema vascular se recompôs. Os órgãos foram restaurados, o coração voltou a pulsar e a vida recomeçou a fluir em todos os sistemas daquele cadáver.

Nunca na história, até os dias de hoje, uma pessoa clinicamente morta, cujo coração parou de bombear o sangue há vários dias, recuperou a vida, a memória, a identidade e a capacidade de pensar, como no caso de Lázaro. Jesus era verdadeiramente um homem, mas concentrava dentro de si a vida do Criador. Para ele não havia morte; tudo o que ele tocava ganhava vida. Que homem é esse que faz coisas que nem em seus extremos delírios a medicina sonha realizar?

 

Retirando a pedra

Há uma consideração a fazer nessa passagem. Jesus realizou um dos maiores milagres da história. Contudo, antes de fazê-lo, pediu que os homens retirassem a pedra da tumba.

Se tinha poder para ressuscitar alguém, por que não usou esse poder para remover a pedra? Porque é necessário primeiro tirar a pedra do nosso medo, da nossa insegurança e do nosso desespero para que Jesus possa intervir.

Sem a fé do ser humano, sem a sua cooperação, Jesus Cristo raramente age. Para ele, o maior milagre não é a cura sobrenatural de um corpo doente, mas a superação do medo, da infelicidade e da ansiedade de uma alma doente.

Por vontade do mestre de Nazaré, seu amigo Lázaro saiu do caos cerebral para a plena sanidade. A partir daí, a fama de Jesus, que já era enorme, tornou-se irrefreável. Os líderes judeus, que haviam tentado matá-lo sem êxito, procuravam em vão conter a admiração que ele suscitava.

Desanimados, diziam uns para os outros: “Vede, nada conseguis. Todos vão atrás dele!” (João 12:19). Ou os líderes judeus o eliminavam ou se rendiam a ele.

 

Os motivos que levaram Jesus ao julgamento

O comportamento do mestre de Nazaré não agradava àqueles que tinham sede de poder e amavam o individualismo. Sua postura incomodava até alguns de seus discípulos.

Eles pediam que ele não se ocultasse, que se manifestasse claramente ao mundo. Gostariam de ver a cúpula judaica e a romana se dobrarem diante dele. Desejavam ver o seu mestre no mais alto patamar, acima de todos os homens, para que, quando ele estivesse lá, pudessem desfrutar sua posição. Entretanto, o mestre os chocava com seu comportamento.

Apesar de ser tão poderoso, queria ter o mais baixo status social. Embora fosse o mais livre dos seres humanos, almejava ser um escravo da humanidade. Os discípulos não compreendiam como alguém tão grande podia desejar se fazer tão pequeno.

Uma única vez aceitou estar acima dos seres humanos. Foi quando, pendurado na cruz, se tornou um espetáculo de vergonha e de dor. Como é possível que uma pessoa capaz de ter todos aos seus pés tenha preferido postar-se aos pés do mundo?

 

O mestre não conseguia ser ocultado

Jesus era um fenômeno social impossível de ser ocultado. Apesar de levar uma vida simples, sem ostentação, não conseguia ser ignorado.

O Mestre da Vida não apenas era seguido por inúmeras pessoas como tocava-as no território da emoção. Elas se apaixonavam por ele. Pessoas ricas e pobres, cultas e iletradas que nunca tinham aprendido as lições mais básicas do amor passaram a admirar e amar um carpinteiro. Muitos mal conseguiam esperar os primeiros raios de sol para sair ao encontro daquele que dera um novo sentido à vida deles.

A relação afetiva que Jesus tinha com a multidão era insuportável para os membros da cúpula judaica. “Ficavam apavorados com a possibilidade de uma intervenção de Roma nos movimentos do povo que se organizava em torno do mestre de Nazaré. Perderiam seus cargos e as benesses do poder que a relação com o império lhes propiciava. Naquela época, até o sumo sacerdote era eleito pela política romana.”

Contudo, não era apenas o medo da intervenção romana que os preocupava. A inveja também os torpedeava. Nunca haviam alcançado uma pequena dose do prestígio de que o nazareno desfrutava. Outro assunto intragável para os líderes de Israel eram as acusações que Jesus fazia contra eles. Entretanto, o que mais os perturbava era o fato de aquele simples homem se declarar o “Cristo”, o ungido de Deus, o filho do Deus altíssimo.

 

Criticando o falso moralismo dos fariseus

Jesus era um homem corajoso. Conseguia falar o que pensava mesmo quando colocava sua vida em risco. Dizia que os fariseus limpavam o exterior do corpo, mas não se importavam com o seu conteúdo.

O mestre era delicado com todas as pessoas, inclusive seus opositores, mas em algumas ocasiões criticou com contundência a hipocrisia humana. Disse que os mestres da lei judaica seriam drasticamente julgados, pois atavam pesados fardos para as pessoas carregarem, enquanto não se dispunham a movê-los sequer com um dedo (Mateus 23:4).

Quantas vezes não somos rígidos como os fariseus, exigindo das pessoas o que elas não conseguem suportar e nós mesmos não conseguimos realizar? Exigimos calma dos outros, mas somos impacientes, irritadiços e agressivos. Pedimos tolerância, mas somos implacáveis, excessivamente críticos e intolerantes. Queremos que todos sejam estritamente verdadeiros, mas simulamos comportamentos, disfarçamos nossos sentimentos. Desejamos que os outros valorizem o interior, mas somos consumidos pelas aparências externas.

Temos de reconhecer que, às vezes, damos excessiva atenção ao que pensam e falam de nós, mas não nos preocupamos com aquilo que corrói nossa alma. Podemos não prejudicar os outros com nosso farisaísmo, mas nos autodestruímos quando não intervimos em nosso mundo interno, quando não somos capazes de fazer uma faxina em sentimentos negativos como a inveja, o ciúme, o ódio, o orgulho, a arrogância, a autopiedade.

 

Jesus abala os líderes de Israel com suas parábolas 

Certa vez, o mestre foi convidado para comer na casa de um fariseu (Lucas 14:1). Era um sábado. Havia muitos convidados e todos o observavam. Estavam atentos tentando descobrir alguma falha nele, principalmente se desrespeitaria o sábado, curando alguém. Como sempre acontecia, uma pessoa extremamente doente apareceu, e mais uma vez Jesus abalou a rigidez dos moralistas.

Antes de realizar o milagre, fitou os convidados e perguntou-lhes o que fariam se um filho ou um boi caísse em um poço num sábado. Eles não o socorreriam imediatamente? Ninguém lhe deu resposta; alguns ficaram calados, outros, envergonhados.

O Mestre da Vida aproveitou a ocasião para contar-lhes mais uma parábola que ilustrava a necessidade compulsiva de prestígio e poder social. Falou-lhes que, quando fossem convidados para um casamento, não deveriam procurar sentar-se nos primeiros lugares, para que, vindo o noivo, este não os retirasse dali para dar lugar a pessoas mais importantes. Estimulou-os a procurar o último lugar, para que o anfitrião os convidasse a ocupar um lugar melhor, e assim fossem honrados diante dos demais convivas.

Nessa mesma passagem, esse brilhante contador de histórias foi mais longe. Lembrou o individualismo, o egocentrismo e a troca de favores que permeiam o consciente e o inconsciente humanos. Abordou um princípio chocante que raramente é observado, mesmo por aqueles que se dizem seus mais ardentes seguidores (Lucas 14:12).

Pediu-lhes que, quando preparassem um jantar, não convidassem os poderosos, os ricos e os amigos, porque estes tinham como retribuir. Recomendou que eles convidassem os cegos, os coxos, os aleijados e os pobres, que não têm como oferecer qualquer retribuição. Segundo ele, a retribuição seria dada por aquele que vê o que está escondido, pelo Autor da vida.

Desejava que cuidássemos dos aleijados, não apenas os que têm o corpo mutilado, mas também os que não conseguem caminhar nesta turbulenta existência. Almejava que ajudássemos os cegos, não apenas os que não enxergam com os olhos, mas também os que estão cegos pelo medo, pela dor da depressão, pelas perdas e frustrações.

Quem ama as pessoas desprezadas como ele amou? Quem acaricia os humildes e os honra como seres humanos ímpares? Quem emprega seu tempo, sua atenção, sua emoção para aquecer os feridos na alma? Com suas palavras simples e profundas, o mestre interpelou drasticamente não apenas os fariseus como todos nós.

O egoísmo, o orgulho e o individualismo são “vírus” da alma que nunca morrem. Podemos controlá-los, mas nunca os eliminamos. Se não os combatermos continuamente, eles um dia eclodirão de forma sorrateira, infectando nossa emoção e nos distanciando aos poucos dos nossos próximos.

 

Um amor que valoriza cada ser humano

O mestre se preocupava com todos os que sofriam. Gastava tempo procurando aliviar suas dores e resgatar sua autoestima, estimulando-os a não desistir da vida. Desejava ardentemente que ninguém se sentisse inferior diante do desprezo dos outros e das dificuldades sociais.

A emoção do mestre era imensurável, ao passo que a dos fariseus era estreita. Se alguém almejasse ser seu discípulo, tinha de alargar os horizontes do seu pequeno mundo e incluir as pessoas, tinha de se deixar invadir por um amor que o impelisse a cuidar delas.

Cristo dizia que os sãos não precisam de médicos. Os fariseus, embora estivessem doentes na alma, se consideravam abastados, plenamente sadios, autossuficientes.

Para Jesus, o importante não era a doença do doente, mas o doente da doença. Não importava o quanto as pessoas estavam doentes, o quanto tinham errado ou estavam deprimidas e angustiadas, e sim até que ponto reconheciam suas próprias misérias emocionais. Os que tinham coragem de admitir que estavam doentes sentiam mais o calor do cuidado do mestre. Já a autossuficiência dos moralistas os impedia de se aquecerem com sua dedicação.

 

Princípios que ultrapassam o sonho de todo humanista

Ninguém estabeleceu princípios humanísticos e elevou a solidariedade a um nível tão alto como o Mestre dos Mestres da escola da vida.

Nem os filósofos que usaram o mundo das ideias para combater frontalmente as injustiças se preocuparam tanto com a dor humana. Nem o mais generoso dos capitalistas que divide os lucros das suas empresas com seus funcionários e doa parte dos seus bens foi tão longe no respeito às pessoas menos privilegiadas. Nem mesmo os ideólogos marxistas atingiram patamares tão altos em seus devaneios humanísticos.

Jesus criticava contundentemente a falta de humanidade dos fariseus e dos mestres da lei. Opunha-se ao julgamento preconcebido que faziam das pessoas, à arrogância com que as tratavam; sua crítica, porém, longe de ser grosseira, era suave. Ele usava simples e sábias parábolas para incentivá-los a pensar e reciclar os fundamentos de suas existências.

Os fariseus lavavam as mãos antes de comer, mas aceitavam que o lixo psicológico entulhasse suas vidas. Eram ousados ao apontar o dedo para os erros dos outros, mas tímidos para reconhecer suas próprias fragilidades. Aqueles que não têm coragem de olhar para dentro de si mesmos nunca corrigirão as rotas da própria história.

 

Um homem na contramão de todos os paradigmas religiosos

A cúpula judaica considerava-se representante de Deus na Terra. Os assuntos de Deus eram a sua especialidade. Conclui-se portanto que, com a chegada de Jesus, todos deveriam estar extasiados, alegres, dispostos a servi-lo e a abandonar seus preconceitos religiosos. Mas como poderiam servir a um Cristo que nascera num estábulo e crescera numa cidade desprezível, fora da esfera dos doutores da lei? Como poderiam ser ensinados por um Cristo que se escondera na pele de um carpinteiro e tinha as mãos ásperas de quem executa um trabalho pesado? Como poderiam amar e se envolver com alguém que era amigo de pecadores, que acolhia as prostitutas e jantava na casa dos malditos coletores de impostos?

No conceito dos fariseus da época, o filho do Altíssimo deveria ter nascido em Jerusalém, em berço de ouro, não poderia se misturar com a plebe nem se envolver com pecadores. Jesus era a antítese de tudo que imaginavam sobre o Cristo. Não podiam se dobrar aos pés de um homem que os combatia dizendo que eles procuravam os primeiros lugares nos jantares e nas sinagogas e faziam longas orações com o objetivo de serem elogiados (Mateus 23:14).

Por todos esses motivos, o mestre de Nazaré era drasticamente rejeitado pela cúpula judaica. Ele literalmente atordoava os sacerdotes e todos os partidos de Israel: os fariseus, os saduceus e os herodianos.

Embora, em alguns momentos, os membros da cúpula judaica o admirassem e ficassem confusos com sua sabedoria, eles o consideravam autor da maior heresia que alguém já proferira na face da Terra. Como poderia ser ele o Cristo se combatia os zelosos guardiões da religião judaica, em vez de atacar Tibério e o Império Romano?

Diante de tal blasfêmia, os líderes de Israel decidiram que ele tinha de morrer rapidamente. Por isso seu julgamento foi acelerado. Muitas pessoas que estudam o julgamento de Cristo não têm noção da sequência dos acontecimentos e da rapidez com que se deram.

Os líderes judeus tentaram matá-lo, mas falharam. Agora ele estava famoso demais. A multidão precisava ser surpreendida, e o ônus da sua morte tinha de recair sobre o poder romano. Como fazer isso? Era uma tarefa dificílima. Uma grande revolta popular poderia eclodir. Então Jesus, para surpresa de todos, facilitou o processo. Foi ao jardim do Getsêmani se entregar sem qualquer resistência.

A cúpula judaica desejava matá-lo, mas jamais imaginara que ele também tinha um desejo ardente de morrer. Como veremos, Jesus não fez nada para se livrar daquele julgamento injusto, humilhante e torturante.

Nunca os homens tiveram tanto desejo de matar uma pessoa sem saber que ela mesma estava tão disposta a morrer. Jamais se teve notícia de um homem tão feliz e sociável, que contemplava os lírios dos campos e se apresentava como a fonte do prazer humano, que desejasse enfrentar a mais humilhante e sofrida travessia para a morte! Sem dúvida, Jesus teve a personalidade mais interessante e intrigante da história.

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Augusto Cury

Sobre o autor

Augusto Cury

AUGUSTO CURY é psiquiatra, cientista, pesquisador e escritor. Publicado em mais de 70 países, já vendeu, só no Brasil, 30 milhões de exemplares de seus livros, sendo considerado o autor brasileiro mais lido na atualidade. Seu livro O vendedor de sonhos foi adaptado para o cinema pela Warner/Fox. O próximo título a ganhar as telonas será O futuro da humanidade. Entre seus sucessos estão O futuro da humanidade; O homem mais inteligente da história; O homem mais feliz da história; O maior líder da história; Pais brilhantes, professores fascinantes e Nunca desista dos seus sonhos. Cury é autor da Teoria da Inteligência Multifocal, que trata do complexo processo de construção de pensamentos, dos papéis da memória e da construção do Eu. Também é criador da Escola da Inteligência, o primeiro programa mundial de gestão da emoção para crianças e adolescentes e o maior programa de educação socioemocional da atualidade, com mais de 400 mil alunos.

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