Falando com estranhos | Sextante
Livro

Falando com estranhos

Malcolm Gladwell

O QUE DEVERÍAMOS SABER SOBRE AS PESSOAS QUE NÃO CONHECEMOS.

Ao apontar como nossas ideias preconcebidas afetam nossas interações com os outros, Malcolm Gladwell, autor dos best-sellers Fora de série e O ponto da virada, escreveu um guia valioso para tempos de intolerância e crise.

 

“Gladwell é um brilhante explicador do comportamento humano.” – The Week

 

Como Fidel Castro conseguiu enganar a CIA durante décadas? Por que Neville Chamberlain pensou que podia confiar em Hitler? Por que os casos de ataques sexuais nas universidades estão crescendo?

Neste livro, Malcolm Gladwell apresenta uma análise surpreendente da maneira como interagimos com as pessoas que não conhecemos – e questiona por que tantas vezes fazemos julgamentos equivocados em relação a elas.

Existe algo muito errado com as estratégias que usamos para interpretar os outros. Por não sabermos falar com estranhos, abrimos a porta para conflitos e mal-entendidos, às vezes com consequências catastróficas.

Em Falando com estranhos, você lerá sobre uma espiã que passou anos nos mais altos níveis do Pentágono sem ser detectada, sobre o homem que derrubou o gestor de fundos Bernie Madoff, sobre o suicídio da poeta Sylvia Plath e várias outras histórias intrigantes.

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Ficha técnica
Lançamento 25/11/2019
Título original Talking to Strangers
Tradução Ivo Korytowski
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 320
Peso 420
Acabamento brochura
ISBN 978-85-431-0895-7
EAN 9788543108957
Preço R$ 59,90
Ficha técnica e-book
eISBN 978-85-431-0896-4
Preço R$ 34,99
Ficha técnica audiolivro
ISBN 9788543109817
Duração 10h 56min
Locutor Marcos Breda
Lançamento 25/11/2019
Título original Talking to Strangers
Tradução Ivo Korytowski
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 320
Peso 420
Acabamento brochura
ISBN 978-85-431-0895-7
EAN 9788543108957
Preço R$ 59,90

E-book

eISBN 978-85-431-0896-4
Preço R$ 34,99

Audiolivro

ISBN 9788543109817
Duração 10h 56min
Locutor Marcos Breda
Preço US$ 7,99

Leia um trecho do livro

Introdução

“Saia do carro!”

1.

Em julho de 2015, uma jovem afro-americana chamada Sandra Bland foi de carro de Chicago, onde morava, até uma cidadezinha uma hora a oeste de
Houston, no Texas. Estava indo fazer uma entrevista de emprego na Universidade Prairie View A&M, onde se formara alguns anos antes. Ela era alta e tinha uma presença marcante, com uma personalidade que combinava com seu tipo físico. Fizera parte da sororidade Sigma Gamma Rho e havia tocado na banda marcial. Também fora voluntária numa organização para idosos. Regularmente postava vídeos curtos e inspiradores no YouTube identificados como “Sandy Speaks”, que costumavam começar com “Bom dia, meus lindos Reis e Rainhas”.

Estou acordada hoje simplesmente louvando a Deus, dando graças ao Seu nome. Agradecendo-Lhe não apenas por ser meu aniversário, mas pelo crescimento, pelas diversas coisas que Ele fez em minha vida neste último ano. Apenas rememorando meus 28 anos de vida e tudo que Ele tem me revelado. Embora eu tenha cometido alguns erros, definitivamente tenha feito besteira, Ele continua me amando, e quero que meus Reis e Rainhas saibam que Ele continua amando vocês também.

Bland conseguiu o emprego em Prairie View. Ficou eufórica. Planejava conciliar o trabalho com um mestrado em ciência política. Na tarde de 10 de julho, ela deixou a universidade para fazer compras de supermercado e, ao dobrar à direita para a rodovia que circunda o campus, foi parada por um policial. Seu nome era Brian Encinia: branco, cabelos escuros curtos, 30 anos. Ele foi educado – pelo menos no início. Informou que ela não sinalizara a mudança de pista. Fez algumas perguntas. Ela respondeu. Então Bland acendeu um cigarro e Encinia pediu que ela o apagasse.

A interação entre eles foi registrada pela câmera de vídeo do painel do carro dele e pelo celular dela, e já foi vista milhões de vezes no YouTube.

Bland: Estou no meu carro. Por que tenho que apagar o cigarro?

Encinia: Bem, você pode sair do carro agora.

Bland: Eu não tenho que sair do meu carro.

Encinia: Por favor, saia do veículo.

Bland: Só porque estou…

Encinia: Saia do veículo.

Bland: Você não tem o direito de exigir isso. Não, você não tem esse direito.

Encinia: Saia do veículo.

Bland: Você não tem o direito. Você não tem o direito de fazer isso.

Encinia: Eu tenho o direito, sim, agora saia ou vou tirar você.

Bland: Eu me recuso a falar com você a não ser para me identificar. [ruído] Estou sendo retirada do carro porque não dei seta?

Encinia: Saia ou vou tirar você. Estou dando uma ordem legal. Saia do carro agora ou eu mesmo vou tirar você.

Bland: E eu vou ligar para o meu advogado.

Encinia: Vou arrancar você daí. [Enfia o braço dentro do carro]

Bland: Ok, você vai me arrancar do carro? Ok, tudo bem.

Encinia: [chamando reforço] 2547.

Bland: Vamos fazer isto.

Encinia: Sim, vamos. [Tenta puxar Bland]

Bland: Não toque em mim!

Encinia: Saia do carro!

Bland: Não toque em mim! Não toque em mim! Não estou presa e você não tem o direito de me retirar do meu carro.

Encinia: Você está presa!

Bland: Estou presa? Por quê? Por quê? Por quê?

Encinia: [Para o rádio] 2547 Condado FM 1098. [inaudível] Mande outra unidade. [Para Bland] Saia do carro! Saia do carro agora!

Bland: Por que estou sendo detida? Você está tentando me dar uma multa porque eu não…

Encinia: Eu disse saia do carro!

Bland: Por que estou sendo detida?

Encinia: Estou dando uma ordem legal. Vou arrastar você desse carro.

Bland: Você está ameaçando me arrastar para fora do meu próprio carro?

Encinia: Saia do carro!

Bland: E depois você vai me [inaudível]?

Encinia: Vou acertar você! Saia! Agora! [Pega a arma imobilizadora e aponta para Bland.]

Bland: Uau. Uau. [Bland sai do carro.]

Encinia: Saia. Agora. Saia do carro agora!

Bland: Você está fazendo tudo isso só porque não dei seta?

Bland foi presa e encarcerada. Três dias depois, suicidou-se em sua cela.

2.

O caso de Sandra Bland aconteceu em meio a um estranho período na vida pública americana. Esse período começou em agosto de 2014, quando um negro de 18 anos chamado Michael Brown foi morto a tiros por um policial em Ferguson, no Missouri. Brown acabara de, supostamente, furtar um maço de charutos de uma loja de conveniência. Os anos seguintes viram um caso após o outro envolvendo a violência da polícia contra negros. Houve revoltas e protestos por todo o país. Surgiu o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), movimento de luta por direitos civis. Por um tempo, os americanos só falavam sobre isso. Em Baltimore, um jovem negro chamado Freddie Gray foi detido por portar um canivete e entrou em coma no compartimento traseiro da van da polícia. Perto de Minneapolis, um jovem negro chamado Philando Castile teve o carro parado por um policial e inexplicavelmente levou sete tiros enquanto procurava seus documentos. Na cidade de Nova York, um negro chamado Eric Garner foi abordado por um grupo de policiais – sob a suspeita de estar vendendo cigarros ilegalmente – e estrangulado até a morte na luta subsequente. Em North Charleston, na Carolina do Sul, um negro chamado Walter Scott foi parado por causa de um defeito na luz traseira do veículo, saiu correndo do carro e foi fuzilado pelas costas por um policial branco. Scott foi morto em 4 de abril de 2015. Sandra Bland havia dedicado a ele um episódio de “Sandy Speaks”.

Bom dia, meus lindos Reis e Rainhas… Não sou racista. Cresci em Villa Park, em Illinois. Eu era a única menina negra entre as líderes de torcida… Povo negro, vocês não terão sucesso neste mundo enquanto não aprenderem a interagir com gente branca. Quero que os brancos entendam que os negros estão fazendo o máximo que podem… E não tem como não ficarmos furiosos quando vemos situações em que fica claro que a vida do negro não importou. Para aqueles que questionam por que ele estava fugindo, bem, pelas notícias que temos visto ultimamente, você pode ficar parado, se entregar à polícia e ainda assim ser morto.

Três meses depois, ela também estava morta.

Falando com estranhos é uma tentativa de entender o que de fato aconteceu próximo à rodovia naquele dia no interior do Texas.

Por que escrever um livro sobre uma abordagem policial mal executada? Porque o debate gerado por aquela sequência de casos foi profundamente insatisfatório. Um lado levou a discussão para a questão do racismo – olhando para o caso a uma altura de 3 mil metros. O outro lado examinou cada detalhe de cada caso com uma lupa. Como era a personalidade do policial? O que ele fez, exatamente? Um lado viu a floresta, mas não as árvores. O outro viu as árvores, mas não a floresta. Cada lado estava certo à sua maneira. O preconceito e a incompetência contribuem muito para explicar a disfunção social nos Estados Unidos. Mas o que você faz com qualquer um desses diagnósticos além de prometer, com toda a sinceridade, esforçar-se mais da próxima vez? Existem maus policiais. Existem policiais preconceituosos. Os conservadores preferem a primeira interpretação; os liberais, a última. No fim, os dois lados se anulam mutuamente. Policiais continuam matando pessoas, mas essas mortes já não dominam o noticiário. Talvez você nem se lembre mais de Sandra Bland. Nós esquecemos essas controvérsias após um intervalo razoável e partimos para outras coisas.

Eu não quero partir para outras coisas.

3.

No século XVI, houve quase 70 guerras envolvendo as nações e os Estados da Europa. Os dinamarqueses combateram os suecos. Os poloneses combateram os Cavaleiros Teutônicos. Os otomanos combateram os venezianos. Os espanhóis combateram os franceses – e assim por diante. Se havia um padrão no conflito incessante, era que as batalhas envolveram, em sua esmagadora maioria, vizinhos. Você lutava contra as pessoas do outro lado da fronteira, que sempre estiveram ali. Ou lutava contra alguém dentro de suas próprias fronteiras: a Guerra Otomana de 1509 se deu entre dois irmãos. Na maior parte da história humana, os encontros – hostis ou não – raramente foram entre povos estranhos. As pessoas que você encontrava e combatia muitas vezes acreditavam no mesmo Deus que você, construíam seus prédios e organizavam suas cidades da mesma maneira que você, travavam suas guerras com as mesmas armas, de acordo com as mesmas regras.

No entanto, o conflito mais sangrento do século XVI não se enquadrou em nenhum desses padrões. Quando o conquistador espanhol Hernán Cortés encontrou o soberano asteca Montezuma II, nenhum dos lados conhecia qualquer coisa sobre o outro.

Cortés desembarcou no México em fevereiro de 1519 e aos poucos abriu caminho para o interior, avançando sobre a capital asteca de Tenochtitlán. Quando Cortés e seu exército chegaram, ficaram estupefatos. Tenochtitlán era extraordinária – bem maior e mais impressionante do que qualquer das cidades que Cortés e seus homens tinham conhecido na Espanha. Uma cidade sobre uma ilha, ligada à terra firme por pontes e cruzada por canais. Possuía amplos bulevares, aquedutos elaborados, mercados vibrantes, templos construídos com estuque branco brilhante, jardins públicos e até um zoológico. Era impecavelmente limpa – o que, para alguém criado na imundície das cidades europeias medievais, deve ter parecido algo quase milagroso.

“Quando vimos tantas cidades e aldeias construídas na água e outras grandes cidades em terra seca, ficamos espantados e dissemos que aquilo era como os encantamentos descritos em Amadís”, recordou Bernal Díaz del Castillo, um dos oficiais de Cortés. “E alguns de nossos soldados se perguntaram se as coisas que víamos não seriam um sonho. […] Não sei como descrever aquilo, vendo coisas de que nunca se ouviu falar, nunca foram vistas antes, nem sequer sonhadas.”

Os espanhóis foram saudados nos portões de Tenochtitlán por um grupo de chefes astecas, depois levados até Montezuma. Ele era uma figura de grandeza quase surreal, transportado numa liteira enfeitada com ouro e prata e adornada com flores frescas e pedras preciosas. Um dos cortesãos avançava à frente do cortejo, varrendo o chão. Cortés desceu do seu cavalo. Montezuma foi abaixado de sua liteira. Cortés, sendo espanhol, avançou para abraçar o líder asteca – apenas para ser impedido pelos acompanhantes de Montezuma. Ninguém abraçava Montezuma. Em vez disso, os dois homens fizeram uma reverência um para o outro.

– Vós sois ele? Vós sois Montezuma?

Montezuma respondeu:

– Sim, sou ele.

Nenhum europeu jamais pusera os pés no México. Nenhum asteca jamais conhecera um europeu. Cortés nada sabia sobre os astecas, apenas ficara atônito com sua riqueza e a cidade extraordinária que haviam construído. Montezuma nada sabia sobre Cortés, exceto que havia se aproximado do reino asteca com grande audácia, munido de armas estranhas e animais grandes e misteriosos – cavalos – que os astecas nunca tinham visto.

Não é de admirar que o encontro entre Cortés e Montezuma tenha fascinado os historiadores por tantos séculos. Naquele momento – 500 anos atrás –, quando exploradores começaram a atravessar oceanos e realizar expedições ousadas para territórios até então desconhecidos, uma espécie inteiramente nova de encontro emergiu. Cortés e Montezuma quiseram conversar, embora nada soubessem um sobre o outro. Quando Cortés indagou a Montezuma “Vós sois ele?”, não disse essas palavras especificamente. Cortés falava somente espanhol. Teve que levar dois intérpretes consigo. Um deles era uma índia chamada Malinche, que havia sido capturada pelos espanhóis alguns meses antes. Ela sabia a língua asteca nauatle e maia, a língua do território mexicano onde Cortés iniciara sua jornada. Cortés também tinha em seu comboio um sacerdote espanhol chamado Gerónimo del Aguilar, que sofrera um naufrágio no Iucatã e aprendera maia em sua permanência por lá. Assim, Cortés falava com Aguilar em espanhol. Aguilar traduzia em maia para Malinche. E Malinche traduzia o maia em nauatle para Montezuma – e quando Montezuma respondeu “Sim, sou ele”, a longa cadeia de tradução funcionou ao contrário. O tipo de interação simples, cara a cara, com que ambos conviveram por toda a vida subitamente tornou-se complicado. Cortés foi conduzido a um dos palácios de Montezuma – um lugar que Aguilar descreveu depois como tendo “inúmeros aposentos, antecâmaras, corredores esplêndidos, colchões com mantos amplos, travesseiros de couro e fibras de árvores, bons cobertores e túnicas de peles brancas admiráveis”. Após o jantar, Montezuma reuniu-se com Cortés e seus homens e fez um discurso. Imediatamente, a confusão começou. Da forma como os espanhóis interpretaram as observações de Montezuma, o rei asteca estava fazendo uma concessão espantosa: acreditava que Cortés fosse um deus, a materialização de uma velha profecia segundo a qual uma divindade exilada um dia retornaria do leste. E estava, portanto, submetendo-se a Cortés. Dá para imaginar a reação do conquistador espanhol: aquela cidade magnífica agora era efetivamente sua.

Mas foi realmente o que Montezuma quis dizer? O nauatle, a língua dos astecas, possuía um tom reverencial. Uma figura real como Montezuma falaria numa espécie de código, de acordo com uma tradição cultural em que os poderosos projetavam seu status por meio de uma elaborada falsa humildade. A palavra em nauatle para nobre, observa o historiador Matthew Restall, é quase idêntica à palavra para criança. Quando um soberano como Montezuma falava de si mesmo como pequeno e fraco, estava na verdade sutilmente chamando a atenção para o fato de que era estimado e poderoso.

Restall escreve:

A impossibilidade de traduzir adequadamente aquela língua é óbvia. O falante era com frequência obrigado a dizer o oposto do que de fato tinha em mente. O sentido real ficava embutido no uso da linguagem reverencial. Despojada dessas nuances na tradução e distorcida pelo uso de vários intérpretes, […] não apenas era improvável que uma fala de Montezuma fosse entendida de forma precisa, como era provável que seu sentido seria deturpado. Neste caso, o discurso de Montezuma não era sua rendição; era a aceitação da rendição dos espanhóis.

Você deve se lembrar, graças às aulas de história no colégio, de como terminou o encontro entre Cortés e Montezuma. O soberano asteca foi feito refém por Cortés, depois assassinado. Os dois lados entraram em guerra. Cerca de 20 milhões de astecas pereceram, quer diretamente pelas mãos dos espanhóis, quer indiretamente pelas doenças trazidas com eles. Tenochtitlán foi destruída. A incursão de Cortés no México marcou o início de uma era de expansão colonial catastrófica. E também introduziu um padrão novo e nitidamente moderno de interação social. Hoje em dia o tempo todo entramos em contato com pessoas cujas crenças, perspectivas e antecedentes são diferentes das nossas. O mundo moderno não são dois irmãos brigando pelo controle do Império Otomano. São Cortés e Montezuma batalhando para se entenderem mutuamente por meio de vários níveis de intérpretes. Falando com estranhos discute por que somos tão ruins nesse ato de interpretação.

Cada um dos capítulos deste livro é dedicado a compreender um aspecto diferente do problema com pessoas desconhecidas. Os exemplos foram tirados dos noticiários. Talvez você tenha ouvido falar de alguns deles. Na Universidade Stanford, no norte da Califórnia, um estudante do primeiro ano chamado Brock Turner conheceu uma mulher em uma festa e terminou a noite sob custódia da polícia. Na Universidade Estadual da Pensilvânia, Jerry Sandusky, o ex-treinador assistente do time de futebol americano, foi considerado culpado de pedofilia, e o presidente da instituição, além de dois de seus principais auxiliares, considerados cúmplices de seus crimes. Você lerá sobre uma espiã que passou anos nos mais altos níveis do Pentágono sem ser descoberta, sobre o homem que derrubou o gestor de fundos hedge Bernie Madoff, sobre a falsa condenação da estudante americana Amanda Knox e sobre o suicídio da poeta Sylvia Plath.

Em todos esses casos, as partes envolvidas dependiam de um conjunto de estratégias para traduzir as palavras e intenções umas das outras. E, em cada um deles, algo deu muito errado. Neste livro, quero entender essas estratégias – analisá-las, criticá-las, pesquisar sua origem, descobrir como corrigi-las. Ao final, retornarei a Sandra Bland, porque existe algo no encontro à margem da rodovia que deveria nos assombrar. Pense em quão difícil foi. Sandra Bland não era alguém que Brian Encinia conhecesse da vizinhança. Aquilo teria sido fácil: Sandy! Tudo bem? Da próxima vez tome mais cuidado. Em vez disso, você tem Encinia do Texas e Bland de Chicago, um homem e uma mulher, um branco e uma negra, um policial e uma civil, um armado e outra desarmada. Eram estranhos um para o outro. Se fôssemos mais ponderados como sociedade – se estivéssemos dispostos a nos engajarmos num exame de consciência sobre como abordamos e interpretamos as pessoas que não conhecemos –, ela não teria acabado morta numa cela de prisão do Texas.

Mas, para começar, tenho duas perguntas – dois enigmas sobre estranhos –, começando com uma história contada anos atrás por um homem chamado Florentino Aspillaga em uma sala de interrogatórios na Alemanha.

Parte I

ESPIÕES E DIPLOMATAS: DOIS ENIGMAS 

Capítulo um

A vingança de Fidel Castro

1.

O posto final de Florentino Aspillaga foi em Bratislava, na antiga Tchecoslováquia. Foi em 1987, dois anos antes da queda da Cortina de Ferro. Aspillaga dirigia uma firma de consultoria chamada Cuba Tecnica, que supostamente estava ligada ao comércio internacional. Mas não estava. Era uma empresa de fachada. Aspillaga era um agente do alto escalão do Diretório Geral de Inteligência de Cuba.

Em 1985 Aspillaga havia sido nomeado agente secreto do ano pelo serviço de espionagem cubano. Recebeu uma carta de elogio escrita à mão pelo próprio Fidel Castro. Havia servido seu país com distinção em Moscou, Angola e Nicarágua. Era um astro. Agora dirigia a rede de agentes secretos cubanos infiltrados em Bratislava.

No entanto, em algum ponto de sua carreira no serviço de inteligência cubano, ele se desiludiu. Assistira a um discurso de Fidel em Angola celebrando a revolução comunista ali e tinha ficado estarrecido com a arrogância e o narcisismo do líder cubano. Na época de seu destacamento em Bratislava, em 1986, seu desapontamento havia se fortalecido.

Ele planejou sua deserção para 6 de junho de 1987. Foi uma ironia sutil. O dia 6 de junho era o aniversário da fundação do Ministério do Interior cubano – o órgão todo-poderoso que administrava os serviços de espionagem do país. Se você trabalhasse para o Diretório Geral de Inteligência, normalmente celebraria aquele dia. Haveria discursos, recepções, cerimônias em homenagem ao aparato de espionagem de Cuba. Aspillaga queria que sua traição doesse em Fidel.

Aspillaga encontrou-se com a namorada, Marta, num parque no centro de Bratislava. Era uma tarde de sábado. Ela também era cubana, uma entre os milhares que atuavam como trabalhadores visitantes em fábricas tchecas. Como acontecia com todos os cubanos na mesma situação, o passaporte dela era mantido nos escritórios do governo cubano em Praga. Aspillaga teria que “contrabandeá-la” pela fronteira. Ele tinha um Mazda fornecido pelo governo. Removeu o estepe do porta-malas, fez um furo no assoalho para que houvesse uma entrada de ar e pediu que ela ficasse lá dentro.

Naquela altura, a Europa Oriental ainda estava isolada do resto do continente. As viagens entre o Leste e o Oeste eram altamente restritas. Mas Bratislava ficava a uma pequena distância de carro de Viena, e Aspillaga já fizera a viagem antes. Ele era bem conhecido na fronteira e portava um passaporte diplomático. Os guardas permitiram sua passagem.

Em Viena, ele e Marta abandonaram o Mazda, pegaram um táxi e se apresentaram nos portões da embaixada dos Estados Unidos. Como era noite de sábado, os funcionários mais graduados estavam em casa. Mas Aspillaga não precisou se esforçar muito para chamar a atenção do guarda: “Sou um oficial do Serviço Secreto Cubano. Sou comandante da inteligência.”

No ramo da espionagem, a aparição de um membro do serviço de inteligência de um país na porta do serviço de inteligência de outro país é chamada de walk-in. E a aparição de Florentino “Tiny” Aspillaga em Viena foi um dos grandes walk-ins da Guerra Fria. O que ele sabia sobre Cuba – e sua aliada próxima, a União Soviética – era tão bombástico que, após sua deserção, por duas vezes seus ex-empregadores do serviço de espionagem cubano o rastrearam e tentaram assassiná-lo. Nas duas vezes, ele escapou. Aspillaga foi localizado apenas uma vez depois, por Brian Latell, que chefiou o escritório latino-americano da CIA por vários anos.

Latell recebeu a dica de um agente infiltrado que vinha agindo como intermediário de Aspillaga. Encontrou-se com o intermediário num restaurante em Coral Gables, nas proximidades de Miami. Ali recebeu instruções para encontrar Aspillaga em outro local, mais perto de onde ele estava morando sob uma nova identidade. Latell alugou uma suíte num hotel relativamente desconhecido e ficou esperando a chegada de Tiny.

“Ele é mais novo do que eu. Tenho 75 anos. Ele agora deve estar se aproximando dos 70”, disse Latell, recordando o encontro. “Mas tivera problemas de saúde terríveis. Sim, porque ser um desertor, viver com uma identidade nova, é dureza.”

Mesmo em seu estado decadente, porém, era óbvio o que Aspillaga devia ter sido quando jovem, segundo Latell: carismático, esguio, com certa teatralidade – um gosto por riscos e gestos grandiosos. Quando chegou à suíte do hotel, Aspillaga carregava uma caixa. Colocou-a na mesa e virou-se para Latell:

“Estas são as memórias que escrevi pouco depois de desertar”, explicou. “Quero que fiquem com você.”

Dentro da caixa, nas páginas das memórias de Aspillaga, havia uma história que não fazia sentido.

2.

Após sua surpreendente aparição na embaixada dos Estados Unidos em Viena, Aspillaga foi enviado de avião para um centro de interrogatório numa base do Exército americano na Alemanha. Naquela época, o serviço secreto americano funcionava na Seção de Interesses dos Estados Unidos em Havana, sob a bandeira suíça. (A delegação cubana tinha um esquema similar nos Estados Unidos.) Antes que seu interrogatório começasse, Aspillaga disse que tinha um pedido: queria que a CIA trouxesse um dos ex-chefes da unidade de Havana, um homem que o serviço secreto cubano conhecia como “el Alpinista”.

O Alpinista havia servido a agência no mundo inteiro. Após a queda do Muro de Berlim, arquivos recuperados da KGB e da polícia secreta alemã-oriental revelaram que as duas instituições haviam ministrado para seus agentes um curso sobre o Alpinista. Seus métodos de espionagem eram infalíveis. Certa vez, agentes secretos soviéticos tentaram recrutá-lo, literalmente colocando sacos de dinheiro diante dele. Ele recusou, zombou deles. O Alpinista era incorruptível. Falava espanhol feito um cubano. Era o ídolo de Aspillaga, que queria encontrá-lo pessoalmente.

“Eu estava em missão em outro país quando recebi uma mensagem para ir correndo até Frankfurt”, recorda o Alpinista. (Embora há muito aposentado da CIA, ele ainda prefere ser identificado só pelo codinome.) “Era em Frankfurt que ficava nosso centro de processamento de desertores. Alguém me contou que um sujeito havia entrado na embaixada em Viena. Saíra de carro da Tchecoslováquia com sua namorada no porta-malas do carro, entrara e insistia em falar comigo. Achei a história meio maluca.”

O Alpinista foi direto para o centro de interrogatório.

“Encontrei quatro oficiais do serviço secreto sentados na sala de estar”, relembra. “Disseram que Aspillaga estava no quarto com sua namorada, como vinha fazendo constantemente desde que chegara ao refúgio. Então entrei e falei com ele, que estava magricela, malvestido, como os europeus orientais e os cubanos tendiam a ser na época. Um pouco desleixado. Mas logo ficou evidente que era um sujeito bem esperto.”

Ao entrar, o Alpinista não contou a Aspillaga quem era. Estava tentando ser cauteloso. Aspillaga era uma incógnita. Mas foi uma questão de minutos até Aspillaga deduzir. Houve um momento de choque e risos. Os dois homens se abraçaram, ao estilo cubano.

“Conversamos cinco minutos antes de entrarmos em detalhes. Sempre que você está interrogando um desses sujeitos, precisa que prove suas credenciais”, disse o Alpinista. “Assim, basicamente perguntei o que ele poderia me contar sobre a operação [do serviço secreto cubano].”

Foi aí que Aspillaga revelou sua bomba, a notícia que o trouxera de trás da Cortina de Ferro para os portões da embaixada americana. A rede de espiões que a CIA dispunha dentro de Cuba, cujos relatórios para seus oficiais teoricamente ajudavam a moldar a compreensão dos Estados Unidos sobre seu adversário, estava repleta de traidores. Aspillaga mencionou um agente e revelou: “É um agente duplo. Trabalha para Cuba.”

As pessoas na sala ficaram perplexas. Não faziam ideia. Mas Aspillaga prosseguiu. Mencionou outro espião. “Ele é um agente duplo também.”

Depois outro e mais outro. Dispunha de nomes, detalhes, tudo. Aquele camarada que você recrutou no navio na Antuérpia. O carinha gorducho de bigode? Ele é um agente duplo. Aquele outro sujeito, que manca e trabalha no Ministério da Defesa? É um agente duplo. Continuou assim até ter listado dezenas de nomes – praticamente o rol inteiro de agentes secretos americanos em Cuba. Estavam todos trabalhando para Havana, alimentando a CIA com informações manipuladas pelos próprios cubanos.

“Fiquei ali sentado tomando notas”, relatou o Alpinista. “Tentei não demonstrar nenhuma emoção. É isso que nos ensinam. Mas meu coração estava acelerado.”

Aspillaga estava falando sobre o pessoal do Alpinista, os espiões com quem este trabalhara quando foi destacado para Cuba como um agente secreto jovem e ambicioso. Ao chegar pela primeira vez a Havana, o Alpinista fizera questão de atuar agressivamente com suas fontes, tentando extrair as informações.

“O fato é que, se você tem um agente que está no escritório do presidente de qualquer país mas não consegue se comunicar com ele, esse agente é inútil”, contou o Alpinista. “Minha ideia era: vamos nos comunicar e obter algo de valor, em vez de aguardar seis meses ou um ano até ele se estabelecer em outro lugar.”

Mas agora toda a atividade se mostrara um embuste.

“Devo admitir que eu sentia tanta aversão por Cuba que tinha grande prazer em enganá-los”, confessou ele, pesaroso. “Mas a verdade é que não era eu que estava enganando. Sofremos um golpe.”

O Alpinista embarcou num avião militar e voou com Aspillaga direto para a Base da Força Aérea Andrews, perto de Washington, onde foram recebidos pelos “figurões” da divisão latino-americana.

“Na seção cubana, a reação foi de surpresa e horror”, lembra ele. “Eles simplesmente não conseguiam acreditar que tinham sido gravemente tapeados por tantos anos.”

A coisa piorou. Quando Fidel Castro ficou sabendo que Aspillaga contara à CIA sobre a traição de seus agentes, decidiu passar sal na ferida. Primeiro reuniu todo o elenco de agentes impostores da CIA e desfilou-os por Cuba numa excursão triunfante. Depois exibiu na televisão cubana um documentário impressionante em 11 partes intitulado La guerra de la CIA contra Cuba.
O documentário revelou que o serviço secreto cubano havia filmado e registrado tudo que a CIA vinha fazendo em seu país por pelo menos 10 anos – como se estivesse criando um reality show. No limite: Edição Havana. O vídeo era de uma qualidade surpreendente. Havia closes e tomadas de ângulos cinematográficos. O áudio era cristalino: os cubanos deviam ter obtido informações antecipadas de cada local de encontro secreto e enviado seus técnicos ali para grampear o lugar e gravar o som.

Na tela, identificados pelos nomes, estavam agentes da CIA supostamente sob grande disfarce. Havia filmagem sobre cada engenhoca avançada da CIA: transmissores ocultos em cestas de piquenique e pastas. Havia explicações
detalhadas de quais bancos de parque os agentes da CIA usavam para se comunicar com suas fontes e a informação de que os agentes vestiam camisas de diferentes cores para enviar sinais secretos aos seus contatos. Um longo movimento de travelling mostrava um agente da CIA metendo dinheiro e instruções dentro de uma grande “rocha” de plástico. Outro captava um agente da CIA escondendo documentos secretos para seus agentes dentro de um carro batido num ferro-velho em Pinar del Río. Num terceiro, um agente da CIA procurava um pacote na grama alta à beira da estrada enquanto sua mulher esperava impaciente no carro.

O próprio Alpinista havia sido filmado e aparecido no documentário.

“O ângulo das imagens mostradas naquela série de TV”, disse o Alpinista, “dava a entender que alguém tinha ficado com uma câmera nos ombros seguindo os agentes aonde quer que eles fossem.”

Quando o chefe do escritório do FBI em Miami soube do documentário, ligou para uma autoridade cubana e solicitou uma cópia. Um conjunto de fitas de vídeo foi prontamente enviado, devidamente dubladas em inglês. O serviço de inteligência mais sofisticado do mundo havia sido feito de bobo.

3.

É isso que não faz sentido na história de Florentino Aspillaga. Uma coisa seria Cuba ter ludibriado um grupo de idosos que vivem reclusos, como fazem os golpistas. Mas os cubanos enganaram a CIA, uma organização que leva muito a sério o problema de interpretar estranhos.

Havia arquivos detalhados sobre cada um daqueles agentes duplos. O Alpinista diz que os checava minuciosamente. Não havia sinais de perigo óbvios. Como todo serviço de inteligência, a CIA tinha uma divisão – a contrainteligência – encarregada de monitorar as próprias operações em busca de sinais de traição. O que haviam achado? Nada.

Rememorando o episódio anos depois, tudo que Latell pôde fazer foi dar de ombros e dizer que os cubanos deviam ser realmente muito bons.

“Fizeram um serviço primoroso”, comentou ele.

Veja bem, Fidel Castro selecionou os agentes duplos que iria cooptar. Selecionou-os com verdadeiro brilhantismo. […] Alguns deles foram treinados em farsa teatral. Um deles posava de ingênuo, sabe. […] Era um agente secreto astuto e bem treinado. […] Ele é tão pateta… Como pode ser um agente duplo? Fidel orquestrou tudo aquilo. Quer dizer, Fidel é o maior ator de todos.

O Alpinista, por sua vez, afirmou que a espionagem da seção cubana da CIA era apenas descuidada. Ele havia trabalhado antes na Europa Oriental, enfrentando alemães orientais, e ali, segundo ele, a CIA havia sido bem mais meticulosa.

Mas qual foi o desempenho da CIA na Alemanha Oriental? Tão ruim quanto o desempenho da CIA em Cuba. Após a queda do Muro de Berlim, o chefe de espionagem alemão-oriental Markus Wolf escreveu em suas memórias que, no fim da década de 1980,

estávamos na posição invejável de saber que nenhum agente da CIA havia trabalhado na Alemanha Oriental sem ter se transformado em um agente duplo ou trabalhado para nós desde o princípio. Por ordens nossas, estavam todos fornecendo informações e desinformações cuidadosamente selecionadas aos americanos.

A supostamente meticulosa divisão da Europa Oriental sofreu uma das piores violações de toda a Guerra Fria. Descobriu-se que Aldrich Ames, um dos agentes mais graduados responsável pela contrainteligência soviética, estava trabalhando para a União Soviética. Sua traição levou à captura – e execução – de um sem-número de espiões americanos na Rússia. O Alpinista conhecia Ames. Todos nos altos escalões da agência o conheciam.

“Eu não tinha uma boa impressão dele”, contou o Alpinista, “porque sabia que era um bêbado preguiçoso”.

Mas ele e seus colegas jamais suspeitaram de que Ames fosse um traidor.

“Era impensável para os veteranos que um dos nossos pudesse vir a ser seduzido pelo outro lado, como aconteceu com Ames”, disse ele. “Ficamos todos de queixo caído ao saber que um dos nossos agentes havia nos traído daquela maneira.”

O Alpinista foi uma das pessoas mais talentosas em uma das instituições mais sofisticadas do mundo. No entanto, três vezes foi testemunha de traições humilhantes: primeiro por Fidel Castro, depois pelos alemães orientais e, por fim, na própria sede da CIA por um “bêbado preguiçoso”. E se os melhores agentes da CIA conseguem ser enganados tão completamente, tantas vezes, imagine o resto de nós.

Eis o Primeiro Enigma: por que não conseguimos saber se o estranho à nossa frente está mentindo descaradamente?

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Malcolm Gladwell

Sobre o autor

Malcolm Gladwell

Malcolm Gladwell é colunista da revista The New Yorker desde 1996. Escreveu também O ponto da virada, Blink – A decisão num piscar de olhos, Fora de série – Outliers, Davi e Golias e O que se passa na cabeça dos cachorros, todos best-sellers do The New York Times e publicados pela Editora Sextante. Trabalhou no jornal The Washington Post, cobrindo negócios e ciência. Foi nomeado uma das 100 pessoas mais influentes pela revista Time e um dos Maiores Pensadores Globais pela Foreign Policy. Gladwell nasceu na Inglaterra, cresceu no interior do Canadá e hoje mora em Nova York.

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