Eu tinha 14 anos quando descobri a poesia através dos versos do meu conterrâneo Patativa do Assaré. Pronto. Botei na cabeça que seria poeta! Comecei a escrever sobre todo o universo que me abraçava: os meninos jogando bola no terreiro lá de casa, um passarinho cantando no galho do pé de goiaba do quintal, vovó fazendo doce de leite no fogão a lenha, as batidas do martelo de vovô na sapataria, tudo aquilo era poesia. Poesia com som, com cheiro, com sabor; poesia com vida. Eu só precisava encontrar as palavras dentro do meu coração pra materializar tudo aquilo em versos rimados como os de Patativa.
Uma vez na escola, uma professora perguntou a cada aluno:
– O que você quer ser quando crescer? E tome dentista, tome advogado, tome engenheiro, tome policial…
Nessa hora percebi que existia um espaço em branco enorme dentro de mim. Vendo meus colegas falando aquilo com tanta firmeza, e eu, aperreado, pensando no que iria dizer, porque não fazia ideia. Eu só sabia que queria “prestar”. Era assim que o vovô falava: “O cabra, pra ser respeitado na vida, tem que prestar!”
No final das contas, chegou minha vez e falei qualquer coisa que me veio à cabeça. Deve ter sido algo muito sem graça, pois nem me lembro.
Depois que comecei a escrever, tudo se transformou. Esperei ansioso o momento em que alguém iria me perguntar o que eu queria ser quando crescesse. E chegou. Mais uma vez, na escola.
– E você, Bráulio, o que quer ser quando crescer?
Respondi na hora:
– Eu já sou! Eu sou poeta!
Eu tinha só 14 pra 15 anos, mas já carregava esse sentimento de “ser” alguém, de servir pra alguma coisa boa, esse sentimento de prestar! Aquilo foi muito importante para que eu chegasse até as palavras que você está lendo neste livro.
O fato é que quando sonhei e, acima de tudo, acreditei que seria possível me tornar escritor, eu imaginava que minha alma, através da minha poesia, viajaria o mundo ao encontro de muitos corações. Me via sentado numa rede na varanda, uma garrafa de café no chão, uma pequena máquina de escrever em cima de um tamborete, e no teco-teco de cada letra no papel, espalhar poesia pelo mundo. Achei que minha alma viajaria muito, mas meu corpo não.
Acontece que comecei a ser convidado para ministrar palestras em todo o Brasil e fora dele. A poesia me permitiu conhecer cada canto deste país tão grande e sua gente, maior ainda. Como nosso povo é grande! Grande em cultura, história, coragem, inteligência e, principalmente, grande em esperança.
Não importa a quantidade de gente que esteja na plateia. Acabou a palestra, pode fazer a fila que recebo todos, bato retrato, dou autógrafos, abraço e cheiro cada uma daquelas pessoas que me querem tão bem. Já cheguei a ficar seis horas seguidas atendendo o pessoal depois de um evento.
Esse contato, além das telas frias de celulares, tablets, computadores e TVs, me permitiu sentir na pele o bem que a poesia tem feito às pessoas. A cada selfie, uma história; a cada autógrafo, um abraço tão sincero, sorrisos, lágrimas, tantas emoções misturadas.
Quando lancei Poesia que transforma, escolhi esse título por ter convicção do poder transformador da poesia em nossas vidas. Digo “nossas” porque eu mesmo fui transformado pela poesia, e desde então soube que era realmente possível transformar. Passar de transformado a transformador.
O livro se tornou um fenômeno e o vento quente do sertão espalhou pedaços de minha alma por todo canto.
Sei que milhões de pessoas me assistem toda semana na TV, sei que meus poemas se tornaram virais nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, mas foi nas sessões de autógrafos de Poesia que transforma que pude realmente entender o significado da minha poesia para esse povo. Olhando nos olhos de cada uma daquelas pessoas que, pacientemente, resistiam às filas gigantescas que não cabiam nas livrarias, ouvindo a voz ao pé do meu ouvido, abraçando e sentindo o cheiro de cada leitor.
Eu já havia começado a escrever este livro e estava matutando no título. Queria que fosse algo simples e sincero, mas que traduzisse toda a intenção que existe dentro de cada poema que escrevo. Num caderninho eu anotava toda ideia que surgia e que poderia virar nome do meu novo filho. Até que, em uma dessas filas gigantescas, uma senhora de lenço na cabeça e cabelos brancos me abraçou com uma ternura que fez com que eu me sentisse nos braços de minha vó Maria, e disse:
– Meu filho, você está sempre em minhas orações. Cada palavra sua é um carinho na alma da gente.
E foi ali, dentro daquele abraço de vó, que este livro foi batizado.
Espero que cada palavra, da primeira até a derradeira página, também seja pra você um carinho na alma.