Ao leitor
O sigilo entre psiquiatra e paciente é um princípio fundamental e tradicional da ética médica. Os pacientes mencionados neste livro autorizaram-me a escrever a história real de ambos. Somente os nomes e outros detalhes que poderiam identificá-los foram mudados, de modo a proteger-lhes a privacidade. As histórias que eles narram são verdadeiras e não foram alteradas.
prefácio
“A alma do homem é como a água;
vem do Céu
e sobe para o Céu,
para depois voltar à Terra,
em eterno ir e vir.”
– Goethe
Pouco antes do meu primeiro livro, Muitas vidas, muitos mestres, começar a ser divulgado, fui até a livraria local para saber se o dono o havia encomendado à editora. Ele consultou o computador.
– Pedimos quatro exemplares – disse ele. – Deseja reservar um?
Eu não podia saber se as vendas do livro alcançariam o total da modesta tiragem programada pelo editor. Afinal, era estranho que um livro como aquele fosse escrito por um respeitado psiquiatra. O livro narra a história real de uma jovem paciente cuja terapia de vidas passadas havia trazido mudanças radicais à sua vida – e à minha. Eu sabia, porém, que os meus amigos, conhecidos e parentes comprariam mais de quatro exemplares, ainda que o livro não tivesse saída nenhuma no resto do país.
– Por favor – disse eu ao livreiro. – Os meus amigos, alguns dos meus pacientes e outras pessoas que conheço virão aqui à procura desse livro. Não pode encomendar mais?
Foi preciso que eu lhe desse a minha garantia pessoal para os 100 exemplares que ele acabou encomendando.
Para minha completa surpresa, o livro veio a ser um sucesso internacional, com mais de 2 milhões de exemplares vendidos, e foi traduzido para mais de 20 idiomas. Minha vida dava mais uma guinada fora do comum.
Depois de me formar com distinção pela Universidade de Columbia e de terminar o meu curso na Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, fui também residente nos hospitais-escola da Universidade de Nova York e psiquiatra residente em Yale. Depois, fui professor do corpo médico docente da Universidade de Pittsburgh e da Universidade de Miami.
Nos 11 anos seguintes, dirigi o Departamento de Psiquiatria do Hospital Mount Sinai, de Miami. A essa altura, eu havia escrito muitos estudos científicos, publicado artigos e estava no auge de minha carreira acadêmica.
Foi então que Catherine, a jovem paciente que descrevi em meu primeiro livro, entrou em meu consultório. Suas detalhadas lembranças de vidas passadas, nas quais inicialmente não acreditei, e sua capacidade de transmitir mensagens transcendentais quando em transe hipnótico provocaram verdadeira revolução em minha vida. Não era mais possível que eu encarasse o mundo como antes.
Depois de Catherine, muitos outros pacientes me procuraram para fazer terapia de regressão. Pessoas com sintomas resistentes aos tratamentos médicos e psicoterápicos tradicionais estavam sendo curadas.
Meu segundo livro, A cura através da terapia de vidas passadas, descreve o que aprendi acerca do potencial de cura da terapia de regressão a vidas passadas. O livro está repleto de histórias verdadeiras de pacientes reais.
A história mais intrigante de todas está neste meu terceiro livro, Só o amor é real. O livro trata de duas almas gêmeas, pessoas eternamente ligadas pelo amor, que voltam a se unir, repetidamente, vida após vida. Alguns dos momentos mais comoventes e importantes de nossa existência são aqueles em que descobrimos e reconhecemos nossas almas gêmeas e tomamos as decisões que nos transformam a vida.
O destino determina o encontro de almas gêmeas. Sem dúvida, estamos fadados a encontrá-las. Mas o que decidimos fazer depois desse encontro depende de opção ou de livre-arbítrio. Uma opção errada ou uma oportunidade perdida pode resultar em incrível solidão e sofrimento. Escolhas certas e oportunidades aproveitadas podem trazer profunda satisfação e felicidade.
Elizabeth, uma bela mulher do Centro-Oeste, começou a fazer terapia comigo em virtude da profunda dor e da ansiedade em que mergulhara depois da morte da mãe. Vinha também tendo problemas em seus relacionamentos com homens, escolhendo indivíduos fracassados, violentos e outros péssimos companheiros. Jamais sentira verdadeiro amor em qualquer relação com o sexo masculino.
Iniciamos com resultados surpreendentes a nossa jornada de volta a tempos remotos.
Ao mesmo tempo que Elizabeth estava fazendo a terapia de vidas passadas, eu estava tratando de Pedro, um simpático mexicano que também sofria de angústia. O irmão de Pedro morrera num trágico acidente. Além disso, problemas com a mãe e segredos de sua infância pareciam conspirar contra ele.
Pedro sentia-se sob o peso do desespero e da dúvida, sem ter com quem falar sobre seus problemas.
Tal como Elizabeth, Pedro pôs-se a pesquisar suas vidas passadas em busca de soluções e de cura.
Embora Elizabeth e Pedro estivessem fazendo terapia comigo na mesma época, nunca haviam se encontrado, pois tinham consultas em dias diferentes.
Nos últimos 15 anos, venho tratando de casais e famílias que identificaram seus atuais companheiros e entes queridos em vidas passadas. Às vezes faço regressão com casais que, simultaneamente e pela primeira vez, se veem interagindo em uma mesma existência anterior. Essas revelações costumam ser chocantes para o casal. Jamais haviam vivenciado qualquer coisa parecida. Permanecem em silêncio enquanto as cenas se desenrolam em meu consultório de psiquiatria. Só depois que saem do estado hipnótico e relaxado é que descobrem que estavam vendo as mesmas cenas, sentindo as mesmas emoções. E é só então que eu também me dou conta de suas ligações em uma vida passada.
Com Elizabeth e Pedro, porém, tudo foi invertido. As vidas, as existências dos dois vinham se desenrolando de uma forma independente e separada em meu consultório. Eles não se conheciam. Nunca haviam se encontrado. Pertenciam a culturas e países diferentes. Eu próprio, vendo-os separadamente e sem ter qualquer motivo para suspeitar de uma ligação entre os dois, não fui capaz de fazer a conexão de imediato. No entanto, eles pareciam estar descrevendo as mesmas vidas passadas com espantosa semelhança de detalhes e emoções. Teriam se amado e perdido um ao outro no decorrer de existências anteriores? No começo, nenhum de nós tinha a menor ideia do drama emocionante que começara a se revelar na serenidade do meu consultório.
Fui o primeiro a descobrir a conexão entre os dois. Mas o que fazer em seguida? Devia contar-lhes a verdade? E se eu estivesse errado? O que dizer do sigilo entre médico e paciente? E de suas relações atuais? Podia interferir no destino? E se uma ligação na vida presente não estivesse em seus planos ou não lhes fosse benéfica? Ter mais uma relação fracassada talvez minasse o progresso terapêutico que eles haviam feito, bem como a confiança que tinham em mim. Um princípio que ficara claro para mim durante o curso de medicina e na subsequente experiência como psiquiatra residente era evitar atitudes que pudessem prejudicar o paciente. Em caso de dúvida, nunca fazer algo que possa causar o mal. Tanto Elizabeth quanto Pedro vinham melhorando. Talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam.
Pedro estava terminando o seu tratamento psicoterápico e em breve deixaria os Estados Unidos. Era urgente que eu tomasse uma decisão.
Nem todas as sessões que realizei com eles estão incluídas neste livro, uma vez que algumas delas nada tinham a ver com as histórias dos dois. Algumas foram completamente dedicadas à psicoterapia tradicional e não incluíam hipnose nem regressão.
O texto que se segue foi escrito a partir de meus registros médicos, transcrições de fitas e memória. Somente os nomes e pequenos detalhes foram alterados para garantir o sigilo. Trata-se de uma história de destino e esperança. Uma história que ocorre silenciosamente todos os dias.
Acontece que, naquele dia, alguém estava escutando.