Sou uma mulher avessa a rótulos. Não gosto de enquadrar nem meu comportamento nem a mim mesma (nem a educação que dou aos meus filhos) em categorias predefinidas. Quero ser livre para escolher o que funciona para mim em determinada situação – isto é, o que melhor reflete meus valores, minhas crenças e os aspectos práticos da minha vida – e também para mudar quando as práticas deixarem de fazer sentido.
Por exemplo, já fui macrobiótica, aiurvédica, vegetariana, vegana e hoje não me encaixo em nenhum desses termos. Mas carrego comigo o que cada experiência me trouxe de bom e, quando sinto necessidade, embarco de cabeça nesses conhecimentos (e em outros também) em busca de saúde e bem-estar. A liberdade para ouvir o corpo e saber o que, quando e quanto comer é preciosa para mim.
Com a maternidade não é diferente. Acredito muito no autoconhecimento e na intuição. Sou curiosa e experimentadora por natureza e, quando me tornei mãe, essas características ficaram ainda mais fortes. Para cada filho, fiz escolhas condizentes com meu momento – e, lógico, houve muitas mudanças entre um e outro.
Por exemplo:
Flor nasceu no hospital e Nino, em casa.
Ela teve o próprio quarto desde o primeiro dia de vida; ele só ganhou um com 10 meses.
Flor usou fralda biodegradável com forro de tecido; Nino usa predominantemente fralda de pano.
Ela tomou banho de banheira desde recém-nascida; ele tomou o primeiro banho já comigo, no chuveiro.
Flor usou chupeta; Nino nunca gostou.
Flor dormiu no berço; Nino nunca teve berço, sempre dormiu comigo, na minha cama ou numa caixinha de papelão ao meu lado.
Sempre passeei com Flor no carrinho; Nino passeava na mochilinha ergonômica ou no sling.
Flor comeu papinha amassada até 1 ano; Nino, só até os 8 meses.
Fiz diferente com cada filho simplesmente porque opções novas surgiram e me pareceram interessantes. Antes de me preparar para escrever este livro, eu não sabia que havia termos para definir o bebê que divide a cama com os pais, o que mama na hora em que sente fome, o que sinaliza para a mãe a hora em que quer evacuar ou aquele que, já no início do desmame, é apresentado a alimentos picados, que ele come com a própria mão. Só soube que praticava cama compartilhada, amamentação em livre demanda, higiene natural e baby-led weaning (BLW) quando essas expressões surgiram nos comentários de fotos e vídeos que eu postava nas redes sociais ou deparei com elas na fase de leitura e pesquisa para o livro.
Para descobrir, desmistificar e divulgar esses métodos – que foram maravilhosos na minha vida de mãe e mulher –, é útil conhecer sua terminologia, pois ela facilita a comunicação e a troca entre as pessoas. Há quem diga que essas práticas estão “na moda”. Suspeito que elas sempre existiram: acontece que agora as pessoas passaram a falar sobre isso e, com as redes sociais e o maior acesso à informação, o “parto humanizado”, a “cama compartilhada” e o “BLW” caíram na boca do povo e passaram a ser debatidos – seja por quem é contra ou a favor. Se há algo “na moda” são o debate, a abertura a novas ideias e a liberdade de buscar o que faz sentido para cada pessoa.
Para mim, todas essas descobertas e novas práticas surgiram de forma orgânica, em conversas e trocas com outras mães, que, em geral, também não usavam esses jargões. Quando me sentia atraída por alguma escolha ou curiosa para tentar algo diferente, discutia o assunto com meu marido e experimentávamos para ver se dava certo. Não senti nenhuma pressão para me adequar a um ideal ou para me sentir pertencente a um grupo qualquer. Nem me permiti cair na loucura de achar que só seria uma boa mãe se fizesse x, y ou z, de querer me encaixar em determinado estilo de criação dos filhos. Acho que os rótulos nos prendem e nos fazem sentir culpadas se sairmos da linha ou se pensarmos um pouco diferente do que eles ditam.
Sou a favor de uma maternidade livre de rótulos.
O propósito deste livro não é defender as escolhas que eu fiz na criação dos meus filhos nem pregar um “estilo” de maternidade no intuito de converter outras mães e outros pais. O que busquei foi comunicar, compartilhar e até mesmo celebrar as descobertas que fiz nesses quase 10 anos como mãe da Flor e dois como mãe do Nino.
Escolhi organizar o livro da maneira mais simples possível: em ordem cronológica, começando pela fase antes de engravidar e terminando na introdução alimentar, passando pela gestação, pelo parto, pela amamentação e pelos cuidados com a mãe e o bebê. Em quase todos os capítulos ofereço algumas receitas que me marcaram naquela fase. Os capítulos de 1 a 5 contam com a participação de especialistas que convidei para responder a algumas dúvidas que tive e que acredito que muitos novos pais possam ter também.
Entrevistei uma nutricionista, dois psicólogos, duas pediatras, uma psicanalista, uma obstetra, uma enfermeira obstétrica e uma obstetriz (também conhecida como parteira). A voz e a visão desses profissionais experientes e comprometidos com a informação baseada em evidências contribuíram para fazer do Bela maternidade muito mais do que apenas a minha história.
No entanto, o que você encontrará nestas páginas é, essencialmente, minha experiência como mãe de dois filhos. Minhas escolhas – norteadas por princípios muito individuais, como a simplicidade e o respeito à natureza – foram somente isso: opções minhas, nada mais, nada menos. Mas se essas histórias sobre a gestação, o parto e a criação da Flor e do Nino servirem para fazer você refletir sobre sua maneira de ser mãe, encontrando mais liberdade e realização nesse papel, acho que este livro cumprirá sua função.
Espero que ele seja tão enriquecedor e gostoso de ler para você quanto foi para mim de escrever.