“Como pesquisador da inteligência, não me curvaria diante de nenhuma autoridade política nem de nenhuma celebridade, mas me curvaria diante de todos os professores e alunos do mundo. São eles que podem mudar o teatro social. São atores insubstituíveis. Dedico humildemente O código da inteligência a cada um deles…”
Augusto Cury
Prefácio
O código da inteligência é um livro que descreve de maneira instigante e simplificada o complexo processo de formação de pensadores.
Que códigos foram decifrados e fizeram algumas pessoas saírem do rol das comuns e as levaram a expandir o mundo da matemática, da física, da filosofia, da espiritualidade, da política e das relações sociais? Que códigos foram decifrados e ajudaram profissionais a se destacar no teatro empresarial? Que códigos foram desenvolvidos e tornaram seres humanos criativos, solidários, generosos, cativantes e saturados de prazer?
Alguns estudantes decifram determinados códigos da inteligência que os transformam em empreendedores, debatedores de ideias e construtores de conhecimento. Outros, embora tirem excelentes notas na escola, não os decifram e tornam-se meros repetidores de ideias.
Decifrar esses códigos é fundamental para conquistarmos saúde psíquica, relações pessoais saudáveis, criatividade, eficiência profissional e prazer de viver. Infelizmente, as escolas e as universidades não levam seus alunos a desvendá-los e colocá-los em prática.
Neste livro, Augusto Cury – psiquiatra, pesquisador de psicologia e autor de uma importante teoria sobre o funcionamento da mente – desvenda os códigos da inteligência sob os enfoques psicológico, filosófico, psicopedagógico e sociológico.
O autor indaga “Em que espaço se ensina a decifrar o código do filtro dos estímulos estressantes? Onde se educa a capacidade do eu como gestor psíquico? Em que instituição se aprende o código da resiliência para superar adversidades? E os códigos do altruísmo e da intuição criativa, onde são decifrados?”. E ainda afirma: “Somos uma sociedade doente que tem formado pessoas doentes.”
Augusto Cury também discorre sobre as quatro armadilhas da mente humana que bloqueiam a inteligência, asfixiam a emoção e abortam a execução dos projetos de vida. Além disso, aborda os hábitos dos bons profissionais e os compara com os hábitos dos profissionais excelentes que sabem decifrar os códigos da inteligência.
Ao longo do texto, são destacados vários pensamentos garimpados de alguns dos livros do autor. Esperamos que você decifre e aplique os códigos da inteligência em todos os espaços sociais da sua vida. Boa leitura.
Os editores
Introdução
Treinando o intelecto para
decifrar os códigos da inteligência
Tito, o general romano encarregado de construir o Coliseu, sentia orgulho porque seu exército era o único que se preparava para a guerra em tempos de paz e treinava seus soldados durante o ano inteiro. Era o mais eficiente. Com ele, Tito devastou Jerusalém no ano de 70 d.C., causando atrocidades inimagináveis, levando dezenas de milhares de cativos a Roma. Em meio às lágrimas e ao sangue dos prisioneiros, o grande general construiu monumentos que até hoje estão de pé.
O treinamento antes exigido pelos exércitos e por algumas poucas áreas da sociedade hoje permeia todos os setores. Estamos na era do treinamento. Treina-se para praticar esportes, andar, dançar, calcular, escrever, contar histórias, encenar uma peça. Treina-se para dirigir veículos, pilotar aviões, operar máquinas. Treina-se para falar em público, usar computadores, elaborar programas, administrar empresas, executar projetos. Treina-se para tomar vinho, apreciar uma obra de arte, observar a qualidade dos produtos.
Tudo parecia perfeito na era do treinamento, mas, ao olhar para as mazelas psíquicas e sociais do mundo moderno, constatamos que cometemos um erro gravíssimo. Esquecemos de realizar o mais importante treinamento: decifrar e aplicar os códigos da inteligência. Sem eles não podemos desenvolver nosso imaginário, nossa capacidade de superação e nossas potencialidades intelectuais.
Memória superutilizada e códigos da inteligência subutilizados
Deveríamos decifrar esses códigos com a mesma energia com que o garimpeiro penetra nas rochas à procura do ouro, com o mesmo afinco que o cirurgião corta a pele para desnudar tecidos ocultos, com a mesma garra com que o sedento procura água para saciar sua sede nos tépidos desertos.
O senso comum acredita que a memória é subutilizada. Uns creem que usam apenas 10% dela, outros, 20%, e ainda outros acreditam usar um pouco mais da memória. Mas esse pensamento popular é ingênuo, simplista e, portanto, precisa ser corrigido. A memória é seletiva. Além disso, abre e fecha dependendo da emoção que vivenciamos em determinado momento.
As emoções tensas, fóbicas e apreensivas fecham as janelas da memória; as emoções prazerosas, desafiadoras e serenas as abrem. Apesar de as emoções serenas abrirem as janelas, a memória ainda assim é seletiva, pois não expõe todos os seus arquivos.
Já pensou se não fosse assim? Qualquer palavra, como “carro”, “avião”, “amigo”, “inimigo” ou “medo”, nos levaria a acessar milhões de dados que temos arquivados relativos a ela, saturando nosso intelecto. Nosso córtex cerebral não suportaria tantas informações. Notem que quando temos preocupações fixas, pensando obsessivamente em determinado assunto, ficamos desgastados, acordamos fatigados, sem energia.
A seletividade da memória objetiva protege nossa mente contra o congestionamento de pensamentos, imagens mentais e ideias. Apesar disso, se observarmos nossa mente, perceberemos que utilizamos a memória em excesso, por isso pensamos demais e nos desgastamos em demasia, gerando a síndrome do pensamento acelerado (SPA) (Cury, 2004).
Emoções flutuantes, pensamentos antecipatórios e muitos compromissos fazem parte do cardápio de um ser hiperpensante. Se as pessoas usassem a memória de forma mais racional, desgastariam menos seu cérebro, acordariam mais bem-dispostas, elogiariam mais o dia que desabrocha e criariam mais oportunidades para conquistar quem amam, a fim de ter gestos únicos, reações inesperadas, atitudes deslumbrantes.
A memória, que já é seletiva, pode ser ainda mais bloqueada pelo estresse intenso, o qual, por sua vez, bloqueia o código da intuição criativa, fazendo o Homo bios, o instinto, prevalecer sobre o Homo sapiens, a capacidade de pensar.
O estresse pode fechar as janelas da memória durante provas de concursos, entrevistas de emprego, apresentações públicas, situações novas ou desafios empresariais, gerando péssimos desempenhos intelectuais em pessoas brilhantes.
Excetuando mecanismos como esses, que nos fazem subutilizar a memória, o que está subutilizado em todo e qualquer ser humano são os códigos da inteligência. Ricos e miseráveis, psiquiatras e pacientes, líderes e liderados têm um potencial psíquico global reduzido por não decifrar plenamente os códigos da inteligência.
A complexa definição da inteligência: três camadas psíquicas
Antes de começar a comentar sobre os códigos da inteligência precisamos definir o que é inteligência. Ao longo de mais de vinte anos desenvolvi uma das poucas teorias sobre o funcionamento da mente, a construção de pensamentos e o processo de formação de pensadores, chamada de Inteligência Multifocal ou Psicologia Multifocal.
A Psicologia Multifocal não é uma teoria neurocientífica, e sim psicológica, e que entra nos campos da pedagogia, da sociologia e da filosofia. A inteligência para essa teoria tem definição complexa e difere de outras ideias em diversos aspectos, pois penetra em áreas que outros autores não tiveram oportunidade de estudar, como os fenômenos que atuam na construção das cadeias de pensamentos, imagens mentais e ideias.
A Psicologia Multifocal tem sido usada por inúmeros profissionais de saúde mental e em pesquisas, dissertações de mestrado, teses de doutorado e cursos de pós-graduação. Apesar da difusão dessas ideias, quero deixar claro que nenhuma teoria é verdadeira em si: trata-se de um corpo de postulados, hipóteses, conceitos e argumentos do qual se deriva o conhecimento.