A conversa entre Nathalia Arcuri, Gustavo Gerbasi e Bráulio Bessa sobre vida financeira foi um dos destaques do evento, que também promoveu uma reflexão sobre a vida contemporânea e ressaltou a importância do passado para entender o presente
Para comemorar a criação de um novo site – espaço ainda mais interativo que hospeda esse simpático blog e concentra as redes sociais da editora -, a Sextante promoveu o seu II Ciclo de Palestras Sextante. A primeira edição, realizada ano passado, teve como objetivo a celebração das duas décadas da marca, fundada em 1998. O evento foi tão bem avaliado que engatilhou essa nova rodada, numa dinâmica que, como da primeira vez, privilegiou o encontro entre escritores e público. O Teatro Gazeta, em São Paulo, abrigou os bate-papos nos dias 8 e 9 de junho, com a presença inspirada de onze autores cujos livros fisgaram leitores em diversos cantos do país. Para quem não pôde comparecer, uma boa notícia: brevemente, todas as palestras estarão disponíveis no canal da Sextante no YouTube.
Os sócios-fundadores Marcos e Tomás da Veiga Pereira ressaltaram a importância do evento e o compromisso da editora, inabalável nos mais de 20 anos de atuação. “A Sextante nasce com a ideia de tornar o livro acessível”, sintetizou Marcos, lembrando que o nome diz respeito a um instrumento de navegação. “Quanto mais a gente pensa, mais a gente fica feliz com essa escolha, porque o que nos motiva é oferecer boas referências para se viver bem, com o desejo genuíno de tornar boas as relações com o mundo, com o nosso trabalho, com a nossa saúde, com nós mesmos”, complementou Tomás.
Nathalia Arcuri, Gustavo Cerbasi, Bráulio Bessa, Mary Del Priore, Eduardo Bueno, Rosana Hermann, Daiana Garbin, Ana Claudia Quintana Arantes, Pedro Siqueira, Iberê Thenório e Mariana Fulfaro estavam entre os convidados da celebração.
Poupar, investir e sonhar
No primeiro dia de evento, Nathalia Arcuri e Gustavo Cerbasi foram recebidos com aplausos calorosos da plateia. Natural. Ela é o nome por trás do fenômeno “Me Poupe!”, parte do combo livro + canal no YouTube com três milhões de seguidores. “Quem compareceu a essa sessão tem mais 100% de chance de enriquecer”, disse ela, para o delírio da galera. Ele é especialista em inteligência financeira, autor de “A riqueza da vida simples” e “Casais inteligentes enriquecem juntos”, entre outros títulos de sucesso. Como não poderia deixar de ser, o dinheiro guiou o bate-papo, ancorado na seguinte pergunta: “O que é riqueza, afinal?”. Assunto recorrente nos principais noticiários do país e, hoje mais do que antes, motivo de críticas e dúvidas, a aposentadoria foi tema de uma pergunta enviada pelo público: “Dá tempo de se preparar para uma aposentadoria tranquila com 34 anos?”.
Cerbasi garantiu que sempre dá tempo, mesmo se você tiver acabado de se aposentar e não está satisfeito com a renda. “Até nessa situação, você pode contar com aquele saldo do plano de previdência ou, numa estratégia ousada, usar a casa que você tem. Com algo bem organizado, você pode colocar esse patrimônio para acelerar a aposentadoria. É uma combinação de estratégias que envolve trabalhar num negócio que o sustente, usar parte do dinheiro para pagar o aluguel e usar aquela massa intermediária e colocar para multiplicar. Com isso, consigo recuperar o atraso. Estou falando de uma pessoa aposentada. Com 34 anos, dá para fazer muita coisa. Em 15 anos, com esforço, conversa, criatividade e envolvimento, você tem uma vida de independência financeira”, garantiu.
Fiel a seu estilo, mais direto e sem melindres, Arcuri propôs uma mudança na mentalidade em relação à aposentadoria e arrematou: “A ideia de aposentadoria é muito ultrapassada. No momento em que você parar de pensar nela, você estará mais próxima de conseguir a independência financeira. A aposentadoria está muito conectada a algo do tipo: ‘Ah, eu sou passivo e começo a receber dinheiro de algum lugar que vem para mim’. Desculpe, mas isso não vai acontecer. Você tem que mudar a chave”. Para a jornalista, é importante ter em mente que é possível ganhar dinheiro não importa a sua área de atuação.
Num desdobramento da conversa, dessa vez com o assunto abotoado à poesia, Bráulio Bessa se juntou à dupla. Responsável pela “Poesia com rapadura”, quadro do programa “Encontro com Fátima Bernardes”, da TV Globo, e autor de “Poesia que transforma”, ele explicou que jamais pensou em ganhar dinheiro com a profissão: “Todo poeta que conhecia era lascado igual a mim, especialmente os que escreviam literatura de cordel, pois nosso país não valoriza a cultura popular de raiz”, afirmou ele, nascido no interior do Ceará. Desde os 14 anos, Bessa conservou o sonho de ser escritor e lançar um livro. Hoje, com a conquista plena do desejo, ele se emociona ao constatar que suas palavras alcançaram tantas pessoas: “Realizo os meus sonhos todos os dias”.
Já Arcuri afirmou não ter mais sonhos, mas, sim, metas. “Não tenho filhos nem pretendo ter. Meu filho é o Me Poupe! Todas as minhas energias estão nele, que considero uma ferramenta de transformação. Minha meta é transformar cada cidadão brasileiro em investidor. Não sei se vou viver para ver isso acontecer, mas tenho certeza que vou deixar uma empresa capaz de contribuir para isso”.
O lugar da história
Outra conversa importante ocorreu entre Mary Del Priore e Eduardo Bueno. O tema: colocando o passado em pratos limpos. Chamada por Marcos da Veiga Pereira de “a grande dama da historiografia brasileira”, Del Priore lançou há pouco tempo a biografia “As vidas de José Bonifácio”. Bueno, por sua vez, é o autor de “Coleção Brasilis”, entre outros títulos, sendo responsável por popularizar os livros de história. Atualmente, ele prepara uma obra inédita sobre a cidade do Rio de Janeiro, como revelou Pereira na ocasião.
A visão sobre o que é história e o papel da disciplina nas escolas marcou a troca de ideias dos escritores: “Sempre que me perguntam quem são os heróis brasileiros, se Tiradente ou Dom Pedro, eu digo: são os professores de História, que estão em sala de aula e lidam com enormes dificuldades”, argumentou Del Priore, que também falou sobre o processo de pesquisa e escrita do livro sobre Bonifácio.
Bueno, por sua vez, ratificou a importância do passado para se compreender o presente atravessado pelo país. “Para alguns, a história é um suplício, uma sucessão de datas e nomes. Mas ela está muito longe de ser só isso. A história vive e pulsa. Cada povo tem a trajetória que merece, porque foi ele que construiu. E por termos um vínculo tão frágil com a história, a gente esquece disso. Sempre culpamos os políticos pelos problemas do país, mas a culpa é nossa, já que é o povo que constrói a história”. Aos interessados em seguir a carreira de historiador, ele dá boas-novas: “O Brasil é uma pauta inesgotável. E tem mercado para isso. O livro não morreu”.
Nós e o mundo
Rosana Hermann, Daiana Garbin e Del Priore conversaram sobre autoconhecimento e desafios do mundo contemporâneo em mais um dos encontros promovidos pelo ciclo. Autora de “Celular, doce lar”, Hermann refletiu justamente sobre o aparelho que ocupou lugar central na vida da maioria das pessoas, modificando a maneira de nos relacionarmos. “As pessoas começaram a achar que a terra é plana, porque a única informação que temos hoje vem via tela, esta, sim, plana. Acho o mundo maravilhoso. Jamais demonizaria o celular ou qualquer outro avanço do homem. Mas é curioso que, ao ter acesso a todas as informações produzidas, você mesmo se reduza e só utilize cinco ou seis aplicativos. A gente se restringe àquele mundo pequeno. Quando a gente tem a tecnologia que pode ser libertadora, a gente cai na armadilha de ser escravizado, cai no algorítmo que é feito para nos desviar”, frisou a escritora, que completa: “A gente está morando nesse lugar, na rede social, e cria uma realidade alternativa ali”.
Um dos atrativos das palestras foi possibilitar a interação entre escritores, o que tornou a dinâmica sempre muito fluida. Hermann, por exemplo, revelou a emoção que sentiu ao ler a passagem em que Garbin detalha o desconforto em relação ao peso vivido às vésperas e durante a festa de casamento, um dos momentos mais marcantes de “Fazendo as pazes com o corpo”. A jornalista sofreu por mais de 20 anos de transtorno alimentar. “Tinha uma relação completamente obsessiva com a minha alimentação. A comida mandava na minha vida. Eu abria os olhos de manhã e pensava: ‘eu quero comer o mundo, mas não posso comer porque vou engordar’. O sofrimento era grande e, muitas vezes, causado pela comparação e pelo sentimento de inadequação”, recordou. Garbin contou ter se surpreendido com as recorrentes mensagens de mulheres maduras que conviveram com esse transtorno silenciosamente: “Entendi que quando a gente abre o coração e fala das nossas dores, a gente faz uma conexão com outras pessoas”.
No segundo dia de palestras, Ana Claudia Quintana Arantes (de “A morte é um dia que vale a pena viver”) e Pedro Siqueira (de “Senhora do sol”, entre outros) conversaram sobre o sentido da vida, reforçando o papel fundamental dos laços que fazemos durante nossa trajetória. A importância do outro, a ilusão de autossuficiência e o sentimento de solidão, tão recorrente em nossa sociedade, também foram debatidos, bem como as possibilidades de lidar com a perspectiva da morte de uma maneira menos dolorosa.
Em seguida, Iberê Thenório e Mariana Fulfaro, responsáveis pelo Manual do Mundo, canal no YouTube que explica a ciência de forma clara e divertida, contaram detalhes sobre a iniciativa. A dupla lançou no final do ano passado o segundo livro, “Dúvida Cruel”, que apresenta respostas para 80 questões curiosas.
Agora, é torcer para que o ciclo se repita ano que vem!