Introdução
Em maio de 2001, o então presidente do Valor Econômico, Flávio Pestana, me convidou para escrever uma coluna quinzenal sobre marketing.
Meus primeiros artigos falavam de tendências da comunicação, mudanças de hábitos de consumo e estratégias de lançamento de produtos. Para cada texto, recebi em média sete ou oito e-mails de leitores.
Mas tudo mudou radicalmente quando, em agosto do mesmo ano, publiquei o primeiro artigo intitulado “Oportunidades disfarçadas”. Ainda de forma incipiente, o texto relatava como as marcas Fanta, Nescafé, Bombril, Dixie e Swatch triunfaram na adversidade.
Para minha surpresa, recebi 183 e-mails. Isso mesmo: quase duas centenas de leitores mandaram comentários e elogios ou solicitaram o envio do artigo.
Eram executivos, pequenos e médios empresários, estudantes de administração, profissionais liberais, gente de todo tipo interagindo e dando depoimentos emocionantes. Houve até o caso de uma pequena empresária que me escreveu dizendo que não iria mais fechar sua empresa, porque o artigo a fizera mudar de idéia.
Incentivado pela repercussão, publiquei um segundo artigo, com os casos da Avon, Gillette, Levi’s, Apple, Walkman e Lacoste. O retorno foi ainda mais impressionante: 240 pessoas me enviaram e-mails. Um volume muito expressivo, principalmente se você considerar que o Valor é um jornal voltado para o público empresarial (para efeito de comparação, a revista Veja recebe em média 180 e-mails comentando a matéria principal da semana).
Continuei a levantar novos casos e a publicar os textos. Ao todo, foram 18 artigos da série, pelos quais recebi nada menos que 1.523 e-mails. Tamanha receptividade me motivou a escrever este livro.
Mergulhei então numa trabalhosa, solitária e obsessiva viagem, que me consumiu sete anos de pesquisa.
O resultado está nas suas mãos: um livro rico e enxuto, denso mas agradável e, em especial, muito inspirador. Um verdadeiro catálogo de saídas criativas para as mais diferentes dificuldades vividas por empresas de diversas épocas e tamanhos.
Tentando identificar a razão de tanto interesse por casos desse tipo, cheguei à seguinte conclusão: os empresários e executivos estão desorientados, angustiados e exaustos com as metas agressivas, a concorrência feroz, as crises freqüentes e o mercado cada vez mais hostil. Sentem-se tão pressionados e desamparados que, muitas vezes, duvidam que possa existir uma luz no fim do túnel. Em momentos assim, descobrir que outras pessoas viveram problemas semelhantes e saíram vitoriosas serve de estímulo. Saber que empresas hoje consagradas já foram pequenas, frágeis e problemáticas ajuda a compreender que todos passam por dificuldades. Por fim, concluir que o sofrimento pode ser um aliado no caminho para o sucesso é altamente revelador.
O primeiro beneficiado por este livro fui eu mesmo. Nos últimos anos, o mundo da comunicação passou por sérias transformações. No comando de minha agência, enfrentei todo tipo de adversidade: excesso de concorrência, práticas desleais, achatamento das taxas de remuneração e das verbas de marketing, surgimento de novas mídias e assim por diante. Tanta turbulência me fazia às vezes ser tomado por pessimismo e insegurança com relação ao futuro de meu negócio. Ao tomar conhecimento dos casos que pesquisava, me sentia mais confiante e capaz. Compreendia que não estava sozinho. Pelo contrário: estava acompanhado pelos maiores executivos de todos os tempos. Foram eles que me deram força para seguir em frente. Acredito que o mesmo possa acontecer com você.
Por fim, posso dizer que este livro também é um exemplo de oportunidade disfarçada: havia um problema – encontrar assunto para rechear artigos num jornal – e minha saída não apenas gerou conteúdo para diversos artigos, como acabou dando origem a um livro inteiro. Boa leitura.