1 O coração nobre
Bodhichitta é uma palavra sânscrita que significa “coração nobre ou desperto”. Diz-se que está presente em todos os seres. Assim como a manteiga é parte do leite, e o óleo, da semente de gergelim, essa ternura é inerente a mim e a você.
Diz-se que, em tempos difíceis, somente o bodhichitta pode curar. Quando não encontramos inspiração, quando nos sentimos prestes a desistir, esse é o momento em que a cura pode ser encontrada na ternura da própria dor. Esse é o momento de tocar o autêntico coração do bodhichitta. No meio da solidão, do medo, do sentir-se incompreendido e rejeitado, encontra-se a pulsação de todas as coisas, o autêntico coração da tristeza.
Uma pedra preciosa fica enterrada durante um milhão de anos e não perde a cor nem é danificada. Do mesmo modo, por mais que possamos espernear, nada afetará esse coração nobre. Essa joia pode ser trazida para a luz a qualquer tempo e resplandecerá com todo o seu brilho, como se nada tivesse acontecido. Não importa quão comprometidos estejamos com a rudeza, o egoísmo ou a ganância, o autêntico coração do bodhichitta não pode ser perdido. Está bem aqui, em tudo que tem vida, intacto e completamente íntegro.
2 Já temos tudo
Já temos tudo de que precisamos. Não há necessidade de autoaprimoramento. O opressivo medo de ser mau e o desejo de ser bom, a identidade a que tão amorosamente nos apegamos, a raiva, a inveja e os vícios de todo tipo nunca atingem nossa riqueza fundamental. São como nuvens que temporariamente encobrem o sol. Mas, o tempo todo, nosso calor e brilho estão bem aqui. Isso é o que somos de verdade. Estamos a um piscar de olhos do completo despertar.
Não costumamos olhar para nós mesmos dessa forma. Desse ponto de vista, não precisamos mudar: podemos ser tão deploráveis quanto quisermos e, ainda assim, somos bons candidatos à iluminação. Podemos nos sentir um caso irremediavelmente perdido, mas esse sentimento é nossa riqueza e não algo que deva ser jogado fora ou que precise ser melhorado.
3 O caminho do guerreiro-bodhisattva
Onde quer que estejamos, podemos nos treinar como guerreiros. As práticas de meditação, bondade amorosa, compaixão, alegria e equanimidade são as nossas ferramentas. Por meio dessas práticas podemos expor o ponto sensível do bodhichitta. Vamos encontrar essa suavidade na tristeza e na gratidão. Vamos encontrá-la por trás da dureza da raiva e no tremor do medo. Ela está disponível tanto na solidão quanto na ternura.
Muitos de nós preferem práticas que não lhes causem desconforto e, no entanto, ao mesmo tempo, desejam ser curados. Mas o treinamento do bodhichitta não funciona dessa maneira. Um guerreiro aceita que nunca podemos saber o que irá acontecer conosco em seguida. Podemos tentar controlar o incontrolável, buscando encontrar segurança e previsibilidade, sempre na esperança de ficarmos confortáveis e seguros. Mas, na verdade, nunca podemos evitar a incerteza. Esse não saber é parte da aventura e é, também, o que nos faz ter medo.
O treinamento do bodhichitta não oferece a promessa de finais felizes. Em vez disso, esse “eu” que deseja encontrar segurança – que quer algo a que se agarrar – pode, finalmente, aprender a crescer. A questão central do treinamento do guerreiro não é de como evitamos a incerteza e o medo, mas de como nos relacionamos com o desconforto. Como é que praticamos com a dificuldade, com as nossas emoções, com os embates imprevisíveis de um dia normal?
4 Comece onde você está
Comece onde você está. Isso é muito importante. A prática da meditação não se refere a mais tarde, ao momento em que vamos compreender tudo e nos tornar alguém que realmente mereça respeito. Você pode ser a pessoa mais violenta do mundo – esse é um bom ponto para se começar. Esse é um ponto de partida muito rico, cheio de sabores e cheiros. Você pode ser a pessoa mais deprimida, a mais viciada, a mais invejosa. Pode achar que ninguém no planeta se odeia tanto. Todos esses são bons pontos de partida. Exatamente onde você está – é daí que deve começar.
5 A vida é uma boa professora
A vida é uma boa professora e amiga. Se pudéssemos perceber, veríamos que tudo está sempre em transição. No fim, nada é como sonhamos. Esse estado descentralizado e indefinido representa a situação ideal. Nesse ponto, não estamos presos a nada e podemos abrir o coração e a mente além de qualquer limite. Essa é uma situação sem agressividade, muito frágil e aberta.