Novembro de 2000. Nove tiros. Um dos mais contundentes e brilhantes músicos da geração 90, Marcelo Yuka, na época compositor e baterista da banda O Rappa, viu a vida se transformar ao ser alvejado por bandidos. Até então, sua trajetória seguia o caminho do melhor dos sonhos e, como ele mesmo diz, “sonho de ninguém comporta a realidade de ter virado um aleijado”.
Naquela hora, teve a certeza de que não morreria, mas seria preciso renascer.
Perdeu a força para a bateria, perdeu a mobilidade para viajar com o grupo, mas, o pior de tudo: foi demitido da banda que ele próprio ajudara a criar.
Amigo de bandido, de político, de policial, Marcelo Yuka se reinventou como artista e como pessoa. Sua preocupação social o manteve em cena. No processo de recuperação, convive até hoje com dores lancinantes e tem dificuldade para executar tarefas simples. Porém decidiu experimentar novas possibilidades: na música, nas artes e até na política.
Neste livro, Yuka faz um relato de alma, mantendo um compromisso raro com a verdade de suas angústias e alegrias.
Apesar das dores dos anos, Yuka manteve uma sensação de juventude pulsante que o fez seguir criando. E mesmo que sua história possa indicar o contrário, ele não abandonou a crença de que o melhor ainda está por vir.
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“Se tem uma coisa que Marcelo Yuka sabe fazer bem é contar uma história.
Nunca um relato biográfico foi feito tão de peito aberto. Nada aqui neste escrito está fora do tom. As metáforas de tão exatas são como se não existissem numa leitura menos atenta. O texto é um romance.
Yuka começa sua narrativa pela infância em Campo Grande, zona leste do Rio de Janeiro, passa pelas maldades das crianças que brincavam nas ruas, pela rejeição do pessoal da escola e dos acadêmicos de toda sorte, até o primeiro contato com um instrumento musical e o sucesso de suas canções que embalaram a década de 1990 e estão aí até hoje. Uma vida de certa forma embaralhada com todos aqueles que viveram as letras de suas músicas.
Ele fala de quando criou O Rappa, da levada da batera, das relações familiares, do perfil de cada namorada, do seu grande amor, dos amigos, dos traíras, de quando o bicho pegou pra cima dele com os nove tiros que levou sem saber por que, da saída da banda depois de ir parar na cadeira de rodas e, sobretudo, de música.
Faz uma análise social dos últimos 40 anos, tendo como ponto de partida a sua vivência.
São lembranças de ruas, de quintais floridos, dos velhos conversando na esquina, das brincadeiras, da polícia de geração em geração. As mudanças no poder em uma cidade onde tudo iria aumentar, inclusive a violência, trouxeram consigo pelo menos uma coisa boa: o clamor por justiça social em quase todos os segmentos da sociedade. Yuka sempre quis mudar o Brasil.”
Paulo Lins