Capítulo Um
A natureza do estresse
O estresse parece inevitável e onipresente. As inúmeras fontes de estresse estão em toda parte, prontas para nos tirar a alegria e prejudicar nossa saúde.
A complexidade da vida moderna aumentou de forma geral nossos níveis de estresse e tensão. A internet e os noticiários na televisão 24 horas por dia nos deixam conhecer tragédias e desastres pouco depois que acontecem, em qualquer parte do mundo. Os avanços na tecnologia de transporte e comunicação aumentaram expressivamente a mobilidade em nossa vida pessoal e profissional. Perdeu-se o contato reconfortante com a família, pois necessidades de trabalho e estudo separam seus membros. O apoio, a ajuda e a troca de afeto no convívio com pais e avós vão se tornando cada vez mais raros por causa da distância e do custo das viagens. Mesmo os que moram na mesma cidade ficam tão absorvidos por suas atividades que encontram pouco tempo para conviver.
Cresce o número de famílias em que a mãe ou o pai cria sozinho os filhos, o que aumenta a responsabilidade na formação das crianças – que deixa de ser compartilhada – e faz crescer os encargos financeiros e de ordem prática. Além disso, o trabalho tem que ser mantido a qualquer custo, mesmo que não gratifique ou realize, porque o desemprego é um fantasma cuja ameaça permanente só faz aumentar o estresse. A tecnologia da informação nos bombardeia constantemente através de telefones celulares, e-mails, mensagens instantâneas e outras coleiras eletrônicas via internet. Não temos como escapar. Não há mais “intervalo”. Nossos sistemas de apoio estão se desgastando e nos sentimos sobrecarregados.
Os avanços tecnológicos na área militar, principalmente as armas de destruição em massa, aumentaram ainda mais nosso nível de desconforto. Algumas consequências negativas das novas tecnologias, como lixo nuclear, aquecimento global e poluição do meio ambiente, também tiveram um efeito cumulativo no aumento do estresse. A complexidade crescente do mundo é outro fator que abastece um estado crônico de estresse e tensão. A evolução espiritual e a capacidade de recuperar e manter um equilíbrio saudável simplesmente não progrediram na mesma proporção que os elementos causadores de tensão.
Um efeito de todas essas transformações foi uma mudança na natureza e no padrão de tudo o que induz ao estresse. Quando a vida era mais calma, podíamos experimentar momentos de estresse agudo, mas em seguida voltávamos ao estado de tranquilidade e nos recuperávamos. Nosso corpo conseguia eliminar os hormônios do estresse e voltar às condições normais. Agora, estamos muito mais frequentemente expostos ao estresse constante ou crônico que não dá ao organismo tempo suficiente para reverter seus nocivos efeitos fisiológicos. Isso nos mantém o tempo todo mergulhados em hormônios do estresse, pagando um alto preço físico e mental.
Por essas razões, este livro é um instrumento precioso. Saber como reduzir rapidamente os níveis de estresse na mente e no corpo é de importância vital para manter a saúde num mundo que cada vez mais nos sobrecarrega. As técnicas que apresentamos aqui e o CD que acompanha o livro podem ajudar você a conseguir isso.
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O estresse resulta de nossa reação física e psicológica às mudanças potenciais com que convivemos. A mente reage com ansiedade, preocupação ou medo. O corpo reage secretando substâncias químicas e hormônios.
O circuito do estresse fisiológico que existia no homem primitivo como mecanismo para assegurar a sobrevivência da espécie, e que foi geneticamente refinado ao longo de milhares de anos, funciona da seguinte maneira: quando um perigo é percebido, a região do hipotálamo em nosso cérebro responde liberando CRH (hormônio liberador de corticotropina), que ativa a hipófise glândula pituitária que, por sua vez, secreta ACTH (hormônio adrenocorticotrófico), que faz as glândulas suprarrenais liberarem três outros hormônios: epinefrina (adrenalina), norepinefrina (noradrenalina) e cortisol (glicocorticoide).
A epinefrina e a norepinefrina aumentam a pressão arterial e a frequência cardíaca, desviam o sangue do sistema gastrointestinal para os músculos e aceleram o tempo de reação. O cortisol libera glicose (açúcar) da reserva fisiológica, a fim de prover combustível imediato para o corpo. O cortisol também age para prevenir inflamação no local de lesões ou ferimentos em potencial. O circuito completo de secreção de substâncias químicas e hormônios é conhecido como eixo HPA – hipotalâmico-pituitário-adrenal.
Uma ameaça real ou imaginária ativa o eixo HPA, fazendo-nos mudar para o modo de reação energética. Estamos prontos para lutar ou fugir, dependendo da natureza do perigo. A respiração acelera, o coração dispara e a mente se torna ao mesmo tempo ativa e concentrada. Ao receber suprimento de sangue e combustível, os músculos ficam prontos para a ação imediata. A força física e a agilidade melhoram.
No mundo atual, o estresse causado por relacionamentos, problemas financeiros, tragédias dos noticiários e engarrafamentos parece aumentar e diminuir, mas jamais cessar. O eixo HPA é permanentemente ativado, sem que haja um ponto final bem definido. As substâncias químicas do estresse são secretadas de forma constante. Muitas vezes não podemos lutar nem fugir. Nós nos sentimos impotentes, presos numa armadilha. Uma ativação a longo prazo do eixo HPA causa doenças crônicas nocivas, físicas e psicológicas, como problemas cardíacos, úlceras, obesidade, abuso do uso de drogas, depressão, enfraquecimento do sistema imunológico, entre outras. A redução do estresse não apenas melhora a qualidade de vida como pode literalmente salvar vidas.