Destino final: mundo interior
Em 3 de agosto de 1492, o navegador Cristóvão Colombo se preparava para zarpar rumo às Índias quando olhou fixo para a tripulação e disse: “O mar trará a cada homem uma nova esperança, assim como dormir traz novos sonhos.”
Dois meses depois, em 12 de outubro de 1492, desembarcou em Guanahani, nas Bahamas, a aproximadamente 14 mil quilômetros do destino original. Um pequeno erro de navegação acarretou uma das maiores descobertas da humanidade. Foi um descobrimento inesperado, fruto do desconhecimento.
Na América, as vidas começavam e acabavam. As civilizações perduravam ou caíam no esquecimento: maias, incas, astecas, cheroquis, apaches, sioux… culturas extraordinárias que existiam à margem do imperialismo europeu do século XV. Até que, certo dia, a aurora trouxe as velas latinas das naus Santa Maria, Pinta e Niña; com isso o mapa-múndi mudou para sempre.
Os seres humanos são, entre tantas outras coisas, uma coleção de mapas, alguns deles inexplorados. Ainda que se tenha demonstrado que a famosa frase “O ser humano usa apenas 10% da capacidade do cérebro”, falsamente atribuída a Einstein, não passa de um mito, fruto de um mal-entendido, a maioria das pessoas pouco conhece de seu interior.
O que me faz chorar? Por que isto me emociona? Por que sinto tristeza, raiva, nervosismo, ansiedade, alegria e medo no decorrer do mesmo dia? Como funciona aquilo que está aqui dentro? Como é o meu mapa interior?
Se alguma vez você já se fez qualquer dessas perguntas, ou mesmo que, pelo contrário, nunca tenha pensado nisso, talvez sinta vontade de explorar um território indômito: o seu interior.
Está disposto a zarpar rumo a terras inóspitas, embarcar em busca de um destino incerto que, apesar de tão próximo, pode se revelar completamente estranho e misterioso?
Navegar em direção às águas profundas que banham suas emoções, seus medos, seus desejos e suas convicções – em suma, seu jeito de ser e estar no mundo – é uma aventura rumo ao desconhecido. Um processo de busca e transformação interna, embora apaixonante, não deve ser empreendido de qualquer jeito e requer planejamento para você não naufragar enquanto tenta alcançar a essência do seu ser. Além disso, essa viagem tem ponto de partida, mas não tem um destino final claro, tampouco duração determinada. Ela pode levar a vida inteira. Portanto, nunca é demais se preparar bem antes de zarpar.
“Conhece-te a ti mesmo”
Diz-se que este célebre aforismo estava esculpido na fachada do templo de Apolo, em Delfos. Ao longo da história, uma infinidade de pensadores, filósofos, poetas, psicólogos, profetas e guias espirituais – entre outros – tem se esforçado para dar sua pequena contribuição no intuito de nos ajudar em uma travessia certamente complexa.
Muito antes de essa inscrição figurar no sopé do monte Parnaso, o homem demonstra ter uma sede infinita de conhecimento. O ser humano é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra, mas é também o único que nunca desiste de ir além.
Superamos os 384.400 quilômetros que nos separam da Lua, exploramos os quase 150 milhões de quilômetros quadrados de superfície terrestre, navegamos pelos mais de 360 milhões de quilômetros quadrados de mares e oceanos, subimos nos cumes mais altos e mergulhamos nos abismos mais profundos. Nada deteve nosso afã de explorar, descobrir e saber. E, no entanto, nossa mente, algo tão intrínseco a nós, permanece desconhecida.
Por ironia, parece que, quando se trata de percorrer os meandros do nosso ser mais profundo, analisar as próprias emoções ou conversar com os medos, esse afã conquistador adormece. A inquietação, o inconformismo e a coragem de ir sempre um pouco além desaparecem e dão lugar a uma aceitação cega – como quando olhamos para um relógio de parede e temos consciência de que ele marca as horas, mas não sabemos como seus ponteiros se movem.
No entanto, estamos aqui para fazer algo diferente. Estamos aqui para tirar o relógio da parede, desaparafusar a parte de trás, examinar as engrenagens e investigar. É o momento de arregaçar as mangas, se encher de coragem e mergulhar nessa infinidade de peças para entender os tiques e os taques do nosso cérebro. Será um longo percurso, mas enfrentar esse processo de autoconhecimento, aceitando com honestidade todas as descobertas, pode se tornar a maior das aventuras.