INTRODUÇÃO
A história deste livro
Alguns anos atrás, para escrever um artigo para uma revista, comecei a visitar incubadoras de talentos – pequenos lugares de onde saem muitos profissionais excelentes em áreas como esporte, arte, música, negócios, matemática, entre outras –, tais como:
Um clube de tênis decadente em Moscou que, nos últimos três anos, produziu mais jogadoras importantes do que todos os Estados Unidos.
Um curso de verão onde os alunos aprendiam, em sete semanas, o conteúdo de teoria musical que normalmente assimilariam em um ano.
Uma escola de um bairro pobre de San Mateo, na Califórnia, que, em quatro anos, transformou péssimos alunos de matemática nos melhores do estado.
Uma escola de canto em Dallas que, na última década, produziu inúmeros talentos milionários da música pop.
Uma academia de esqui em Vermont, com capacidade para 100 alunos por temporada, que produziu 50 esquiadores olímpicos nos últimos 40 anos.
Minha busca também me levou a laboratórios e centros de pesquisas que investigam a nova ciência do desenvolvimento de talentos. Por séculos, presumimos que o talento é algo inato, que nasce com a pessoa. Hoje, porém, graças ao trabalho de um grande grupo de cientistas, entre eles o Dr. K. Anders Ericsson, o Dr. Douglas Fields e o Dr. Robert Bjork, as antigas premissas estão sendo derrubadas e substituídas por esta: o talento é determinado mais por nossas ações do que por nossos genes – mais especificamente, pela combinação de prática intensiva e motivação que propicia o desenvolvimento cerebral. Meu projeto transformou-se no livro O código do talento, no qual explico que o sucesso das incubadoras de talentos está em se alinharem com os mecanismos naturais do cérebro que permitem o desenvolvimento das habilidades.
Ao longo da jornada, porém, deparei com uma situação imprevista. Além de jornalista, sou pai de quatro filhos, técnico de beisebol nas horas vagas e marido de uma jogadora de hóquei. Dentro de casa, lutamos diariamente com as questões e ansiedades comuns que giram em torno do processo de adquirir e desenvolver habilidades. Como ajudar o filho a aprender a tabuada? Como diferenciar um talento genuíno de um interesse momentâneo? Qual é a melhor forma de motivar? Como incentivar o desenvolvimento sem nos tornarmos pais obsessivos, criando filhos estressados e infelizes? Constatei posteriormente que conhecer aqueles lugares extraordinários me ajudou não só em minha carreira de jornalista, mas também a ser um pai melhor e um treinador melhor.
Tudo começou quando fui visitar minha primeira incubadora de talentos, o clube de tênis Spartak, em Moscou. Assim que cheguei, vi um monte de jogadores treinando com a raquete de forma lenta, sem a bola, seguindo as instruções do professor, que realizava pequenas correções na postura dos alunos. Notei que os treinadores formavam grupos com pessoas de diferentes faixas etárias e também o olhar fascinado dos jovens jogadores, que fitavam as jogadas perfeitas dos veteranos, tentando assimilá-las. Um pensamento começou a ganhar força na minha mente.
Eu poderia usar isso lá em casa.
Daquele momento em diante, sempre que me deparava com algum conselho importante ou um método interessante, anotava-o em um caderno. Escrevi dicas como: Exagere nos movimentos novos; diminua o espaço de prática; e, a minha preferida, tire cochilos. Um ano depois, meu caderno ficou todo preenchido.
A ideia acabou dando certo − e muito, a julgar pelo progresso dos meus filhos nas aulas de piano e violino, pelo desenvolvimento da minha mulher no hóquei e pelo recorde de vitórias do nosso time de beisebol. Após a publicação de O código do talento, fiquei sabendo de grupos que utilizavam os princípios do livro para criar programas de desenvolvimento de talentos, entre eles um de enfermagem de Minnesota, um curso pré-vestibular da Califórnia, uma empresa de softwares, organizações de treinamento militar e várias equipes profissionais de esportes. Continuei viajando, visitando mais professores e acrescentando mais ensinamentos ao caderno. Em determinado momento, cheguei à conclusão de que precisava organizar todas aquelas anotações.
Este livro foi escrito com esse objetivo.
Apresento aqui um conjunto de dicas simples e práticas para desenvolver habilidades, obtidas nas incubadoras de talentos que visitei e com os cientistas que as estudavam. Os conselhos foram testados, possuem base científica e, o mais importante, são concisos. Porque todo mundo − seja você pai, professor, treinador, artista ou empresário − quer aproveitar ao máximo o tempo e a energia de que dispõe.
Como usar este livro
Todos temos talentos, mas não sabemos como desenvolvê-los ao máximo.
Como reconhecer talentos em nós mesmos e nas pessoas à nossa volta? Como desenvolver um talento incipiente? Como progredir no menor intervalo de tempo possível? Como escolher uma estratégia, um mentor, um método?
As respostas a essas perguntas poderão ser encontradas nas dicas e técnicas comprovadamente eficazes que aprendi com as incubadoras de talentos. Elas podem ser classificadas em três categorias, que formam as seções deste livro:
1) Primeiros passos: ideias para conseguir motivação e criar um plano para aprimorar seus talentos.
2) Desenvolvimento das habilidades: métodos e técnicas para alcançar o máximo de aproveitamento no menor tempo possível.
3) Progresso contínuo: estratégias para superar a estagnação, manter a motivação e desenvolver hábitos que façam o sucesso durar.
As dicas são propositadamente simples e diretas. Embora a neurociência por trás desses assuntos seja fascinante e complexa, ela parte do princípio básico de que pequenas ações, repetidas ao longo do tempo, nos transformam. Nas palavras da professora de canto Linda Septien: “Não estamos falando de mágica nem de algo do outro mundo. Tudo se resume a trabalhar duro, e de maneira inteligente.”
Qualquer que seja o talento que você queira desenvolver − para se destacar em um esporte, aprender um idioma ou tocar um instrumento −, esteja certo de uma coisa: você nasceu com todas as ferramentas necessárias para transformar a falta de jeito de iniciante em fluência e eficiência. Essas ferramentas não são determinadas por genes, mas por você mesmo, que, por meio da prática constante e adequada ao seu estilo de vida, poderá alcançar a excelência.