Introdução
São oito as emoções mais intensas que qualquer ser humano pode experimentar. Você as conhece porque já vivenciou cada uma delas, talvez sem se dar conta do que estava realmente sentindo e sofrendo por se sentir perdido.
Passei os últimos 25 anos estudando essas emoções. Minha formação em Psicologia e Teologia e minha experiência como psicólogo clínico me ensinaram como ajudar as pessoas que sofrem. Neste livro quero mostrar, de uma perspectiva psicológica, como é possível curar nosso sofrimento emocional, associando o tratamento terapêutico com a antiga sabedoria milenar da Bíblia. Você provavelmente irá se identificar com muitos dos problemas dos pacientes que tratei em meu consultório. Suas experiências poderão ajudá-lo a descobrir as origens dos problemas que o afligem e a forma de resolvê-los.
As emoções são uma combinação de manifestações que acontecem em nossos corpos e em nossas mentes. Procuramos interpretá-las para compreender nossas vidas. Não é uma tarefa fácil, mas estou convencido de que ter consciência dessas emoções básicas pode ajudar você a entender o que está sentindo e a lidar com elas de forma produtiva.
A psicanálise contemporânea está voltada para a importância dessas emoções. Muitos psicólogos consideram que nossas ações são guiadas mais pela emoção do que pela razão. As emoções são os marcos que nos fazem saber se algo tem peso ou não, e os veículos através dos quais nos conectamos com os outros. Talvez você não se lembre nitidamente do conteúdo das experiências que o marcaram, mas provavelmente não esqueceu o que sentiu. Só agora estamos começando a compreender melhor o papel que as emoções desempenham em nossas experiências.
Cada capítulo deste livro trata de uma emoção intensa. Os seis primeiros examinam emoções negativas, como dor, medo, ansiedade, tristeza, culpa/vergonha e raiva. Os dois últimos abordam a felicidade e o amor. Embora essas duas emoções não sejam negativas, a falta de habilidade para lidar com elas pode causar grande sofrimento.
E como Deus cura as feridas? Certamente não é eliminando-as, por mais que Lhe imploremos isso. O sofrimento emocional é inevitável, mas Deus dotou o ser humano de grande sabedoria para lidar com essas oito emoções presentes na vida de todos. Usei passagens da Bíblia para mostrar como Deus cura a dor emocional. Seus métodos nem sempre são aqueles que você pede e podem lhe causar surpresa.
Minha formação e minha prática me levaram a concluir que a boa psicologia e a boa teologia são capazes de nos indicar o caminho da saúde. Décadas de pesquisa sustentam essa conclusão, assim como o depoimento de milhares de pessoas que compartilharam comigo suas experiências. Somos criaturas emocionais e espirituais que ferimos e amamos. Aprender o que Deus faz para curar o sofrimento irá mostrar também como Ele pode trazer mais amor à sua vida.
Gostaria de lhe dar uma sugestão para que possa tirar melhor proveito deste livro. Se quiser, siga a ordem sugerida no sumário, mas você também pode começar pelas emoções que mais o afetam, marcando os casos clínicos com que mais se identifica para voltar a eles depois. Pense nas situações em que experimentou as emoções descritas e como reagiu a elas.
A terapia é um processo demorado e que exige paciência. Pois, para que ela funcione, é necessário desmontar estruturas perversas que problemas de infância construíram em nosso sistema emocional. Só assim seremos capazes de fazer escolhas mais livres, que promovam nosso crescimento e felicidade. Com um profundo efeito terapêutico, este livro vai alimentar você de sabedoria e de fé no poder curativo do amor de Deus – e esses serão seus preciosos instrumentos de transformação.
Capítulo 1
Dor & sofrimento
O problema da dor
“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Mateus 27:46
Quando estava na cruz, Jesus pronunciou palavras que expressavam o mais completo abandono. Na hora de seu maior sofrimento, o filho de Deus bradou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” Teólogos debateram essa frase durante anos, mas uma coisa é certa: não é uma declaração de falta de fé. Trata-se da conseqüência de um trauma psicológico. Um trauma muito intenso nos dá uma imensa sensação de solidão. Se você já se sentiu abandonado por Deus em seu sofrimento, não é o único. O próprio Jesus experimentou esse tipo de dor.
O sofrimento traumático é tolerável
se não tivermos de atravessá-lo sozinho.
Um dos melhores livros sobre o tema do sofrimento no último século é O problema do sofrimento, de C. S. Lewis. Depois que escreveu o livro, Lewis conheceu Joy Gresham, uma poetisa americana que estava estudando na Inglaterra. Casaram-se, e Lewis desenvolveu com ela um profundo relacionamento amoroso, diferente de tudo que conhecera até então. Mas, tragicamente, Joy morreu de câncer, deixando o marido inconsolável e desesperançado. Foi depois desse grande sofrimento que ele escreveu A anatomia de uma dor: um luto observado, sua própria história de superação da intensa dor do luto e da perda. Lewis escreveu:
Enquanto isso, onde está Deus? Esse é um dos sintomas mais inquietantes. Quando você está feliz, tão feliz que não tem nenhuma necessidade Dele… e se volta para Ele com gratidão e louvor, é recebido de braços abertos. Mas vá até Ele quando estiver em desespero, quando tudo parece ter sido em vão, e o que encontrará? Uma porta fechada e o barulho de uma tranca sendo passada duas vezes. Depois disso, um silêncio. Você pode ir embora.
A franqueza de Lewis nos ajuda a entender a intensidade do sofrimento. O trauma provoca a sensação de que ninguém é capaz de nos compreender. Se a dor for muito grande, ela pode nos afastar das outras pessoas e até de Deus. Não é uma falha ou uma fraqueza. É uma característica do trauma pelo qual podemos passar um dia. Se isso acontecer, provavelmente nos sentiremos sozinhos e amedrontados. Embora a Bíblia não explique bem o porquê dessa dor, ela nos oferece boas sugestões para lidar com ela.
A coisa mais importante que Deus nos concedeu para que o sofrimento nos faça crescer, em vez de nos derrotar, é a Sua presença. Quando estiver sofrendo, volte-se para Ele e peça-Lhe para ser sua força. Como psicólogo, sei que o sofrimento traumático é tolerável se não tivermos de atravessá-lo sozinho. Deus também não deseja isso. Ele prometeu estar presente para nos sustentar em momentos de necessidade. É assim que Deus cura a dor.
O sofrimento nos torna
uma pessoa melhor ou pior?
“Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria o serdes
submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que a vossa fé,
bem provada, leva à perseverança.”
Tiago 1:2-3
As pessoas mais sábias que conheço já sofreram muito na vida. Mas também é verdade que as mais amargas também passaram por provações. Como isso acontece? A dor é uma força poderosa que nos empurra para uma determinada direção. Ela pode nos guiar para a maturidade e a sabedoria ou para o desespero e a alienação.
Não é o fato de sofrer que nos torna uma pessoa melhor ou pior, mas aquilo que fazemos com o sofrimento. Ele é apenas uma força que nos impele – pode nos impelir de modo brusco ou chegar lentamente e permanecer durante um longo período de tempo. Não podemos escolher o tipo de sofrimento que vamos enfrentar na vida, mas podemos escolher a direção que decidimos seguir.
O sofrimento é uma força poderosa, mas podemos
escolher a direção que queremos seguir.
Adam procurou a terapia por causa do estresse. Trabalhava durante longas horas numa firma de consultoria e se sentia sobrecarregado com as responsabilidades do trabalho e de casa. Dedicara sua vida ao serviço religioso durante vários anos, esperando se tornar pastor, mas isso nunca chegou a acontecer. Agora, Adam buscava a terapia para lidar com o estresse decorrente de um trabalho exigente, uma vida familiar complicada e sonhos frustrados.
Ele era o caçula de três irmãos e tinha apenas 7 anos quando seus pais se divorciaram. Os pais não acreditavam em Deus, não se amavam e não tinham tempo para se preocupar com o filho. Por isso, Adam procurou ser auto-suficiente e decidiu não seguir o caminho dos irmãos mais velhos, que os havia levado às drogas e à autodestruição. Dedicou-se aos estudos, trabalhando em meio expediente para se sustentar. Decidira desde cedo que ser responsável e optar pelo bem seria a melhor escolha.
Adam se tornou cristão ainda no ensino médio e se casou com uma boa moça também cristã logo depois de se formar. Os dois sonhavam em ser pastores e servir a Deus, trabalhando pelos mais necessitados. Logo depois do casamento, a mulher engravidou. Todos os sonhos de felicidade pareciam estar se realizando. Mas as coisas nem sempre são como parecem.
Pouco depois do nascimento da filha, Adam e sua mulher descobriram que a criança sofria de uma grave doença mental. A menina nunca seria independente, precisando de constante assistência. Ficaram arrasados. Sua única filha estava condenada a sofrer por toda a vida. Como Deus podia permitir que isso acontecesse a duas pessoas que queriam servi-Lo? Por que tanto sofrimento tinha que recair sobre uma criança inocente?
Por causa dos cuidados especiais de que a filha necessitava, Adam teve de arranjar um outro emprego e abandonou o sonho do sacerdócio. Por amor à filha, aceitaram esse novo plano para suas vidas. Adam trabalhava com afinco e procurava seguir o caminho do bem.
– Não consigo ganhar o suficiente –, disse ele, frustrado.
– É sufocante quando as necessidades parecem inesgotáveis – respondi.
– Ir para o trabalho – ele prosseguiu –, que é brutalmente exigente, é a parte mais fácil do meu dia. Depois tenho que voltar para casa e enfrentar os maiores obstáculos da minha vida. Sempre pensei que Deus me quisesse como pastor. Mas já não sonho mais. A vontade de Deus é que eu cuide da minha família.
– Ter fé não é fácil. Ainda mais quando não sabemos o que esperar – completei.
– É – disse Adam. – Minha idéia do que Deus queria para minha vida mudou. Estou apenas tentando encontrar forças para ser o homem de que minha filha precisa. Li que São Francisco de Assis certa vez disse: “Pregue sempre o Evangelho e, quando necessário, use as palavras.” Acho que agora entendi o que ele queria dizer. Pregar o evangelho é dar amor para minha filha.
Adam luta diariamente contra a desesperança e a frustração. Mas decidiu que o sofrimento não iria derrotá-lo. Ele poderia ter resistido, se tornado amargo e poderia ter acabado como o restante de sua família, rendendo-se às drogas e à autocomiseração. No entanto, mesmo desanimado e por vezes revoltado contra Deus, Adam escolheu deliberadamente a direção de sua vida. Ele se levanta todos os dias disposto a fazer o bem para sua família, com a convicção de que, de algum modo, Deus lhe dará forças para sobreviver. O resultado? Adam é um homem em pleno processo de crescimento. Apesar de ele próprio não se sentir assim, Adam é uma das melhores pessoas que conheço.
O sofrimento é uma força poderosa. Não conseguiremos evitá-lo, mas poderemos escolher a direção em que ele nos levará. Deixaremos a dor nos isolar e nos empurrar para a solidão e a amargura, ou decidiremos nos fortalecer com o sofrimento para nos tornarmos pessoas cada vez melhores?
A Bíblia nos ensina: “Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que a vossa fé, bem provada, leva à perseverança.” Perseverança é diferente de paciência. A paciência é receptiva e passiva. Ela nos ajuda a esperar pelas coisas que não temos ainda e nos dá a capacidade de aguardar até que algo melhor aconteça. Mas, para que o sofrimento contribua para o nosso crescimento, é preciso mais do que apenas suportá-lo. Assim como Adam, é preciso acordar todos os dias e optar por praticar o bem. Não se trata de meramente manter uma atitude positiva nas provações, mas de agir com amor. É dessa forma que o sofrimento é capaz de produzir a perseverança. Esse tipo de comportamento, além de ajudar na superação da dor, traz alegria sempre que você enfrenta múltiplas provações.
A Bíblia diz que Deus nos ajuda em nosso sofrimento. Isso não significa que Deus irá acabar com o sofrimento, mas que nos criou dotados de força e recursos para enfrentá-lo. A capacidade de perseverar é um desses dons divinos que contribuem para nos tornarmos pessoas melhores, e não nos deixarmos destruir pela dor.