Neste 7 de setembro, quando se comemora o Dia da Independência, conheça sete caminhos literários para conhecer a história do país. Livros de Eduardo Bueno, Mary Del Priore e Jorge Caldeira estão entre as sugestões.
Imortalizada em quadros, livros e no hino nacional, a passagem clássica do Dia da Independência é a de Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga. Ali, ele proferiu três palavras que sobreviveram ao tempo e marcaram nossa história: “Independência ou morte!”. Nesse instante, o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria. Quem não cantou algo assim com a mão no peito? Independência, meus caros.
Mas a realidade desse acontecimento retumbante foi um pouco diferente e traz, no mínimo, um detalhe insólito: Dom Pedro parou às margens do Ipiranga para se aliviar de uma diarreia. Essa, sim, retumbante. É o que nos conta Eduardo Bueno em livros e neste vídeo. Ali, ficou sabendo dos planos de Portugal de transformar o Brasil novamente em colônia. Então, disse o que disse em cima de uma mula, não de um cavalo, como Pedro Américo retratou em tom épico em seu famoso quadro. São retoques de uma história aumentada e modificada ao longo do tempo.
Com a proximidade da data (em 2019, o 7 de setembro cai no sábado), separamos sete caminhos para redescobrir a história do Brasil, incluindo os criados por Bueno.
1 – O país e seu princípio: coleção com quatro livros
Se a redescoberta do Brasil passa pela leitura, a obra de Eduardo Bueno é um ponto de partida dos mais interessantes. Nela, como não poderia deixar de ser, a história se mantém fiel aos fatos – com datas, nomes e eventos destacados -, mas desliza com uma escrita leve e bem-humorada. As marcas estão também preservadas na versão youtuber do carismático jornalista, como prova seu canal com mais de 500 mil seguidores.
De fato, há tempos o trabalho de escavação de Bueno fisga novos leitores, e os motivos dessa adesão podem ser encontrados na Coleção Brasilis, da Sextante. Os títulos, juntos, percorrem séculos de conquistas, avanços e reviravoltas da nossa história, repleta de personagens e episódios marcantes, embora muitos tenham se desprendido do imaginário popular. Bueno os resgata e faz isso com uma riqueza de detalhes que impressiona. São quatro paradas no caminho: “A viagem do descobrimento”, “Náufragos, traficantes e degredados”, “Capitães do Brasil” e “A coroa, a cruz e a espada”.
2- Bonifácio, personagem fundamental da Independência
Uma das mais prestigiadas historiadoras do país, Mary Del Priore nos apresenta “As vidas de José Bonifácio”. Desde o título, ela deixa evidente a elasticidade dessa figura que se destacou pela capacidade de se reinventar na vida e, claro, na história. A data comemorativa é um excelente motivo para se debruçar sobre os caminhos de Bonifácio, na Europa e no Brasil, já que ele foi um dos articulistas da Independência. Ao avançar pelas páginas, o leitor conhece tanto a personalidade do homem ambicioso, cujo sonho era ser fidalgo, quanto compreende a construção do personagem que ficou para a posteridade. A trajetória dele é salpicada por curiosidades sobre o comportamento e a cultura da época.
3 – O atraso que nos afasta do futuro: uma leitura crítica do Brasil
O sociólogo Jessé Souza faz uma necessária provocação em “A elite do atraso”. No contundente livro, o autor desloca e redimensiona os problemas do país a partir da constatação de que a escravidão é o elemento catalisador da nossa desigualdade. Uma desigualdade atualizada, como ele reforça, já que o escravo foi substituído pelo pobre. A nova versão da obra originalmente lançada em 2017, agora revista e ampliada, chega ao país da Lava-Jato e de Jair Bolsonaro como presidente. Vale ainda combinar essa leitura com outro título de Souza, “A classe média no espelho”, no qual ele desconstrói o conceito de classe e abre espaço para uma discussão mais aprofundada sobre privilégios.
4- De quem o Brasil não lembra
Em teoria, o trabalho da história pressupõe um processo de resgate, embora ele insista em padecer no esquecimento. Nesse sentido, “Achados & Perdidos da História: Escravos”, de Leandro Narloch, traz uma semente de lembrança ao narrar a biografia de 28 brasileiros. Todos atravessados pela escravidão e, consequentemente, pela violência e pelo silenciamento intrínsecos ao regime escravagista. Aqui, cabe lembrar que o Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão, e as consequência disso são reverberadas intensamente nos dias de hoje. Diz muito sobre quem somos. “A conclusão a que o leitor provavelmente chegará ao final é que não houve só uma escravidão no Brasil”, aponta o autor.
5 – O Brasil contado pela ótica do dinheiro
“História da riqueza no Brasil” repassa mais de 500 anos de história oficial a partir de números e cifras. A assinatura de Jorge Caldeira é garantia do rigor que a empreitada merece. A economia está, sim, no centro dessa reconstituição, mas o livro jamais se torna dependente do economês. Ou seja, até os desacostumados com jargões e noções da área vão acompanhar os desdobramentos sem dificuldade. O livro, um grandioso estudo sobre o poder, destaca como diferentes governos lidaram com questões financeiras, apontando erros e acertos que ajudam a entender o nosso presente.
6 – Quem foi de aço nos anos de chumbo
A história já é bastante famosa, deu origem ao filme homônimo indicado ao Oscar em 1998, mas “O que é isso, companheiro?” é um livro sem data para deixar de ser redescoberto. Permanece forte e como um produto de valor histórico inegável sobre um dos períodos mais tristes e obscuros da nossa história, a ditadura militar. Após anos no exílio, Fernando Gabeira escreveu suas memórias sobre a época, numa narrativa que culmina no sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbric. O livro, contudo, é muito mais que um thriller policial. Os interessados em acompanhar os passos literários de Gabeira podem ainda conferir “Democracia tropical”, uma reflexão sobre a política no país desde as Diretas Já.
7 – Uma comédia de erros com a assinatura do Casseta & Planeta Pedida para quem sente falta do humor do Casseta & Planeta na televisão, “Brasil do Casseta” é um louco exercício de embaralhamento histórico. Pela ótica da trupe, a seriedade enfadonha passa ao largo. Em troca, surgem as ironias, os deboches e as mensagens de duplo sentido (ou triplo sentido, sei lá), embalados numa escrita politicamente incorreta, dividida em 30 capítulos. Certamente, não é a opção mais indicada para quem deseja fontes históricas. A proposta aqui é perder a prova, mas não perder a piada. O grupo está aqui para rir de nossas falhas trágicas, afinal “se Deus é brasileiro, só pode estar de sacanagem”.