Prefácio
Dale Carnegie fez mais no campo das relações humanas e do desenvolvimento pessoal do que qualquer outra pessoa. Seu programa mundialmente famoso, o Dale Carnegie Training, já ajudou milhões de pessoas. Olhando para o próprio passado, Carnegie percebeu que, quando jovem, a preocupação e o medo eram as duas forças que o impediam de alcançar o sucesso pessoal. Ao vencer essas duas emoções negativas, ele passou a ter uma nova perspectiva de vida e uma nova visão do sucesso. A partir de então, abraçou como missão de vida ajudar os outros a vencer as preocupações e os medos para que também pudessem realizar seus sonhos.
Agora, com este livro, você também pode se beneficiar das nove décadas de ideias perspicazes sobre relações humanas que milhões de pessoas já descobriram no Dale Carnegie Training. Em As 5 habilidades essenciais dos relacionamentos, você aprenderá a focar nos fatores que levarão você e sua empresa a evoluírem. Conhecerá e dominará essas práticas comprovadas que o ajudarão a se sentir empoderado, respeitado e à vontade em qualquer interação pessoal ou profissional. Essas técnicas irão torná-lo mais confiante e capaz de se comunicar com autoestima, poder e clareza.
O principal objetivo deste livro é apresentar e explicar as cinco habilidades essenciais para as relações interpessoais: o desenvolvimento da afinidade, a curiosidade, a comunicação, a ambição e a resolução de conflitos. Mas isso é só o começo. Você verá que vários capítulos ampliam e aprofundam essas habilidades em novas e empolgantes direções. Portanto, conforme avançar na leitura, seja flexível e proativo ao aplicar as informações que aprender, começando agora mesmo!
Se você quer se beneficiar ao máximo deste livro, não deixe para depois. Sugerimos que dedique pelo menos cinco minutos para começar a ler agora mesmo. Faça os exercícios da seção “Em ação” ao fim de cada capítulo. Esses exercícios são passos práticos que você pode dar imediatamente, tanto no seu trabalho quanto junto a sua família e seus amigos.
Sempre que possível, estabeleça um prazo-limite para si mesmo e procure cumpri-lo. Se você não puser em prática as ações que definiu para si mesmo, este livro será apenas mais uma leitura. E, embora a leitura também seja eficaz, você só irá obter todos os benefícios deste valioso livro se fizer os exercícios da seção “Em ação”. Promova essa mudança transformadora na sua vida e passe a agir de acordo com suas ideias e estratégias, e você alcançará resultados com os quais nunca havia sequer sonhado.
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Uma introdução à assertividade
Ganhe forças com o positivo
e não se deixe abater pelo negativo.
– Dale Carnegie
Quase noventa anos atrás, Dale Carnegie publicou um livro que até hoje é uma das obras mais influentes dos últimos cem anos e provavelmente continuará sendo pelos próximos cem. O livro se chama Como fazer amigos e influenciar pessoas. O título não podia ser mais claro, não é? As ideias contidas nele continuam sendo tão claras e válidas quanto eram em 1936, ano da edição original. Embora Como fazer amigos e influenciar pessoas seja um documento extraordinário na história do desenvolvimento pessoal, já na época da publicação o livro foi revolucionário. Antes não existia o conceito de habilidades interpessoais, mas hoje em dia sabemos que, no que diz respeito às interações humanas, certas abordagens são melhores que outras.
O livro de Dale Carnegie apresentou princípios atemporais das relações humanas, essenciais ainda hoje. E é fato que, na atualidade, a influência desses princípios é maior que nunca. Com o avanço da tecnologia e a velocidade dos negócios, as pessoas que dominam as habilidades interpessoais não só se destacam no mercado de trabalho como também têm mais sucesso. Computadores e celulares têm feito uma grande diferença na nossa vida, mas a importância das habilidades interpessoais não diminuiu e nunca diminuirá.
No entanto, é impossível discutir um tema como habilidades interpessoais (sobretudo num ambiente empresarial) sem tratar de internet, celulares e e-mails. Esses recursos estão por toda parte. Aonde quer que você vá, eles vão junto. As novas tecnologias certamente aceleraram a maneira de fazer as coisas no trabalho, mas ao mesmo tempo aumentaram a expectativa da velocidade em que precisamos concluir as tarefas. Agora as pessoas não falam que precisam de algo para amanhã. Elas precisam para “ontem”. É estranho, mas é verdade, e de certo modo é um paradoxo. De muitas formas, o trabalho se tornou mais fácil e mais rápido, mas ao mesmo tempo as tensões relacionadas a ele nunca estiveram tão elevadas. O estresse nos acompanha a todo lugar e a todo momento, e todos nós sabemos que quando a situação está tensa, a chance de atrito entre as pessoas cresce proporcionalmente.
Essa é a realidade em que estamos vivendo. Não há como escapar dela. É nesse ambiente que nós precisamos aprender a prosperar. E quando digo “nós” estou falando de você, não importa quem seja e qual carreira esteja trilhando. Não importa em qual área da economia atuemos, porque as mesmas forças se aplicam em qualquer lugar. Portanto, é melhor entrar logo em ação. Nesse ponto, Dale Carnegie foi preciso: “Qualquer que seja seu ramo de atuação, mesmo que tenha uma profissão técnica, seu nível de sucesso dependerá de sua habilidade de interagir de forma eficaz com outras pessoas.” Apesar de as profissões técnicas terem hoje muito poder na economia em geral, as palavras de Carnegie permanecem verdadeiras.
EXPLORAÇÃO E SELEÇÃO
Nos próximos capítulos vamos lançar um olhar atento para o que está envolvido nas interações assertivas. Nossa exploração será bem seletiva. Neste livro, tentamos tratar de assuntos específicos com um foco restrito. O objetivo não é falar tudo o que há para se falar sobre o assunto, mas falar muito sobre um pequeno número de temas. Já existem ótimos livros no mercado sobre temas convencionais, tais como uma escuta eficaz, ou como fazer uma boa apresentação de vendas. Então por que tratar de temas já explorados a fundo? Em vez disso, vamos olhar para novas áreas, mais especificamente cinco delas: o desenvolvimento da afinidade, a curiosidade, a comunicação, a ambição e a resolução de conflitos, além de tópicos que sejam extensões naturais desses cinco temas.
No entanto, existe um aspecto das habilidades interpessoais que sempre merece muita atenção, porque é a base de todo e qualquer tipo de interação humana.
Estamos falando da assertividade: a capacidade de falar e agir de um modo que naturalmente faça as pessoas reagirem de forma atenta e positiva. Esse é o elemento básico de cada uma das cinco habilidades essenciais das relações interpessoais. Se você não está preparado para ser assertivo de maneira positiva e proativa, nada vai funcionar. Portanto, vamos começar olhando para o verdadeiro significado da assertividade no ambiente de trabalho atual – onde, para receber atenção, você precisa se destacar a qualquer custo. À medida que a discussão for evoluindo, veremos como a assertividade difere de outras formas menos eficazes de interação.
Existem poucas coisas que podemos considerar certezas na vida. Uma delas é que todo ser humano deseja ser tratado de forma justa. Talvez não sintamos que determinado momento exija justiça, mas é algo que sempre desejamos. Quando sentimos que não estamos sendo tratados de forma justa, devemos insistir em que isso aconteça. Não podemos simplesmente nos jogar no chão e nos fazer de mortos, embora muitas pessoas façam isso. Para sermos tratados de forma justa devemos dizer de maneira clara, educada e eficaz quais são nossos sentimentos, preferências, necessidades, opiniões e reclamações. Ninguém pode fazer isso por nós. Temos a responsabilidade de expressar nossas necessidades, e também temos a responsabilidade de fazer isso de modo apropriado e produtivo. Do contrário, não só nos privaremos daquilo que merecemos como também privaremos as pessoas ao nosso redor das contribuições reais que nós precisamos fazer.
COLOCANDO NOSSOS DIREITOS E RESPONSABILIDADES EM AÇÃO
O verdadeiro significado da assertividade é estabelecer parâmetros razoáveis para ser tratado de forma justa. É como as leis de trânsito: ir aonde você deseja é importante, mas isso não significa que você pode ultrapassar os sinais vermelhos. A assertividade é o meio-termo entre dois extremos: a agressividade impulsiva e a passividade derrotista. A pessoa verdadeiramente assertiva não é nenhuma dessas duas coisas. Pessoas agressivas são egocêntricas, desrespeitosas, hostis e exigentes de uma forma arrogante. Elas afastam os outros. Por outro lado, as pessoas passivas são fracas, complacentes e desrespeitosas com os próprios interesses. Elas também afastam os outros – exceto, talvez, as pessoas agressivas. Entre esses dois extremos, porém, estão as pessoas que sabem transmitir suas ideias sem impedir que as outras façam o mesmo. Sua tarefa é se tornar uma dessas pessoas. Homens e mulheres capazes disso são indivíduos assertivos, e o propósito deste livro é ensiná-lo a ser assim. Quando dominar essa habilidade, você estará fazendo o que é melhor para si e para todos à sua volta.
Bem, essa é a visão geral. Quando começamos a olhar mais atentamente para a assertividade, o quadro se torna mais complexo e até mesmo paradoxal. É muito mais fácil apontar o que não é assertivo do que apontar o que é. Embora seja fácil distinguir pessoas flagrantemente agressivas ou extremamente passivas, nem sempre é fácil apontar o que constitui um comportamento assertivo. Na verdade, essa é uma situação muito comum quando falamos sobre o comportamento das pessoas. Assim como tantas outras qualidades humanas importantes, é mais fácil reconhecer a assertividade do que defini-la. Portanto, vamos dar uma olhada nas evidências. Começaremos observando situações da vida real em que a assertividade tem um papel importante.
UM EXEMPLO REAL DE ASSERTIVIDADE EFICAZ
Imagine que você acabou de finalizar um projeto importante no trabalho, um projeto que consumiu várias semanas do seu tempo. Que alívio! Você precisou trabalhar com um grande número de pessoas, e no fim das contas tudo correu muito bem, apesar de estarem envolvidas as mais diferentes personalidades. Todos deram sua contribuição, e o resultado foi um grande sucesso. Mas você acabou de descobrir que um dos membros da equipe recebeu um elogio especial do seu chefe. Isso lhe parece totalmente arbitrário e injusto. Por algum motivo, apenas essa pessoa foi chamada à sala do chefe e recebeu uma congratulação pessoal.
Como você se sentiria na mesma situação? Nada feliz, claro. E o mais importante: como reagiria? Teria alguma reação? Uma pessoa agressiva teria uma reação hostil não só em relação ao chefe como também ao colega elogiado. Isso despertaria o sentimento de raiva, e em algum momento poderiam surgir até mesmo palavras desagradáveis. Uma pessoa passiva, por outro lado, provavelmente se recusaria a admitir que o chefe teve um comportamento questionável e não reagiria.
A resposta assertiva é um meio-termo entre esses dois extremos. Para explicar como funciona, precisamos começar com um princípio que influenciará todas as lições deste livro. Nosso foco principal será na assertividade e nas habilidades pessoais no ambiente empresarial. Portanto, precisamos ter um ponto de vista profissional, não pessoal. Na situação que acabamos de descrever, uma reação assertiva implica saber como você realmente se sente e depois descobrir uma forma de expressar esse sentimento no contexto de um ambiente empresarial.
Vamos supor que você marque uma reunião com o chefe para dizer como se sente. Mesmo que esteja magoado pelo fato de outra pessoa ter recebido crédito em excesso por um trabalho de equipe, seria um erro começar externando esse sentimento pessoal. Vocês estão num ambiente de trabalho, portanto mantenha o foco no trabalho. Se você falar sobre como está se sentindo, vai acabar parecendo um chorão. Soará antiprofissional se disser algo como “Eu trabalhei tão duro quanto o George, mas ele recebeu todo o crédito pelo projeto!”.
Eis um exemplo de abordagem mais assertiva: “Entendo que tenha gostado do trabalho de George no projeto, e fico muito feliz em saber disso, porque ele fez contribuições importantes. Mas uma coisa me deixou preocupado. Todos os funcionários que participaram do projeto se esforçaram bastante e dedicaram muitas horas de trabalho a ele, inclusive eu. Quando chegar a hora da minha avaliação de desempenho, quero ter certeza de receber o mesmo reconhecimento que George recebeu. Isso é muito importante para mim. Teria sido gratificante se cada um de nós tivesse recebido um agradecimento individual, mas minha maior preocupação é como isso vai afetar minhas oportunidades de carreira dentro da empresa.”
Ao focar nos aspectos profissionais da situação, não nos elementos emocionais, criamos um efeito bastante útil, ao qual vamos nos referir diversas vezes ao longo deste livro. Veja bem: tanto a reação passiva quanto a agressiva são comportamentos infantis. Em qualquer contexto profissional, a pessoa que parece mais madura se sai melhor. Se você faz beicinho, resmunga ou faz birra, está se colocando como o perdedor. Você se sairia melhor se demonstrasse assertividade – a reação adulta entre os dois extremos de reações infantis.
Se olharmos mais de perto para alguns componentes específicos da ação assertiva, começaremos a ver como funciona essa ideia de separação entre as atitudes infantis e adultas.
ANALISANDO OS COMPONENTES DA ASSERTIVIDADE
A assertividade é um antídoto para o medo, para a timidez, para a passividade e até para a raiva – todas elas emoções infantis. Ser assertivo significa falar com clareza, fazer pedidos razoáveis e insistir em que seus direitos sejam respeitados e que você seja visto como um ser humano tão importante como todos os outros. A assertividade também é a capacidade de expressar emoções negativas sem personalizar o problema. Uma pessoa assertiva sabe como fazer perguntas, como discordar e até como recusar um pedido sem parecer infantil. A assertividade é a capacidade de questionar a autoridade de forma positiva. É o poder de perguntar “Por quê?” não para se rebelar, mas para assumir a responsabilidade de melhorar a situação.
Até o fim deste capítulo vamos analisar quatro passos específicos que podemos dar para implementar a assertividade em praticamente qualquer ambiente. Esses passos serão a base de todas as estratégias assertivas que discutiremos nos dois primeiros capítulos.
PRIMEIRO PASSO: Prepare-se usando a autorreflexão
Hoje em dia existe uma grande variedade de ferramentas de avaliação que podem nos ajudar a identificar nossos pontos fortes e em que podemos melhorar. As avaliações 360 graus são especialmente úteis porque as informações são recebidas de diversas fontes e podem nos ajudar a descobrir nossos pontos cegos.
Neste livro, usaremos uma avaliação informal como primeiro passo para você se tornar uma pessoa assertiva e desenvolver a assertividade no seu repertório de habilidades interpessoais. Quando identificamos em que estágio nos encontramos, descobrimos quais mudanças precisamos fazer e acreditamos na nossa capacidade de concretizá-las.
Por exemplo, você costuma sentir que estão tirando vantagem de você? Se sim, pergunte a si mesmo se essa é uma visão precisa do que está acontecendo na sua vida. Caso chegue a essa conclusão, o que precisa mudar? É muito provável que você tenha dificuldade em dizer “não” quando necessário. Talvez seja bom começar tomando nota das situações em que você enfrenta essa dificuldade. Mantenha um registro das ocasiões em que teve que dizer “não”, incluindo como se sentiu depois. Ao confrontar suas inibições, você perceberá que elas começarão a perder a força.
Mas talvez você esteja na outra ponta do espectro. Você é capaz de relembrar situações em que cometeu sincericídio? Será que em alguma dessas situações você se comportou de forma agressiva? Seja franco consigo mesmo ao avaliar essa possibilidade. Se a resposta for sim, pergunte a si mesmo se esse comportamento está sendo benéfico ou prejudicial. Você realmente quer desenvolver a agressividade na sua personalidade? Ou ela é apenas um substituto para uma reação mais adulta – a assertividade? Mais uma vez, tente manter um registro das situações em que você se sentiu agressivo. Acompanhe seu progresso na tentativa de controlar esse sentimento.
Ao fazer isso, tenha em mente que mudanças positivas não acontecem sozinhas. Talvez você sinta certa ansiedade, ou até medo, quanto a se tornar uma pessoa assertiva. Se for esse o caso, escreva sobre isso no seu diário. Tem alguém com quem você possa conversar sobre as mudanças que está tentando fazer? Fale com essa pessoa sobre as situações e os sentimentos específicos que o preocupam.
Talvez valha a pena investigar a origem das emoções que está sentindo. De onde realmente vêm os valores que orientam sua relação com as pessoas? Quando toma uma decisão sobre como se comportar em determinada situação, de quem é a voz que você ouve na sua mente? Quem são as pessoas do passado que, subconscientemente, estão influenciando seu comportamento no presente?
Ocorre que, quando crianças, somos bombardeados com regras – não seja egoísta, não tente passar os outros para trás, não cometa erros, não seja emotivo, não seja irracional, não interrompa as pessoas, etc. A maioria dessas regras é valiosa e é imposta com as melhores intenções, mas se ficarem gravadas com muita força na sua consciência, talvez você as considere mais importantes do que de fato são. E mais: apesar dos bons motivos para a existência de muitas dessas regras, todas elas podem ser legitimamente quebradas em certas situações.
Por exemplo, você tem direito de ser o primeiro, pelo menos às vezes. Você tem direito de errar, desde que queira aprender com os erros. E você tem direito de dizer que não tem tempo para fazer algo se de fato não tiver tempo.
SEGUNDO PASSO: Faça uma autoavaliação honesta
A maioria dos sentimentos de submissão ou agressividade tem origem na infância. É hora de identificar essas raízes e perceber que você pode superá-las.
Durante esse processo de autoconhecimento, tenha em mente o prejuízo que você sofre quando evita ter um comportamento assertivo apropriado. Ao agir de forma agressiva, por exemplo, é provável que você sinta uma culpa que pode se tornar um fardo pesado com o passar do tempo. Ao permitir que pessoas ou circunstâncias se coloquem na frente de suas necessidades legítimas, você está se desrespeitando. No começo talvez você pense que ser assertivo é uma questão de escolha, mas com o passar do tempo isso pode levá-lo a acreditar que você não tem nenhum poder.
Uma autoavaliação precisa é o primeiro passo essencial em qualquer tentativa de desenvolvimento pessoal ou profissional, e para cumprir essa etapa é preciso remover todas as barreiras, mas nem sempre é fácil saber o que você está vendo de verdade quando se olha no espelho – e é muito mais difícil que outra pessoa faça isso por você. A autopercepção e a autoavaliação são tão fundamentais que dar um passo nessa direção não é apenas necessário – é algo que deve ser encorajado. Ter alguém com quem conversar sobre sua tentativa de se tornar um indivíduo assertivo é um elemento-chave da autoavaliação. Com o mínimo de esforço, essa pessoa pode ajudá-lo de verdade. Mas deixe claro que você vai retribuir o favor quando solicitado.
E o que você precisa fazer? Primeiro, escreva uma mensagem para seu amigo listando diversas características de personalidade. Inclua traços que você acredita ter e outros que não tenha, sejam eles negativos ou positivos. Por exemplo, talvez você se considere uma pessoa muito bem-humorada ou meticulosa. Coloque esses traços no topo da lista. Em seguida, pense em atributos que você gostaria de ter. Talvez você queira ser conhecido como um indivíduo muito feliz, ou caridoso, ou compassivo. Coloque essas palavras na lista. Por fim, inclua algumas qualidades indesejadas, como “rabugento” ou “insensível”.
Quando enviar a mensagem, peça que ele a encaminhe a todos os conhecidos que vocês tiverem em comum. Envie junto uma mensagem curta pedindo que as pessoas marquem quais qualidades o descrevem melhor. Garanta a elas que, ao enviarem a lista de volta para seu amigo, as respostas serão totalmente anônimas.
Quando receber as respostas, você provavelmente ficará espantado com certas qualidades que as pessoas enxergam em você e que você nunca enxergou em si mesmo. Essa é uma excelente forma de receber um feedback honesto sobre quem você é, em comparação com quem você pensa que é. Talvez seja necessário ter um pouco de coragem para mandar essa lista, mas, por si só, esse é um ato de assertividade. Portanto, não deixe de tentar.
TERCEIRO PASSO: Avalie o mundo externo
Após fazer um esforço real de autoavaliação, é hora de mudar o foco, deixando de olhar para dentro e passando a olhar para fora. Em outras palavras, observe o que está acontecendo na sua vida agora, sobretudo no trabalho. Quais das situações específicas em que você está envolvido agora terão impacto no sucesso da sua carreira? Como você está lidando com essas situações? Está sendo passivo ou agressivo demais?
Escolha uma situação específica que esteja preocupando você e crie uma visão precisa dela. Em seguida, comece a elaborar um plano detalhado sobre como agir de forma assertiva nesse contexto, com base nas orientações a seguir.
Primeiro, se você fosse falar diretamente com as pessoas envolvidas, como descreveria a situação e seu sentimento em relação a ela? Você pode pôr essa conversa no papel ou pode encená-la. Seja muito específico sobre o que aconteceu no passado, o que está acontecendo agora e o que gostaria que acontecesse no futuro. Não faça acusações genéricas como “Você sempre é hostil… você vive irritado… você nunca tem tempo para conversar comigo”. Em vez disso, formule frases que comecem com “Eu”, foque nos fatos e mantenha o controle emocional.
E o mais importante: não “estenda” o tema da conversa para além da situação principal. Não há problema em falar do passado, desde que ele tenha a ver com o presente. Por exemplo, você pode falar algo sobre uma discussão que teve no começo do projeto, mas não fale sobre algo que foi dito no mês passado ou no ano passado, num contexto totalmente diferente. Seja objetivo. Concentre-se no que de fato aconteceu e no que está acontecendo. Não entre em questões de motivação ou psicologia. Você só sabe o que aconteceu no nível físico. Você pode até especular sobre a razão pela qual determinada coisa aconteceu, mas agora não é hora de fazer isso.
Caso sinta necessidade de falar sobre suas emoções, procure deixar claro que elas são suas. Novamente, comece as frases com “Eu”; isso mostra que você se responsabiliza pelos seus sentimentos. Tente se concentrar nos sentimentos positivos relacionados aos seus desejos e necessidades legítimos, não no seu ressentimento em relação a seu interlocutor. Descreva as mudanças que você gostaria de ver acontecer. Seja específico em relação ao que gostaria que parasse de acontecer e ao que gostaria que começasse a acontecer. Certifique-se de que as mudanças são razoáveis. Ser assertivo também é levar em conta as necessidades alheias, além de se dispor a fazer mudanças em si mesmo. Talvez você queira conversar sobre as consequências dessas mudanças, ou da ausência de mudanças, mas, se for esse o caso, não faça ameaças. Ameaças sempre dão ao conflito um ar pessoal. Desafiam as pessoas num nível mais profundo que o profissional, e isso pode fazer com que a outra parte se sinta encurralada e fique na defensiva.
Ao criar esses diálogos imaginários, comece suas frases das seguintes formas:
“O que nós podemos fazer é…”
“Nós poderíamos…”
“Será que você poderia…?”
“Eu fico feliz quando você…”
“Concordo com parte do que você está dizendo, e as coisas que eu gostaria de mudar são…”
Quando você tiver prática em criar seus cenários de assertividade, certas coisas ficarão claras. Você começará a se dar conta de alguns fatos. Perceberá, por exemplo, que por mais educado e calmo que seja, por mais que elabore frases começando com “Eu”, por mais que se atenha à situação, haverá ocasiões em que sua assertividade será vista como um ataque pessoal. Essa percepção não terá base na realidade. Se o outro indivíduo for agressivo, talvez você receba exatamente o tipo de ataque que está sendo acusado de realizar. Para ser realmente uma pessoa assertiva, você precisa estar preparado para esse cenário e precisa saber como reagir.
Como reagir a agressões
Na maioria das vezes, basta você explicar sua posição e se manter firme para resolver a situação. No entanto, é possível que você se sinta fortemente tentado a contra-atacar ou recuar. Resista a essa tentação. Nunca permita que o descontrole emocional da outra pessoa influencie seu comportamento.
Na verdade, o que acontece é o seguinte: ao ficar com raiva, a outra pessoa deixa implícito que os sentimentos dela são mais importantes que os seus só porque ela está falando alto, sendo sarcástica ou até caindo no choro. Não permita que esse comportamento diminua sua importância ou aumente a da outra pessoa. Não reaja de forma agressiva, mas também não recue.
Ao fazer isso você está usando uma abordagem passivo-agressiva.
Em vez disso, mantenha uma postura que mostre que “vocês dois têm o mesmo valor”. Dale Carnegie diz que nos beneficiamos ao enxergar a situação do ponto de vista do outro. Não é fácil fazer isso quando a outra pessoa está emotiva. Manter essa atitude diante de alguém que não controla as próprias emoções é algo que requer prática. Mais uma vez, você pode contar com a ajuda de um amigo ou colega de trabalho próximo. Nesse exercício, peça a essa pessoa que represente o outro lado da conversa enquanto você se concentra em manter o equilíbrio.
Isso não significa que você deve ser desonesto só para manter sua posição. Se parte da crítica que você recebeu é justa, reconheça. Não dê desculpas. Mesmo que não concorde com grande parte da crítica, você pode destacar um trecho com o qual concorde para baixar a temperatura da discussão. Use frases como “Talvez você esteja certo a respeito de tal coisa…” ou “Eu entendo como você se sente em relação a tal coisa…”. Em outras circunstâncias, pode parecer que você está recuando, mas há situações em que a conciliação pode ser uma boa abordagem.
Lembre-se: até agora nós falamos sobre como treinar e se preparar para situações do mundo real. Sugerimos que você mantenha um diário para relatar seus comportamentos agressivos e passivos, falamos sobre algumas técnicas de autoavaliação e recomendamos que você as exercite com um amigo. Agora vamos para a “prova prática”.
QUARTO PASSO: A prova prática
Quando começar a testar sua assertividade em situações reais, tenha em mente as seguintes orientações. Primeiro, escolha uma circunstância gerenciável. Comece com situações mais fáceis e menos estressantes. Ganhe confiança. Conforme for se sentindo mais confortável, ajuste sua abordagem e se prepare para situações mais difíceis.
Se atualmente não houver nenhuma situação na sua vida que exija assertividade, procure criar uma. Basta sair um pouco da sua zona de conforto. Se estiver numa reunião, faça uma pergunta ou desafie educadamente um colega a explicar um ponto de vista. Escreva uma mensagem contando a seu superior algo que o preocupa no trabalho. Faça um elogio ou dê um feedback construtivo numa situação em que você costuma se manter calado. Não faça nada arriscado. O importante é se tornar cada vez mais assertivo, mas com consciência e aos poucos. Preste atenção em como essa mudança intencional faz com que você se sinta. Como sempre, escrever pode ajudar a clarear seus pensamentos, por isso tente tomar nota de tudo no seu diário da assertividade.
Conforme sua confiança crescer, você estará mais preparado para encarar situações mais desafiadoras. Durante um período de uma ou duas semanas, elabore uma lista de situações em que você gostaria de ser mais assertivo. Observe por algum tempo como essas situações se desenvolvem antes de tomar qualquer atitude. Então escolha uma situação específica e reflita sobre qual seria um comportamento verdadeiramente assertivo. Em outras palavras, qual é a melhor forma de expressar suas ideias, necessidades e vontades legítimas? Além disso, qual é a melhor forma de identificar e eliminar comportamentos negativos dos outros envolvidos? Por fim, aja com base nas suas conclusões.
Eis alguns pontos úteis para se ter em mente ao fazer isso. Embora certas conversas pareçam mais monólogos do que qualquer outra coisa, a maioria das interações profissionais requer pelo menos duas pessoas compartilhando pensamentos, sentimentos e desejos, e tentando fazer com que a própria vontade prevaleça. Portanto, expresse-se de forma assertiva, mas dê à outra pessoa a chance de fazer o mesmo, e escute com empatia. Tenha em mente que a vitória para você e a derrota para o outro não são o desfecho ideal. Busque uma situação em que todas as partes saiam ganhando, ou algo próximo disso. Talvez você demore a chegar a esse ponto. Haverá situações em que você terá razão em exigir a reparação de uma injustiça, mas em outras essa medida será contraproducente. Qualquer que seja a situação, porém, lembre-se de que a assertividade é a regra de ouro dos tempos modernos. Respeite os desejos e as necessidades da outra parte e espere que ela faça o mesmo por você. Não aceite nada menos que isso.
EM AÇÃO
- Reflita sobre uma “injustiça” na qual você esteve envolvido, seja no trabalho ou na vida pessoal. Como você lidou com a situação? Escreva sobre sua experiência e depois reflita sobre o que faria de diferente com base nos conceitos que acabou de aprender.
- Faça uma autoavaliação honesta. Numa escala de 1 a 10, qual é o seu nível de assertividade?
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Passivo Assertivo Agressivo
- Leia a lista a seguir e marque um X nos traços de personalidade que você gostaria de Em seguida, elabore um plano por escrito com esse objetivo.
- Muitas vezes eu me sinto vítima do que acontece ao meu redor.
- Eu desconto nos outros quando estou irritado ou sinto que fui tratado injustamente.
- Muitas vezes eu começo a conversa dizendo “Você me deixa…”.
- Tenho dificuldade em admitir que estou errado.
- Fico sobrecarregado e não digo “não” com a frequência que deveria.
- Sou excessivamente crítico comigo mesmo e com os outros.
- Costumo usar termos extremos como “nunca” e “sempre” quando estou falando com outras pessoas sobre o comportamento delas.
- Evito a qualquer custo ser assertivo e entrar em confrontos.